A detenção da endocrinologista Graça Vargas, suspeita de emitir receitas falsas para que utentes obtivessem medicamentos antidiabéticos com comparticipação do Estado para fins de emagrecimento, tornou-se o centro de uma investigação que expôs números invulgares no Serviço Nacional de Saúde (SNS). De acordo com a RTP, a médica terá prescrito milhares de embalagens de fármacos indicados para a diabetes, mas administrados a pessoas que não tinham a doença.
A Polícia Judiciária, numa operação conduzida pelo DIAP Regional do Porto, deteve a médica na sua residência no norte do país. Ainda segundo a mesma fonte, os inspetores encontram-se a realizar buscas no consultório onde terão sido emitidas grande parte das receitas agora sob investigação.
Esquema construído em torno de falsas indicações clínicas
O método identificado passava por registar os utentes como diabéticos, permitindo-lhes aceder a medicamentos, como Ozempic, Victoza ou Trulicity com comparticipação pública. Estes fármacos, embora indicados para controlo glicémico, ganharam procura devido aos efeitos associados à perda de peso.
Acrescenta a publicação que a médica terá recorrido sistematicamente ao sistema informático do SNS para validar prescrições em larga escala, criando um padrão que levantou alertas internos. A investigação aponta para um volume de receitas que ultrapassa os 65.000 registos, abrangendo 1.914 utentes.
Montantes que não passaram despercebidos
O valor total das prescrições atingiu cerca de 9,7 milhões de euros, colocando Graça Vargas como a maior prescritora nacional neste segmento terapêutico. Destes montantes, mais de cinco milhões de euros correspondem à comparticipação paga pelo Estado, refletindo o impacto financeiro do esquema.
A farmácia que mais dispensou medicamentos prescritos pela médica encontra-se no Porto, acumulando um valor de cerca de 881.000 euros. As receitas atribuídas a Graça Vargas representavam 9,4% do total de comparticipações processadas naquele estabelecimento, percentagem considerada anómala pelos investigadores.
Consequências e próximos passos
A médica encontra-se agora indiciada por crimes de burla qualificada e falsidade informática. Escreve a RTP que o processo continua em desenvolvimento, com as buscas a prosseguirem de forma a recolher dados clínicos, registos de sistemas e eventuais comunicações relevantes para a investigação.
A análise detalhada das prescrições poderá levar à reavaliação de centenas de processos individuais, uma vez que muitos utentes poderão ter recebido medicamentos comparticipados sem indicação médica válida. As autoridades procuram identificar se houve benefícios económicos adicionais ou outros elementos que agravem o enquadramento criminal.















