Estes são dois termos que me têm acompanhado ultimamente. O primeiro porque é a designação que escolhi para a rubrica que tenho escrito mensalmente neste suplemento cultural e que se refere ao gosto pelas bibliotecas.
O segundo porque a biblioterapia é cada vez mais usada e recomendada como terapia através dos livros.
Tenho lido textos das pioneiras da biblioterapia em Portugal, Maria Luísa Malato e Maria do Rosário Pontes e também de Sandra Barão Nobre.
Agradeço a todos os leitores que ao longo de mais de uma década seguiram os meus textos e me inspiraram
Há livros que mudam e reerguem vidas, e citando uma especialista em biblioterapia do Brasil, Carla Sousa, antes de existirem livros já existia biblioterapia. “Desde que existiu linguagem oral, o ser humano vem transmitindo pensamentos e repassando o conhecimento a partir das histórias, que há muito são utilizadas de forma terapêutica”.
Se na Antiguidade Clássica os livros eram tidos como “remédios para a alma”, na Idade Média passou a usar-se uma espécie de “biblioterapia religiosa”, sendo utilizada a leitura de livros sagrados (Bíblia e Alcorão) como método terapêutico complementar.
Segundo o ensaísta e romancista francês André Maurois: “A leitura de um livro é um diálogo incessante: O livro fala e a alma responde”.
Nestes dois últimos anos visitei várias bibliotecas em diferentes locais, onde consultei livros com alguns séculos. Escrevi sobre essas bibliotecas, cujos textos foram partilhados neste espaço. Aqui fica mais uma fotografia da última biblioteca onde estive: Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra.
As bibliotecas sempre têm feito parte da minha vida e sinto-as como um habitat natural. Elas são mais do que lugares de passagem, são lugares de viagem e os livros são os artífices de um mundo novo, que contribuem para desbravar veredas tornando-se em caminhos que abrem horizontes inesperados e que nos tornam pessoas mais completas.
As bibliotecas são espaços inesquecíveis que marcam cada pessoa de um modo particular e que, de uma ou outra forma, não deixam ninguém indiferente.
Os livros, o cheiro, as emoções, o ambiente, a localização e a vista das próprias bibliotecas marcam, sem dúvida, os leitores.
De alguma forma, as bibliotecas passaram a assumir uma função comunitária ao ser frequentadas por mais idosos e mais crianças, inclusive imigrantes e população com menos recursos. Nesse sentido, passou, em muitos casos, a haver oferta de ensino de línguas para imigrantes e dinâmicas intergeracionais em que os idosos, com todos os seus saberes, têm um importante papel.
Estas pessoas são acervos vivos e detentoras de saberes que muitas vezes não chegam às páginas de um livro, mas podem ajudar na produção de conhecimento.
O importante, para além de ler livros, é entrar no espaço vivo da leitura. E essa será sempre uma viagem que nos pode levar por caminhos e interpretações diferentes, porque num livro há sempre muitos destinos possíveis.
Como refere Irene Vallejo no seu mais conhecido livro O Infinito num Junco “toda a biblioteca é uma viagem. Todo o livro é um passaporte sem data de caducidade.”
Por sua vez, Valter Hugo Mãe refere que “as bibliotecas são como aeroportos. São lugares de viagem. Entramos numa biblioteca como quem está a ponto de partir. E nada é pequeno quando tem uma biblioteca.”
Ao longo de 12 anos tenho colaborado neste Suplemento Cultural com temas muito diversos e nestes dois últimos anos o tema foi muito específico: a paixão pelas bibliotecas, o que me levou a dar à rubrica o nome de bibliotecofilia.
Os desafios que tenho a vários níveis levam-me a fazer uma pausa nesta colaboração mensal com o Jornal Postal do Algarve, concretamente com o suplemento Cultura.Sul, mas a página da @bibliotecofilia continua disponível no Instagram.
Desejo a todos uma feliz quadra natalícia com boas leituras. E deixem-se surpreender pelas bibliotecas!
Agradeço a todos os leitores que ao longo de mais de uma década seguiram os meus textos e me inspiraram.
*A autora escreve de acordo com a antiga ortografia
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