Entre os pequenos rituais do quotidiano, poucos são tão universais em Portugal como beber café. Está presente nas pausas do trabalho, nas conversas entre amigos e em quase todas as refeições. Porém, um cardiologista espanhol vem agora alertar que o momento do dia em que a cafeína é consumida pode fazer toda a diferença para a saúde do coração.
No podcast espanhol “Tiene Sentido”, citado pelo jornal espanhol El Confidencial, o médico Aurelio Rojas explicou que a ingestão de café em horários tardios interfere com o funcionamento natural do organismo e pode, a longo prazo, aumentar o risco de problemas cardíacos. O especialista frisa que não se trata de condenar o café, mas de compreender o impacto que o consumo em determinadas horas tem sobre o corpo humano.
Quando beber café deixa de ser inofensivo
Segundo Aurelio Rojas, as pessoas que consomem café mais tarde ao longo do dia têm maior probabilidade de desenvolver complicações cardíacas. A razão está no modo como a cafeína atua sobre o sistema nervoso central, mantendo o organismo num estado de alerta mesmo quando deveria iniciar o seu ciclo de descanso.
O especialista recorda que o corpo segue um ritmo circadiano, ou seja, um relógio biológico que regula o sono, a energia e as funções metabólicas. A cafeína, ao bloquear os recetores da adenosina, a substância responsável por induzir o sono, prolonga artificialmente o estado de vigília, interferindo com os mecanismos de recuperação natural.
Dormir não significa descansar
O cardiologista destaca que “dormir nem sempre significa descanso”. Mesmo quando o sono surge facilmente, a cafeína pode impedir que o cérebro complete as fases mais profundas do descanso, essenciais para regenerar tecidos, equilibrar hormonas e restaurar a energia.
Na prática, de acordo com a mesma fonte, isto significa que uma pessoa pode dormir várias horas e ainda assim acordar cansada, irritável ou com a sensação de fadiga acumulada. A médio prazo, este desequilíbrio pode traduzir-se em maior stress e pressão arterial elevada, dois fatores de risco conhecidos para doenças cardíacas.
Hora ‘certa’ para beber café
Aurelio Rojas aconselha a reservar o consumo de café para a primeira metade do dia, evitando a ingestão após as 15h. Mesmo que o efeito estimulante pareça desaparecer rapidamente, a cafeína permanece ativa no organismo durante várias horas, perturbando o ciclo natural de descanso.
Segundo o mesmo, citado pela mesma fonte, respeitar este intervalo é suficiente para usufruir dos benefícios do café: maior energia, concentração e boa disposição, sem comprometer o sono ou a saúde cardiovascular.
Café sim, mas com equilíbrio
O médico recorda que o problema não é a cafeína, mas o excesso e o momento em que é consumida. Um ou dois cafés por dia, tomados de manhã e acompanhados por uma alimentação equilibrada, não representam risco para a maioria das pessoas saudáveis.
Aurelio Rojas reforça ainda que a verdadeira prevenção passa por um estilo de vida equilibrado, com exercício físico regular, uma dieta variada, gestão do stress e relações sociais saudáveis, hábitos que continuam a ser a melhor proteção para o coração.
Um pequeno gesto com grande impacto
O alerta do cardiologista é simples, refere ainda o El Confidencial: o café deve ser aliado da energia do dia, não inimigo do descanso da noite. Reduzir o consumo nas horas tardias pode parecer uma mudança pequena, mas é um passo essencial para melhorar a qualidade do sono e preservar a saúde cardíaca a longo prazo.