A Inteligência Artificial (IA) é uma área da computação que se concentra no desenvolvimento de algoritmos e sistemas capazes de realizar tarefas que normalmente exigem inteligência humana, como a aprendizagem, o raciocínio ou a tomada de decisão.
Apesar da popularidade da tecnologia, ainda pode existir a associação da IA a filmes de ficção científica, ou de algo que só acontecerá daqui a muito tempo. Mas a verdade é que a IA já faz parte do nosso quotidiano.
Nos últimos anos a inteligência artificial entrou num patamar mais interativo e com funções de maior complexidade, como escrevendo textos ou respondendo a perguntas diversas, em plataformas como o ChatGPT.
Rapidamente a IA tem sido aplicada a uma ampla gama de setores, incluindo medicina, finanças, transportes e até mesmo na arte.
Atualmente, temos desde IA usada como ferramenta por artistas, até aquela que cria obras sem que haja praticamente nenhuma interferência humana. O essencial da arte gerada por IA assenta na extraordinária capacidade das máquinas em fazer combinações de enormes volumes de dados.
Alguns exemplos incluem a pintura criada por um algoritmo da Google, chamada de “The Next Rembrandt” (2016), em que a IA analisou 168.263 fragmentos de 346 pinturas de Rembrandt para produzir essa imagem.
Outro exemplo foi a exibição “ToTa Machina” (“Mulher Máquina”), da artista plástica brasileira Katia Wille, em 2020. Através da IA, as obras conseguiam reagir não só à presença humana, mas também às suas emoções, modificando-se à medida que viam e identificavam os sentimentos dos visitantes, proporcionando experiências distintas para cada visitante.
Em termos de arte interativa, já em 1997, o artista americano Peter Halley havia criado uma instalação em que os espetadores usavam computadores para alterar as imagens e as cores que o artista tinha escolhido, levantando-se a questão sobre se o espetador também seria artista neste trabalho.
No início, a arte baseada em computadores era um campo marginal, mas com o potencial das novas tecnologias tem vindo a aumentar consideravelmente o interesse de artistas plásticos pelos computadores e pela utilização de programas informáticos na produção de arte visual, permitindo que as obras de arte sejam criadas num ritmo mais rápido e com menos esforço físico.
Com o uso de técnicas e ferramentas de IA, os artistas podem automatizar o processo de criação, gerar conteúdos, desenvolver novas formas de expressão e expandir os limites da arte.
Combinando a IA e a tecnologia imersiva, é possível criar experiências artísticas mais envolventes e interativas. A IA pode ser usada para criar obras de arte que sejam interativas e que respondam ao público, permitindo uma maior participação do observador na experiência de arte.
Além disso, o uso da tecnologia permite a criação de obras de arte digitais e disponibilizá-las na internet, tornando-as acessíveis a um público global, contribuindo para uma maior democratização do acesso à arte.
Muita da atividade artística contemporânea deslocou-se do meio fechado das Galerias e dos Museus para o espaço virtual da Internet, sendo as obras físicas convertidas em NFTs.
Mas o acesso às imagens NFT apenas é permitido a quem possuir a chave digital, fazendo com que a imagem se torne única e exclusiva. Nesse sentido, têm sido astronómicos os valores atingidos em leilão por alguns NFTs. Por exemplo, em 2021, o arquivo jpeg, intitulado “’Everydays: The First 5000 Days” (“Todos os dias: Os primeiros 5.000 dias”), da autoria do artista digital Beeple, foi vendido por 69 milhões de dólares, tornando-se a terceira obra de arte mais cara vendida por um artista vivo.
Entretanto começam a surgir preocupações relativamente ao uso da IA no domínio das artes visuais.
Desde logo, o próprio espaço de trabalho dos artistas mais “tradicionais”. As tecnologias digitais, a robótica e a IA têm destruído muitas profissões e muitos artistas sentem-se ameaçados pelo incremento do uso da IA nas artes visuais.
Além disso, a natureza efémera da arte que pode tornar-se mais proeminente à medida que as pessoas valorizam experiências fugazes e exploram as possibilidades de arte que não existe fisicamente.
A criação de arte com a ajuda de algoritmos também levanta várias questões éticas, nomeadamente sobre a possibilidade de vieses algorítmicos na criação de arte. Os algoritmos são treinados com base em dados existentes, o que significa que eles podem incorporar preconceitos e estereótipos que já existem na sociedade, podendo levar a obras de arte que reforçam estereótipos e preconceitos em vez de desafiá-los.
Além disso, as ferramentas de IA permitem que as pessoas criem cópias precisas de obras de arte existentes, levantando questões sobre a autenticidade dessas cópias e o seu valor artístico.
Outra preocupação diz respeito à originalidade das obras. Muitas pessoas questionam se essas obras podem realmente ser consideradas “criações de artista”.
Mas a verdade é que muitos dos grandes mestres da história de arte tiveram assistentes, que os ajudaram a executar trabalhos. Ainda que a idealização de uma pintura fosse atribuída ao grande artista de renome, a execução de partes da obra poderia ser feita por ajudantes com a supervisão dos seus mestres. Na arte contemporânea, com a maior valorização do pensamento e da criatividade na produção artística, esta questão acentuou-se e, muitas vezes, o autor é quem pensa sobre o produto artístico não sendo quem o executa. Só que a IA pode ajudar não apenas na execução, mas também pode conceber a própria obra.
Assim, têm vindo a ser levantadas diversas questões, nomeadamente: A arte feita através de IA pode ser considerada arte? O artista será substituído pela IA? Quando uma obra de arte criada por uma IA é vendida, quem recebe o dinheiro? Quem é o artista? No futuro, ainda será possível diferenciar a arte feita por humanos daquela feita por IA?
Sendo a arte profundamente influenciada por mudanças sociais e culturais, é provável que a IA continue a desempenhar um papel importante na produção e consumo de arte e é importante que estas questões sejam discutidas e consideradas à medida que a tecnologia evolui.
A criação de arte com a ajuda de algoritmos levanta estas e outras questões éticas e de propriedade intelectual que precisam ser discutidas e consideradas. É importante garantir que a tecnologia seja usada de forma ética e legal, respeitando os direitos autorais e a privacidade das pessoas, e que as obras criadas com a ajuda da tecnologia sejam valorizadas e protegidas como obras originais.
As possibilidades futuras da IA na arte são diversas e emocionantes, oferecendo novas formas de criação, interação e personalização. No entanto, esses avanços também trazem desafios éticos que precisam ser abordados de forma responsável. Ao considerar as implicações da IA na arte, é fundamental encontrar um equilíbrio entre a inovação tecnológica e os valores éticos que sustentam a criação artística.
Face ao avanço tecnológico, é muito provável que sejam cada vez mais aprofundadas as relações entre a IA e a arte. A internet, a realidade virtual e a realidade aumentada podem abrir novas possibilidades para experiências imersivas e interativas de arte. Também a arte multidisciplinar, com uma cada vez maior colaboração e complementaridade das artes visuais com outras formas de arte, nomeadamente a música, a dança e a literatura, constitui um caminho cada vez mais aprofundado pelos artistas. Além disso, tendo em conta que a preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade está a tornar-se cada vez mais proeminente na sociedade, esta pode refletir-se ainda mais na arte, com mais artistas a explorar materiais e técnicas sustentáveis e abordando questões ambientais nas suas obras.
Este mundo de possibilidades leva-nos a terminar esta reflexão com uma questão ainda mais geral que é a seguinte: qual será o futuro das artes visuais?
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