As eleições europeias estão á porta, e no dia 9 de junho os portugueses serão chamados para atribuir o mandato de suas vozes a quem nos representa no palco Europeu. Como tal, nunca é excessivo relembrar que viver é um ato político. Respirar, comer, movermo-nos, abrir os olhos: Tudo atos de participação política.
Feliz ou infelizmente tudo o que nos rodeia, está enquadrado em, e por, contextos políticos. E quem não reconhece ou aceita isso, está em si condicionado por decisões que foram políticas.
Votar é vital para a democracia que sustenta a nossa condição política. É tão necessário e tomado por garantido como respirar na manutenção da nossa condição física
Política é muito mais que partidos, muito mais que lideres, muito mais que interações parlamentares, memorandos, leis e debates. O mundo social em que nos integramos é todo ele um produto de decisões e ações políticas.
Ora vejamos, existem legislações que regulam os espaços onde se pode fumar (o que respiramos), que processos não são nocivos para a produção da comida que ingerimos (o que comemos), que documentação é necessária para estudar num país onde não nascemos (como nos movimentar), e que tipo de publicidade pode existir e onde (o que vemos) – para enumerar apenas alguns exemplos mundanos.
Para chegar a estas (e muitas outras) condutas daquilo que define a nossa maneira de estar e ser neste mundo, todo um processo político teve de se ter desenrolado. E, posto de forma hiper-simplificada, a maneira mais direta que temos para mudar, influenciar, e moldar como podemos existir neste mundo é através do voto, e da subsequente educação e sensibilização daqueles que escolhemos eleger.
Ou seja, apesar de todo o poder que decidimos conceder a quem elegemos, é uma falacia pensar que apenas o ato de votar é suficiente para exercer qualquer influência palpável sobre as vidas que vivemos, e como as vivemos. Isso significaria aceitar que o voto é o único ato político ao nosso dispor, e que os nossos deputados/ministros/presidentes (etc.) são um misto de entidades omniscientes e omnipotentes, perfeitamente dotados de todas as qualidades necessárias para resolver os problemas que nos afetam.
Temos mais poder nas nossas mãos que apenas riscar uma cruzinha num papel depositado numa urna. Temos mais poder que apenas os 15 segundos que esse ato requer de nós.
No meu caso pessoal, o envolvimento com o que poderá ser categorizado como ‘politica’, surgiu de um misto de empatia e inconformismo prático. As minhas várias experiências de vida colocaram-me no papel privilegiado de estar em contacto com um vasto número de indivíduos, em contextos igualmente plurais. Nesse processo, e durante a inevitável jornada para a vida adulta, testemunhei que todos os habitantes desta Terra têm problemas; e ao me encontrar emergido cada vez mais nos meus, apercebi-me também da universalidade do conceito de ‘sofrimento’. Uma realização óbvia, que dita que independentemente dos ‘porquês’ estamos todos mais conectados pelos nossos problemas que pelas nossas vitórias.
Não vivemos em sociedades perfeitas. Como tal, existem largas porções das mesmas que sofrem todos os dias, e com criatividade e empatia suficiente podemos erradicar ou amenizar esse sofrimento. Esta nossa interligação significa também que, ao contribuirmos para a resolução de um problema que aparentemente pertence a outro(s), estamos automaticamente a melhorar as nossas próprias vidas.
Empatia, de forma muito prática, é a capacidade de conseguir imaginar o resultado de uma situação especifica em termos universais. É saber que alguém que raramente sentiu dor física, ao lascar uma unha poderá estar a sofrer tanto ou mais que eu (que ando de skate há mais de vinte anos, e lido com dor física no meu quotidiano) sofri quando parti os dentes; Ou, saber que o desespero e sentimento de perda de um adolescente que terminou o seu primeiro relacionamento e nunca experienciou uma morte na família, é maior e mais difícil de gerir que a morte de uma pessoa que me é próxima – pois desde muito novo que lido com o conceito de luto, tanto a nível de volume como de proximidade.
No que toca ao ‘inconformismo prático’, o mesmo é apenas a noção de que o estado atual do mundo não é necessariamente inalterável, e, consequentemente, temos mais poder sobre as nossas vidas do que pensamos. Posso não afetar de forma muito direta as políticas europeias de gestão de situações de pobreza extrema, mas posso votar em quem o fará no Parlamento Europeu. Isto, enquanto simultaneamente, posso reconhecer e identificar os casos de pobreza extrema que me rodeiam, compreendê-los intimamente, e encontrar mecanismos para os resolver de forma pontual, ou (de preferência) definitivamente.
Todos nós, se respiramos e temos um coração a bater no peito, temos poder, independentemente do quão limitado o mesmo aparente ser. Creio também que todos nós, como agentes políticos – desde o deputado, ao candidato, ao eleitor, e todos os restantes cidadãos –, temos um dever para com os nossos concidadãos de imaginar e empatizar com que significa Ser Humano neste Mundo, de perceber a forma como o nosso sofrimento nos informa acerca dessa nossa Humanidade comum, e como podemos agir na face de situações que nos negam as ferramentas, contextos, e condições necessárias ao exercício pleno dessa nossa Humanidade.
Votar é vital para a democracia que sustenta a nossa condição política. É tão necessário e tomado por garantido como respirar na manutenção da nossa condição física, mas também é importante refletir no que podemos, e devemos, fazer antes e depois do voto e por entre cada suspiro.
* Tem 33 anos, BA Journalism & Media, Birkbeck – University of London, Msc Comparative Politics, LSE – London School of Economics & Political Science. É pesidente & fundador da WallRide Associação, escritor e consultor e interessa-se por Direitos Humanos, Skate, Ler & Escrever, Política.
Viriato Villas-Boas afirma que “gostaria de continuar a trabalhar, através das mais variadas avenidas, para o fortalecimento de comunidades marginalizadas e desprotegidas, e para criar pontes entre os centros de poder e decisão, e quem mais deles precisa”.
Aspira também “continuar um trabalho de desenvolvimento, empoderamento, e literacia das camadas mais jovens e periféricas; assim como continuar a aconselhar os nossos municípios (e outros) em como gerir de forma eficaz a alocação de recursos públicos para o melhoramento de vidas humanas e animais”.
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