O envelhecimento, ao longo da história, tem sido alvo de grande debate e investigação, geralmente associado à velhice e à doença. Este paradigma tem evoluído e temos assistido, ultimamente, ao surgimento de iniciativas e projetos no âmbito do envelhecimento saudável e a importância que a atitude e comportamento de cada individuo tem na sua saúde, dignidade e bem-estar.
Nos últimos tempos, infelizmente, nas sociedades contemporâneas, regista-se a consolidação do idadismo, ou seja, o preconceito e discriminação de pessoas com base na sua idade, que persistem em ver os idosos como “incompetentes” e “doentes”, tornando-os invisíveis aos olhos da sociedade, originando um sentimento de exclusão nestas pessoas em diferentes áreas, tanto na vida profissional como nas próprias relações sociais, com graves prejuízos para a sua saúde psicológica e física.
Torna-se imperioso e urgente combater este terrível preconceito, consciencializando a opinião pública para o idadismo, no sentido que este representa uma afronta aos direitos humanos mais significativos, à semelhança de outros mais presentes e falados, como o racismo e o sexismo.
A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o período de 2021 a 2031 como a década do envelhecimento saudável, tendo como objetivos “mudar a forma como as pessoas pensam, sentem e agem em relação à idade e ao envelhecimento; facilitar a capacidade dos idosos de participar e contribuir com suas comunidades e sociedade; prestar atenção integrada e serviços de saúde primários que atendam às necessidades do indivíduo; e prover acesso a cuidados de longa duração para pessoas idosas que deles necessitem”.
Ao longo dos anos, e cada vez mais, as pessoas terão necessidades psicológicas e físicas que exigirão cuidados especializados. Será necessário melhorar a sua qualidade de vida para que permaneçam ativos e socialmente conectados. É premente a presença da Psicologia e da Psicogerontologia no processo de envelhecimento, visando o bem-estar e a qualidade de vida dos idosos e dos seus cuidadores, contribuindo para a inclusão e diminuição dos problemas de saúde físicos e psicológicos.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística, entre 2018 e 2080, o índice de envelhecimento (IE) em Portugal quase duplicará, passando de 159 para 300 idosos por cada 100 jovens, em resultado do decréscimo da população jovem e do aumento da população idosa. Em 2021, de acordo com o registado no site da Pordata, o IE encontrava-se em 182 (valor provisório).
Os/as Psicólogos/as são profissionais qualificados para ajudar numa melhor qualidade de vida dos idosos, e estimular mudanças de comportamento da população geral ao longo do seu ciclo de vida, permitindo um envelhecimento mais saudável.
A Ordem dos Psicólogos Portugueses lançou em 2019 a campanha “Comunidades Pró-Envelhecimento”, com o objetivo de reconhecer e distinguir as comunidades portuguesas, cujas políticas, programas, planos estratégicos e práticas demonstravam um compromisso forte e efetivo com a promoção do envelhecimento saudável e bem-sucedido ao longo de todo o ciclo de vida, sendo atribuído um “selo” Comunidade Pró-Envelhecimento. A abertura das inscrições para a edição 2021/2022 será anunciada brevemente. https://www.comunidadesproenvelhecimento.org/
O envelhecimento é inevitável! Aliás, ele começa logo à nascença. Importa, pois, preparar e sensibilizar a sociedade e as pessoas para a necessidade de uma vivência positiva e preventiva, sabendo-se que a nossa atitude e comportamento ao longo da vida influencia a qualidade da nossa vida numa idade mais avançada.
É importante fomentar e estimular as nossas relações sociais, elas são muito importantes para a nossa estabilidade emocional, satisfação com a vida e protege-nos de problemáticas de saúde física e psicológica. Tome a iniciativa, no sentido de estar conectado com os seus familiares e amigos.
Se tiver disponibilidade, ligue-se à sua comunidade, fazendo parte de organizações com objetivos bem definidos ou instituições políticas, desportivas, culturais ou outras. O sentimento de integração e de pertença a um grupo e de conexão com o mundo ao seu redor aumenta a sua auto-estima, segurança e bem-estar.
Não descure o seu autocuidado, descanse, efetue pausas no trabalho e realize atividades prazerosas que o deixem satisfeito e relaxado. Esteja atento ao seu corpo e à sua mente, estes transmitem-lhe sinais de quando deve mudar ou parar a sua rotina.
Não pare de conhecer e aprender, estimulando o cérebro, independentemente da idade, conheça sítios novos, aprenda línguas, adquira novos conhecimentos e competências. De certeza que já pensou que devia conhecer este ou aquele país ou região, ou que gostava de aprender algo. Está na hora de passar do pensamento à ação.
Adote um estilo de vida saudável, escolha alimentos saudáveis, modere o consumo de bebidas alcoólicas, faça desporto regularmente, crie e mantenha bons hábitos de sono e não se esqueça de realizar a vigilância da sua saúde, efetuando análises e exames periódicos.
A partir de um certo momento das nossas vidas, é normal começarmos a confrontar-nos com o nosso processo de envelhecimento e com o fim da nossa vida e sentimos necessidade de falar sobre essas questões. Como será a minha reforma? E se eu adoecer? Vou ficar dependente e incapacitado? Como vou lidar com a morte de familiares? São questões que nos levam ao significado da nossa vivência enquanto seres humanos e que nos podem trazer tristeza, medos, preocupações e ansiedade. Se necessário peça ajuda. https://eusinto.me/problemas-de-saude-psicologica/encontre-uma-saida/
Apesar do nosso comportamento ter um papel preponderante na qualidade do nosso envelhecimento, existem variáveis que vão surgindo com o avançar da idade das quais não temos controlo. Nesse caso, é importante trabalharmos a aceitação da realidade, numa perspetiva real que só podemos mudar o que depende de nós e focarmos a nossa energia naquilo que podemos fazer para melhorar o nosso envelhecimento. Ter uma atitude positiva é a base e a alavanca para um maior investimento nas relações sociais, incremento da resiliência, mais satisfação e diminuição dos fatores de risco associado às doenças.
No mundo do trabalho, existe a tendência para surgirem conflitos inter-geracionais. Muitas vezes, os mais jovens, com a sua energia e vitalidade, pensam que os trabalhadores de mais idade são lentos a efetuar as tarefas e fazem tudo à maneira antiga; por outro lado, os mais antigos, acham que estes só querem fazer as coisas depressa e não respeitam a sua idade e experiência.
Nestes casos, os psicólogos são chamados a potenciar este trabalho em equipa e as suas mais valias, procurando um equilíbrio entre a energia e espírito inovador dos jovens, com a experiência, sabedoria e bom senso dos mais velhos na função, criando um bom ambiente de trabalho e contribuindo para um envelhecimento ativo e saudável.
Os cidadãos seniores, podem manter a sua saúde psicológica, vivenciando a vida com significado e realização, contribuindo imenso para a sociedade, com a sua experiência e sabedoria, enquanto trabalhadores ativos, membros de uma família ou de uma comunidade.
Um envelhecimento saudável, passa por temos a noção da nossa responsabilidade individual, começando desde cedo a tomar as melhores decisões e ações quotidianas para uma boa saúde psicológica e física.
* Vogal da Delegação Regional do Sul da Ordem dos Psicólogos Portugueses