O primeiro-ministro disse que ninguém pode garantir que não se volta atrás no desconfinamento, sublinhando que o Governo adotará “em cada momento as medidas que se justifiquem perante o estado da pandemia”.
“Se alguém pode garantir [que não se volta atrás no desconfinamento]? Não, creio que nem o senhor Presidente da República seguramente o pode fazer, nem o fez”, sublinhou António Costa.
Marcelo Rebelo de Sousa declarou que, no que depender do Presidente, não haverá “volta atrás” no processo de desconfinamento, e deu a Feira da Agricultura de Santarém como exemplo do “virar de página”.
“Já não voltamos para trás. Não é o problema de saber se pode ser, deve ser, ou não. Não vai haver. Comigo não vai haver. Naquilo que depender do Presidente da República não se volta atrás”, afirmou, Marcelo Rebelo de Sousa.
Reagindo às declarações de Marcelo Rebelo de Sousa que, no domingo, sublinhou que, no que depender dele, não haverá “volta atrás” no processo de desconfinamento, António Costa disse que crê que as palavras do Presidente da República são “subscritas por 100% dos portugueses”.
“Não há qualquer português que possa dizer que deseja que haja um volte face no desconfinamento. Creio que 100% dirão aquilo que o senhor Presidente da República disse, que é: ‘ninguém deseja que não haja desconfinamento’”, apontou António Costa.
Considerando assim “extremamente perigoso desvalorizar a gravidade da situação”, o chefe do Governo relembrou que, “nas últimas semanas”, o número de novos casos tem vindo “sistematicamente” a aumentar em Portugal, o que mostra que “não está a haver o ajustamento adequado dos comportamentos”.
“Portanto, nós temos que fazer e manter um grande esforço e disciplina, para manter essa adequação de forma a evitar situações que são obviamente situações de risco”, apontou António Costa.
Apelando assim a que “cada um” adote “os comportamentos corretos de forma a que as coisas possam evoluir bem”, o primeiro-ministro referiu que a posição do Governo “é simples”, e consiste em adotar “em cada momento as medidas que se justifiquem perante o estado da pandemia”.
“Sempre que é possível aliviar as medidas restritivas, aliviamos as medidas restritivas porque, obviamente, a regra deve ser a da liberdade. Sempre que a evolução da pandemia nos imponha restringir qualquer movimento ou qualquer atividade, nós não deixaremos de o fazer porque, obviamente, o primado da saúde tem de prevalecer sobre tudo o resto”, concluiu António Costa.
Portugal poderá estar “a caminho” de ser um dos países da União Europeia “com maior incidência” de casos de covid-19 devido à variante Delta do SARS-CoV-2, disse esta quarta-feira à Lusa o matemático especialista em epidemiologia Óscar Felgueiras.
O investigador da Universidade do Porto, afirmou que “Portugal está a caminho de ser um dos países com maior incidência na União Europeia”, considerando, no entanto, que o “impacto hospitalar” do crescimento do número de casos será moderado pela vacinação.
“Não só vamos ultrapassar a média europeia, como vamos ultrapassar a maior parte dos países da União Europeia. Vai ser rápido, mais uma ou duas semanas estamos à frente de quase todos os países”, salientou o especialista, lembrando que o país está “bastante exposto” à variante Delta do SARS-CoV-2, associada à Índia.
“Temos aqui algumas forças em conflito”, disse, referindo-se ao processo de vacinação, ao desconfinamento, à mobilidade da população e à nova variante, que “está a ganhar rapidamente prevalência [em Portugal] e que tem um impacto muito grande na incidência”, contrariamente aos países do centro e leste europeu.
Questionado sobre se o aumento da taxa de incidência justificaria um retrocesso nas medidas de desconfinamento, Óscar Felgueiras afirmou que “é mais uma questão política do que propriamente de saúde pública”.
“Do ponto de vista da saúde pública, estamos numa situação que é de claro agravamento, mas também sabemos que com o efeito das vacinas, o impacto hospitalar é provavelmente menor do que aquele que foi no passado, nomeadamente, em termos de óbitos e de internamentos”, justificou. De acordo com o especialista, a nova variante terá “tendência a alastrar” alicerçada no comportamento da população que tem sido “incompatível” com o controlo de novos contágios.