A crescente escassez de médicos de família em Portugal, e em particular no Algarve, transformou-se numa crise de saúde pública que não pode ser ignorada. Os dados recentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) são alarmantes: o número de pessoas sem médico de família atribuído aumentou cerca de um milhão nos últimos cinco anos, situando-se agora em mais de 1,6 milhões de utentes. Este aumento reflete uma situação grave que compromete não só a qualidade dos cuidados de saúde, mas também a eficácia do nosso sistema de saúde como um todo.
No Algarve, esta carência é ainda mais sentida. A região, que já enfrenta desafios únicos devido à sua geografia e ao aumento sazonal da população, vê-se agora numa posição ainda mais delicada com a falta de profissionais médicos essenciais. A saúde dos algarvios está em risco, e a situação exige uma resposta urgente e eficaz.
Quase diariamente, chegam-nos relatos de utentes do Serviço Nacional de Saúde à redação do Postal do Algarve, denunciando a falta de acesso a cuidados básicos de saúde
O Governo tem tentado responder a esta crise com medidas como a criação de unidades de saúde familiar modelo C e a abertura de cerca de 900 vagas para medicina geral e familiar. No entanto, estes esforços têm-se mostrado insuficientes face à magnitude do problema. A burocracia e a lentidão no processo de colocação de médicos têm agravado a situação, deixando muitos cidadãos sem acesso a cuidados primários essenciais.
O papel do médico de família é fundamental no sistema de saúde. Estes profissionais não só tratam de problemas de saúde comuns e gerem doenças crónicas, como também desempenham um papel crucial na prevenção de doenças e na promoção de estilos de vida saudáveis. Sem um médico de família, muitos cidadãos ficam privados de um acompanhamento contínuo, o que pode levar a diagnósticos tardios e a um maior risco de complicações em saúde.
Além disso, a falta de médicos de família sobrecarrega outros serviços do SNS, como as urgências hospitalares, onde muitos acabam por recorrer devido à falta de alternativas. Isto não só aumenta os custos para o sistema de saúde como também compromete a qualidade do atendimento, criando um ciclo vicioso de saúde deficiente e resposta ineficiente.
O Algarve precisa de uma solução específica para a sua realidade. É imperativo que as autoridades regionais e nacionais colaborem para desenvolver e implementar estratégias que atraiam e retenham médicos de família na região. Isto pode incluir melhores condições de trabalho, incentivos para prática em áreas carenciadas e a melhoria das infraestruturas de saúde.
É também essencial que o SNS promova uma maior eficiência e transparência nos processos de contratação e colocação de médicos. A agilização dos concursos e a desburocratização dos processos podem ser passos decisivos para resolver este impasse. Ademais, é importante que o governo preste mais atenção às vozes dos profissionais de saúde na formulação de políticas, garantindo que as medidas adotadas sejam verdadeiramente eficazes e ajustadas à realidade dos cuidados de saúde primários.
O Algarve não pode esperar mais. A saúde dos seus cidadãos deve ser a prioridade máxima. As autoridades devem agir agora para garantir que cada cidadão tenha acesso ao médico de família que lhe é devido. É uma questão de direito básico à saúde e de justiça social que não pode ser adiada.
Quase diariamente, chegam-nos relatos de utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) à redação do Postal do Algarve, denunciando a falta de acesso a cuidados básicos de saúde. A ausência de médicos de família tem deixado milhares de algarvios desprotegidos, forçando muitos a recorrer às urgências hospitalares para resolver problemas de saúde que deveriam ser tratados em consultas de rotina. Esta situação cria uma sobrecarga insustentável nos serviços de urgência, aumentando os tempos de espera e comprometendo a qualidade do atendimento prestado.
As queixas dos utentes refletem um problema estrutural que tem vindo a agravar-se ao longo dos anos. A falta de médicos de família no Algarve coloca em causa o princípio fundamental do SNS: a garantia de acesso universal e equitativo aos cuidados de saúde. O problema não é apenas uma questão de número de profissionais, mas também de gestão, de incentivos à fixação de médicos na região e de um planeamento que antecipe as necessidades da população. É urgente que as autoridades de saúde ajam de forma eficaz e célere para resolver esta crise, que afeta diretamente a qualidade de vida e o bem-estar de milhares de residentes no Algarve.
Leia também: Esta é uma das zonas não vigiadas mais perigosas do Algarve e registou 53 salvamentos este verão