A filantropia provém da palavra grega “philanthropía”, procurando expressar um sentimento de humanidade, caridade ou generosidade para com os outros.
No mundo das artes visuais há muitas situações de filantropia, quer por parte de pessoas, quer por parte de empresas ou outras organizações, procurando contribuir em campanhas de angariação de fundos para ajudar causas concretas, sejam sociais, sejam de defesa de animais ou da natureza.
Inclusive, por vezes são colocadas à venda obras de coleções particulares cujas receitas revertem a favor de atividades filantrópicas.
Ainda no final do ano passado, a Christie’s realizou o leilão da coleção de arte de Paul Allen, cofundador da Microsoft. Paul Allen figurou durante 20 anos na lista dos 200 maiores colecionadores divulgada anualmente pelo site ARTnews, desde 1997 até 2018, ano da sua morte. Esta coleção era constituída por mais de 150 obras de artistas que abarcavam 500 anos de história da arte, dos mestres antigos aos impressionistas e à arte moderna e contemporânea, integrando nomes como Boticelli, Renoir, Roy Lichtenstein ou David Hockney.
Este leilão fixou um novo record na casa de leilões Christie’s, tendo as obras sido vendidas por mais de 1,5 mil milhões de dólares (1,49 milhões em euros), tendo todas as receitas sido doadas a instituições de caridade.
Desta forma, esta coleção bateu o recorde de 835 milhões de dólares que fora estabelecido em 2018 pela Christie’s com a venda da coleção de arte de Peggy e David Rockefeller, cujas receitas também foram integralmente destinadas a beneficência, e ultrapassou o valor atingido pela coleção Macklowe, cujas 65 obras, vendidas pela Sotheby’s em duas sessões (a primeira em novembro de 2021 e a segunda em maio passado), renderam 922,2 milhões de dólares (919 milhões de euros).
Para além de coleções completas, são também doadas obras individuais com fins filantrópicos. Por exemplo, Banksy, um dos artistas mais conceituados na atualidade, criando imagens visuais que pretendem ajudar a refletir sobre o mundo à nossa volta, nomeadamente sobre temas políticos e sociais, produziu a pintura “Game Changer” (“Jogador desafiante”), com um metro quadrado, quase totalmente monocromática, que mostra um rapaz a brincar com uma enfermeira do NHS (sigla inglesa para o Serviço Nacional de Saúde), cujo braço surge estendido e apontando para a frente, como uma verdadeira super-heroína em missão na luta contra a Covid-19. Esta obra foi oferecida ao Hospital Geral de Southampton, em maio de 2020, tendo sido pendurada perto da unidade de emergência. A tela do hospital foi depois substituída por uma réplica para que a obra original pudesse ser leiloada, procurando arrecadar recursos para o NHS. Em março de 2021, esta obra foi leiloada pela Christie’s, tendo sido vendida por 16,7 milhões de libras (quase 19,5 milhões de euros).
Em Portugal também têm ocorrido ações de filantropia através das artes visuais. Recentemente, 12 artistas transformaram 24 bolas de basquetebol em obras de arte para reabilitar campos de basquetebol. Todos os anos, inúmeras bolas utilizadas em jogos dos campeonatos da liga portuguesa de basquetebol são descartadas por motivos regulamentares, já que as bolas de jogo têm de ser renovadas a cada ano. Foi nesse seguimento que surgiu o Art Dunk, projeto de arte, desporto e economia circular, que tem como objetivo final a reabilitação de campos de basquetebol públicos, numa colaboração entre a Betclic e a plataforma cultural Underdogs, esta última fundada por Alexandre Farto (também conhecido por Vhils). Cada artista trabalhou a partir de duas bolas, aplicando as técnicas de acordo com a sua identidade artística própria. Cada uma das obras está à venda, desde 10 de maio, pelo valor unitário de 750€. À data em que escrevo este artigo ainda há bolas à venda, podendo ser adquiridas através do link https://www.artdunk.pt
Esta associação entre a prática desportiva, a cultura urbana e a consciência social tem estado presente noutras iniciativas. Por exemplo, também numa iniciativa da Underdogs, desta vez com o apoio da Junta de Freguesia de Arroios e da Câmara Municipal de Lisboa, AkaCorleone, nome artístico de Pedro Campiche, assinou uma intervenção artística no recinto polidesportivo do Campo Mártires da Pátria. A obra, intitulada “Balance”, mede 14 por 25 metros, demorou nove dias a ser executada e foram necessários 91 litros de tinta para a completar. Trata-se de um campo de basquetebol que passou a ser também uma obra de arte urbana, expressando a utilidade prática da arte, em prol da vida das pessoas.
Felicitamos a Underdogs pelas atividades que tem vindo a desenvolver e ficamos a aguardar as próximas iniciativas…