Pois é verdade, a mais comum das perturbações gastrintestinais dá pelo nome de prisão de ventre ou obstipação. É o problema de saúde que se manifesta pela diminuição da frequência de defecação ou mesmo pela dificuldade de evacuar devido à consistência das fezes excessivamente duras: evacuações incómodas, com a sensação persistente de mal-estar e desconforto, havendo em tais casos, por vezes, a necessidade de recorrer a medicamentos para ajudar à evacuação.
Na esmagadora maioria dos casos, este problema deve-se a erros habituais do estilo de vida, mormente por: fraca ingestão de alimentos com fibras, uma insuficiente ingestão de água, o abuso de alimentos sem resíduos, a falta de atividade física e (surpreenda-se, o leitor) o abuso de laxantes.
Entendamos as causas da prisão de ventre. As fezes constituem-se pela parte dos alimentos não assimilada, maioritariamente composta por fibras, e que possui a capacidade de absorver água existente no intestino, contribuindo para fezes mais volumosas e moles, é por isso que a prevenção está no estilo de vida saudável. Mas, atenção, a prisão de ventre, em casos minoritários, pode ficar a dever-se a um conjunto de doenças e até à toma de certos medicamentos. É o que se passa com doenças neurológicas (caso da esclerose múltipla ou da Parkinson), doenças metabólicas (é o caso da diabetes, do hipotiroidismo ou da insuficiência renal); mas também as doenças do intestino ou do ânus podem contribuir para a prisão de ventre.
Há também medicamentos que podem favorecer a obstipação: os antiácidos (cálcio e alumínio, por exemplo), medicamentos para as cólicas, anticonvulsivantes, alguns antidepressivos, analgésicos, a lista é enorme, não esquecer os próprios laxantes (porque eliminam todos os resíduos intestinais).
Há diferentes causas para a obstipação crónica (quando a duração é superior a três meses), pode dever-se a maus hábitos alimentares e a vida sedentária e também à indisciplina da ida às casas de banho. A prisão de ventre não escolhe idades, há casos que merecem mais preocupação. Falemos da mulher. Durante o período menstrual, pode ter uma prisão de ventre ligeira de origem fisiológica; durante a gravidez, a prisão de ventre é igualmente frequente, devido, simultaneamente, à secreção de hormonas e à compressão exercida pelo útero. Mas podíamos também falar das crianças e dos idosos, têm as suas especificidades.
Avaliada a situação por um profissional de saúde, temos a terapêutica não farmacológica (alimentos ricos em fibra, a ingestão diária de cerca de dois litros de líquidos, fazer exercício de forma regular, procurar evacuar sempre que houver vontade) e temos a terapêutica farmacológica, nela predominam os laxantes, que se destinam a corrigir uma situação ocasional, mas o seu uso deve ser sempre temporário.
As situações de longa permanência requerem obrigatoriamente cuidados médicos, a automedicação está totalmente desaconselhada em várias situações como é o caso da doença inflamatória crónica dos intestinos, ou de uma doença grave dos rins, quando se está grávida ou a amamentar; quando a prisão de ventre tem caráter ligeiro (duração inferior a três meses), peça ao seu farmacêutico para colaboração consigo na identificação das causas da prisão de ventre, fale-lhe dos medicamentos que anda a tomar e em que condições deve consultar o médico. Não insista na toma de laxantes: recorde-se de que o seu abuso poderá ser responsável por uma prisão de ventre crónica.
Leia também: Resistência a antibióticos: gravíssimo problema de saúde pública, à escala mundial | Por Mário Beja Santos