José Carlos Rolo, do PSD, e Ricardo Clemente, do PS, são os entrevistados do POSTAL. No âmbito das eleições autárquicas temos vindo a recolher a opinião de alguns candidatos aos municípios, onde, na nossa opinião, existem mais fortes possibilidades de mudança. Importa referir que, para Albufeira, um dos mais importantes concelhos algarvios, já tínhamos recolhido a opinião do antigo presidente Desidério Silva, que agora se apresenta como independente.
Chegou o momento da mudança, as pessoas são soberanas mas sinto que estão atentas
Candidata-se pela segunda vez e acredita que, 20 anos depois, o PS vai voltar ao poder em Albufeira. Para Ricardo Clemente, chegou o momento da mudança e embora saiba que a soberania reside no voto, considera que as pessoas estão atentas. Na sua opinião, o atual poder autárquico está esgotado e sem soluções para os novos problemas com que a sociedade se confronta.
P – Tendo em conta os resultados de há quatro anos, quais são agora as suas expectativas?
R – Na oposição fizemos um trabalho de proximidade com as pessoas. É com prova dada, com base no trabalho desenvolvido que lançamos esta candidatura. Chegou o momento da mudança. Aceitaremos humildemente o resultado. As pessoas são soberanas, mas sinto que estão atentas.
P – Que avaliação faz da gestão do actual presidente, José Carlos Rolo neste mandato em que substituiu a meio, o presidente eleito?
R – No início deste mandato havia cerca de 86 milhões em saldo orçamental, agora restam cerca de 45 milhões. Não se percebe onde foram gastos, porque o concelho piorou! As pessoas estão a sofrer com esta pandemia e as respostas sociais não aparecem. Os equipamentos de saúde pública são degradantes. Não há habitação a custos suportáveis, logo as pessoas não se conseguem fixar no concelho. Os lares para a terceira idade são insuficientes. O turismo continua a ser a monocultura. Não se fez nada para diversificar a atividade económica ou criar maior valor acrescentado no setor do turismo. O espaço público está degradado. A arborização continua por fazer. Há poucas ciclovias e as que há não estão interligadas. A gestão eficiente da água não se faz. Temos um concelho que não está preparado para as alterações climáticas. Considero que estes últimos 4 anos foram uma oportunidade perdida. Albufeira regrediu.
P – O PSD está à frente da Câmara de Albufeira, vai para 20 anos. Mérito do PSD e dos seus candidatos ou falta de capacidade para a oposição do PS em constituir-se como alternativa credível?
R – O PSD nestes últimos 20 anos preocupou-se mais em manter-se no poder do que servir as pessoas. As pessoas acreditaram num modelo de desenvolvimento que lhes prometia facilidades, só que isso não é sustentável, muito menos em tempos de crise. As pessoas sentem-se frustradas e muitas estão a sofrer as consequências dessas más decisões.
P – Em que medida a crise da pandemia sobre a economia e o emprego vai refletir-se nos resultados eleitorais?
R – As pessoas já perceberam que é necessária uma mudança e essa perceção já existia antes da pandemia. Os políticos que nos conduziram a este beco sem saída não nos vão conseguir tirar dele, porque há um vazio de ideias novas. Propõem-se usar as mesmas respostas para problemas totalmente diferentes. A pandemia veio evidenciar as fragilidades do Sr. Presidente da Câmara, mormente a incapacidade para dar respostas eficientes e eficazes aos problemas que diariamente surgem.
As pessoas estão a sofrer com a pandemia e as respostas sociais não aparecem
P – Está certamente preocupado com os efeitos económicos e sociais da pandemia em áreas fundamentais como a hotelaria, restauração e emprego. Se tivesse que atribuir uma nota de 1 a 10 ao Governo na gestão da crise, que avaliação faria?
R – O Governo tem feito aquilo que pode, de acordo com as regras europeias e as informações de que dispõe. Não seria justo valorar o trabalho do Governo porque a gestão local da pandemia passa sobretudo pelas autoridades locais, que deveriam ter acautelado os interesses das populações.
P – E localmente acha que o PSD tem feito o que devia, ou devia ter feito mais? Quer dar uma nota de avaliação?
