O mais recente Relatório do Estado do Ambiente (REA) de 2024, divulgado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), apresenta-nos um retrato complexo do estado ambiental do nosso país. Enquanto celebramos progressos significativos em determinadas áreas, somos também confrontados com desafios persistentes que exigem ação imediata.
Por um lado, é encorajador observar o impressionante aumento da área agrícola em produção biológica, que triplicou nos últimos cinco anos, atingindo 759.977 hectares em 2022. Este crescimento demonstra um compromisso crescente com práticas agrícolas sustentáveis e uma resposta positiva às exigências ambientais e de saúde pública. A par disso, a produção aquícola aumentou 5,3% em 2021 face a 2020, sinalizando um desenvolvimento promissor deste setor.
O crescente interesse pela natureza é outro ponto positivo. Em 2023, quase 398 mil pessoas visitaram áreas protegidas, um aumento de 4,5% em relação a 2022. Este envolvimento reforça a importância da conservação da biodiversidade e do uso sustentável dos ecossistemas, fundamentais para o nosso bem-estar e para as gerações futuras.
O balanço ambiental atual revela avanços significativos e desafios persistentes. No Algarve, a erosão costeira e a seca extrema evidenciam a necessidade urgente de novas ações ambientais eficazes
No âmbito da energia e clima, Portugal continua a dar passos firmes. As emissões de gases com efeito de estufa diminuíram 26,3% em 2022 face a 1990 e 43,7% face a 2005. Além disso, 61% da energia elétrica produzida em 2022 teve origem em fontes renováveis, evidenciando o potencial do país em liderar a transição energética.
Contudo, não podemos ignorar as áreas onde os resultados estão aquém do desejado. A produção total de resíduos urbanos aumentou 0,7% em 2022, correspondendo a 1,4 quilos diários por habitante. A taxa de reciclagem de resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos atingiu apenas 27% em 2021, muito abaixo da meta de 65%. Estes números sublinham a necessidade urgente de melhorar a gestão de resíduos e de promover uma maior consciência ambiental.
A problemática do lixo marinho é igualmente alarmante. Para cumprir os limites estabelecidos pela União Europeia, Portugal terá de reduzir em 95% a quantidade de lixo presente nas praias, onde 95% dos resíduos são polímeros artificiais, principalmente plásticos. Este desafio exige uma resposta coordenada de todos os setores da sociedade.
Os riscos ambientais também se intensificam. A erosão costeira afeta 415 quilómetros do litoral, com uma perda de 13,5 km² de território entre 1958 e 2023. No Algarve, esta realidade tem impacto direto na economia local, fortemente dependente do turismo.
Adicionalmente, a suscetibilidade à desertificação aumentou 22% entre 1960 e 2010, com 58% do território continental em risco. Em 2023, o Baixo Alentejo e o Algarve enfrentaram seca meteorológica durante todo o ano, com períodos de seca severa a extrema entre abril e agosto. Estes fenómenos, aliados ao facto de 2023 ter sido o segundo ano mais quente desde 1931, são um alerta claro sobre as consequências das alterações climáticas.
A qualidade do ar permanece uma preocupação, com níveis de dióxido de azoto a excederem os valores limite em Lisboa e Entre Douro e Minho. Além disso, apenas metade das massas de água atingiu um bom estado em 2021, indicando desafios persistentes na gestão dos recursos hídricos.
Perante este panorama, que balanço ambiental podemos fazer à data de hoje? É evidente que Portugal tem feito progressos notáveis em áreas cruciais, mas os desafios que persistem não podem ser ignorados. É fundamental que autoridades, empresas e cidadãos unam esforços para consolidar as conquistas alcançadas e enfrentar os problemas que persistem. O futuro ambiental do nosso país depende das decisões e ações que tomarmos agora.
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