Quando os miúdos entraram no carro ainda me perguntaram porque é que eu me estava a rir daquela maneira. Disfarcei o caso e acabei por me escapar à resposta: não me estava a apetecer nada ser alvo das gargalhadas deles.
O que aconteceu foi simples. Mas muito estranho. Enquanto fazia a manobra de estacionamento, cheirou-me levemente a queimado e, para apurar o olfacto, baixei instintivamente a música.
“És mesmo parva! Achas que é por estares em silêncio que vais cheirar melhor?!? Doida…”, brinquei comigo mesma.
Mas, claro, fiquei a pensar naquele instinto que, nesse momento, me pareceu tão descabido. No fundo, embora todos eles se completem, existe por vezes uma certa lógica em bloquear uns sentidos para intensificar os outros. Se fechar os olhos exponencia o sentir de uma carícia ou a percepção de certos sons, porque é que bloquear a audição não há-de melhorar o olfacto? Além do mais, no que toca aos sentidos, o instinto costuma ser um credível e ancestral mestre.
Mas o que de mais interessante entendi foi que, ao bloquear o negativo sentido crítico, activamos outros melhores, como os de aprendizagem e novos encantamentos.
* Escritora
www.anaamorimdias.blogspot.com