R – O Sr. Presidente andou preocupado em mostrar alcatrão, luzes de Natal extravagantes, sem turistas, aviões a preços de luxo e outras medidas populistas, que costumam dar nas vistas em ano de eleições. Esqueceu-se completamente da realidade social, das dificuldades reais das pessoas. Há muito tempo que vínhamos alertando o Sr. Presidente da Câmara que a falta de fiscalização, ou a fiscalização direcionada para determinados setores de atividade, iria trazer dissabores, infelizmente tivemos razão.
P – No que respeita ao futuro, que propostas tem para os próximos quatro anos para o concelho?
R – Em primeiro lugar vamos acudir às pessoas em sofrimento, essa é a nossa grande prioridade. Não vamos deixar ninguém para trás. A saúde é uma prioridade para nós. Não é possível dinamizar a economia com uma saúde débil, é fundamental dar a todos acesso aos cuidados de saúde primários em instalações que dignifiquem o utente e quem lá trabalha.
A diversificação do emprego é também prioritária! Vamos implantar atividades económicas alternativas, que podem e serão complementares ao turismo, mas que não sejam dependentes dele. O objetivo estratégico é criar outro tipo de empregos, mitigando também os efeitos da sazonalidade da atividade económica. A transição digital e o desenvolvimento tecnológico são duas oportunidades que vamos agarrar. A biotecnologia azul (marinha) é uma indústria não poluente, de alto valor acrescentado. Vamos implantar esse tipo de indústria em Albufeira. Vamos trazer conhecimento, alimentá-lo e valorizar o concelho, diversificando o tecido económico. Já efetuámos contatos estratégicos com entidades públicas e privadas, nacionais e estrangeiras, na área da Inovação e Desenvolvimento Tecnológico, sendo que com muitas delas já temos pré-acordo. A habitação é uma questão fundamental para nós. Não há habitação a custos controlados em Albufeira! Vamos finalmente resolver esse problema!
Outra vertente muito importante é o ambiente. Vamos apostar em projetos na área da descarbonização, da circularidade da economia e dos serviços dos ecossistemas. Vamos ter um concelho amigo do ambiente, com uma forte aposta na indústria do mar. Albufeira praticamente não tem árvores no espaço público, um fator determinante para a qualidade do ar. Sabemos que as árvores são fundamentais, não só para o equilíbrio dos ecossistemas, da vida animal, mas acima de tudo constituem importante fator de equilíbrio térmico, acústico, bem como forma de correção de alguns erros urbanísticos. Vamos arborizar o concelho.
O Algarve tem escassez de água. Temos as soluções para este problema sério. Albufeira vai ser pioneira no reaproveitamento da água residual tratada e tem todas as condições para ser pioneira, ao nível do continente, na implementação da dessalinização. A descarbonização é outro projeto que pode contribuir positivamente para o ambiente e para o combate às alterações climáticas, onde pode ter papel relevante o plano de mobilidade. Na área da educação tenho na minha equipa dois professores, por isso, estamos completamente à vontade nessa matéria, principalmente na identificação dos problemas e na melhor forma de os resolver, deixando, obviamente, a componente pedagógica para quem melhor entende do assunto: os professores.
É necessário valorizar o trabalho fundamental do professor e ter escolas de qualidade. Vamos criar as condições para que a comunidade artística de Albufeira seja a voz determinante na animação do concelho. É importante que a comunidade participe.
O presidente tinha obrigação de antecipar cenários
P – Como é que pensa convencer os eleitores que há quatro anos não se reviram na sua candidatura, para levá-los agora a votar em si e no PS?
R – Os Albufeirenses devem votar em nós, primeiro, porque temos um real compromisso com as pessoas, segundo, temos um Plano Estratégico Integrado para o concelho, terceiro, vamos efetivamente dar um novo rumo a Albufeira, quarto, temos uma equipa jovem, dinâmica, competente, com vontade e capacidade para executar esse plano. Um concelho, quatro freguesias, uma equipa e uma visão: Fazer renascer Albufeira!
Taxa de incidência de covid-19
P – A Assembleia Municipal de Albufeira pediu a revisão dos critérios para o cálculo da taxa de incidência de covid-19. Acha que pode estar a haver manipulação de dados com fins políticos?
R – Não acho isso. O que eu sei é que o Sr. Presidente da Câmara tinha obrigação de antecipar cenários e preparar o concelho. Não o fez. Agora vem lamentar-se, mas o mal já está feito.