Para o candidato do PSD a Monchique, os concelhos do interior são os mais esquecidos por parte dos governos e a pandemia veio acentuar ainda mais os desequilíbrios sociais já existentes. E reclama políticas de apoio ao investimento, às famílias e às empresas atingidas pela crise.
Nas próxima eleições autárquicas, o que significa para si um bom e um mau resultado e quais são as suas expectativas?
Ganhar a Câmara Municipal, a Assembleia Municipal e as três Juntas de Freguesia será um resultado excelente. Não conseguir estes objetivos seria sempre visto na minha equipa como um mau resultado, sobretudo ao nível da Câmara e da Assembleia. Temos muitas esperanças de conseguir vitórias para a Câmara Municipal e a Assembleia Municipal, e também de vitórias pelo menos em duas Juntas de Freguesia.
A candidatura de José Chaparro à frente de uma lista do CDS, pode dispersar os votos do campo social-democrata e assim vir a ter influência no resultado final, ou nem por isso?
Nas eleições autárquicas, e focando-me apenas na realidade de Monchique, a ideologia política não assume um peso tão significativo como em eleições nacionais, nomeadamente as da Assembleia da República e da escolha do primeiro-ministro para formar o Governo. Acredito que em Monchique os eleitores irão votar primeiro nos candidatos, só pensando depois no partido ou no movimento. Não me parece que haja um verdadeiro campo social-democrata. Todos os votos que não sejam na minha candidatura podem dificultar o objetivo final, que é a vitória.
Politicamente, reprovamos a posição do vereador Chaparro (…) virou-se com quem lhe deu a mão
O que é que faltou para evitar esta rutura com um vereador do PSD e de Rui André?
Politicamente, reprovamos a posição do vereador Chaparro, que foi eleito na lista do PSD e posteriormente se tornou militante do Partido. Mais recentemente, quando decidiu que queria ser candidato à Câmara Municipal, virou-se com quem lhe deu a mão, quando durante três anos tinha apoiado incondicionalmente o Executivo do presidente Rui André. Tudo mudou de repente e no último ano tornou-se um crítico acérrimo do PSD e do presidente. Mas o que é realmente curioso é que, não concordando com o Executivo de que faz parte, não renuncia aos pelouros que lhe foram atribuídos, o que implicaria ficar sem o ordenado e sem o jeep do Município que utiliza no dia-a-dia.
Se ganhar a Câmara em que é que a sua gestão vai fazer a diferença da política de 12 anos do ainda presidente?
Cada pessoa, como cada equipa, tem um modo de ser e de estar diferente de quem assumiu os cargos anteriormente. Em termos da gestão, a nossa visão é de que a Câmara Municipal, sendo uma entidade pública, deve ser gerida de forma empresarial. Isto significa que além de sermos eficazes, ou seja, de fazermos o que está certo, teremos de ser eficientes, quer dizer, teremos de fazer de forma adequada, procurando uma otimização dos recursos. A nossa presença na Câmara vai traduzir-se num relacionamento mais efetivo com os munícipes, atento às necessidades reais das pessoas. E toda a nossa atividade estará acessível, de modo a ser escrutinada a qualquer momento. Queremos desenvolver Monchique, queremos fazê-lo verdadeiramente, e outras forças políticas que venham a ser eleitas, se entenderem, poderão estar envolvidas em toda a atividade municipal.
Que propostas e áreas fundamentais e prioritárias para os próximos quatro anos?
Primeiro, a revisão do Plano Diretor Municipal, o PDM, que é fundamental. Temos de adaptar o PDM às normas dos Planos Especiais de Ordenamento do Território e fazer com que também visem aumentar as possibilidades de construção de infraestruturas de interesse público e de natureza privada, sobretudo ao nível da habitação. Aquilo de que Monchique precisa é de pessoas. Só com pessoas teremos desenvolvimento económico. A nossa equipa irá levar a cabo um programa de rendas acessíveis para famílias de baixos rendimentos, um programa de apoio à reconstrução de casas no centro da vila e, posteriormente, apostará no apoio à construção própria.
Outras questões muito importantes são a reabilitação da Rede Viária Municipal, que contamos concretizar em duas fases ao longo do mandato, e a requalificação dos imóveis que são propriedade do Município, seja reabilitando, requalificando ou mesmo procedendo, nalguns casos, à alineação. Apostamos ainda na modernização e na reorganização dos serviços municipais e, muito importante, na Ação Social: aqui, destaco a Linha Idoso, com um apoio estruturado em rede aos idosos do concelho de Monchique, e a isenção de taxas municipais e de pagamento da frequência da creche para a famílias de baixos rendimentos.
Em Monchique, a equipa que lidero saberá estar à altura dos desafios e intervir de forma a criar condições para a melhoria da vida das pessoas e apoiá-las
Que análise faz à situação de crise económica e social que a pandemia trouxe ao seu concelho? Quais são os sectores mais atingidos e efeitos que esta situação terá para o futuro?
É uma situação grave que muito nos preocupa. O concelho de Monchique, além das atividades relativas à floresta, à agricultura, aos enchidos, ao pouco comércio que ainda consegue manter-se, sobretudo a restauração, vive muito do turismo. E o turismo está na situação que todos conhecemos. Atualmente, vemos meia dúzia de pessoas nas esplanadas e restaurantes. Este é um tempo de grandes desafios, para todos nós. Em Monchique, a equipa que lidero saberá estar à altura desses desafios e intervir de forma a criar condições para a melhoria da vida das pessoas e apoiá-las nas suas necessidades.
Acha que os efeitos da pandemia podem agravar ainda mais, num futuro a curto e médio prazo, as assimetrias entre o litoral e o interior serrano?
As assimetrias poderão ser de facto maiores se o Governo, através do Plano de Recuperação e Resiliência, não tiver em consideração uma realidade que é bastante evidente. Os municípios não podem estar sozinhos neste enorme desafio, sobretudo os do interior, cujas receitas são bem menores. No caso de Monchique, a par do trabalho que iremos desenvolver, é muito importante assegurar que o Plano de Recuperação e Resiliência incluirá medidas com impacto significativo para a melhoria da vida das pessoas, das empresas, dos pequenos negócios locais e das diversas atividades que são a marca do concelho.
Governo pouco ou nada quer saber
Que fazer para evitar isso e fixar as pessoas à sua terra?
A intervenção ao nível da habitação é uma das nossas propostas. Temos como objetivo, neste âmbito, fixar em Monchique pelo menos 20 famílias nos quatro anos do nosso mandato na Câmara Municipal. Famílias de Monchique que morem em Portimão e arredores, ou outras famílias que se queiram fixar no nosso concelho. Para isso, temos de proporcionar condições de vida adequadas para as pessoas escolherem Monchique para morar. Tudo isto não se resume apenas à habitação, mas a uma intervenção mais ampla da nossa parte no sentido de criar efetivas condições de desenvolvimento económico e social em Monchique.
Quanto aos incêndios, mudou alguma coisa com os grande fogos de 2018, e em que medida se pode dizer que a política florestal, de que tanto se falou, contribuiu para evitar a repetição cíclica desta tragédia em Monchique? Vê resultados palpáveis?
Custa-me dizê-lo, mas não vejo nada de palpável. Há um conjunto de intenções e ideias, que continuam sem sair do papel. Parece tudo muito «pensado no global», e entretanto temos uma floresta a desenvolver-se de forma completamente desordenada, por si própria, o que poderá conduzir a uma situação igual à de 2018, ou pior. Há o Programa de Reordenamento e Gestão da Paisagem da Serra de Monchique e Silves, para ser desenvolvido em mais de 20 anos. Não quer dizer que não seja importante, mas precisamos de medidas mais imediatas, de muito curto prazo. Precisamos de ver as coisas a acontecer, no tempo em que vamos vivendo, e não num futuro de promessas. Não podemos passar a cada 10 anos por um incêndio das dimensões catastróficas. Veja-se os milhares de toneladas de madeira queimada que ainda não foram retirados de Monchique, por ausência de resposta do Governo. Acaba por ter de ser o Município a ajudar na despesa de transporte dessa madeira queimada. Este triste exemplo dos incêndios reforça o imperativo da descentralização do Estado. Se não forem Executivos Municipais a tomar conta dos seus, ou seja, a ajudar as suas pessoas em cada concelho, a situação torna-se particularmente complicada. O que percebemos é que o Governo pouco ou nada quer saber, e isso é ainda mais notório nos concelhos do interior, para os quais não há políticas de coesão social eficientes. Os Municípios terão as suas estratégias de coesão social, mas não têm ainda o suporte financeiro de que precisam. A coesão social para concelhos de interior deve ser vista como um investimento a médio e longo prazo, e nunca como um custo. Da nossa parte, em Monchique, procuraremos sensibilizar os governantes a nível central para esta situação.