“Multiplicar, em vez de dividir”. Foi assim que Rita Marques resumiu as suas novas funções como secretária de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, no congresso da Associação Portuguesa de Diretores de Hotel (ADHP) que decorre em Vila do Conde, e que representa a sua primeira aparição pública após ter sido formalizado o novo Governo, no âmbito do qual passou a acumular as três pastas.
“Farei o triplo do que faria anteriormente, tenho de me multiplicar, não podemos esquecer que o turismo é um motor fundamental na nossa economia. Mas também terei de dar atenção ao sector do comércio e serviços, e dentro em breve poderemos ter mais motores e um maior dinamismo a nível económico”, frisou ainda Rita Marques, que não quis comentar “as opções políticas do primeiro-ministro” ao juntar o Comércio e Serviços à Secretaria de Estado do Turismo.
Para o sector, tratou-se de um claro sinal de “minimização” do turismo do lado do Governo. “Vemos com muita preocupação a junção das três Secretarias de Estado numa só, significa uma perda de força política para o turismo”, salientou Raul Ribeiro Ferreira, presidente da ADHP, na abertura do congresso iniciado em Vila do Conde, que decorreu esta quinta-feira, sob o tema “Atrair talento, recuperar o sector, planear o futuro”.
Também Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), exprimiu “decepção” por o turismo deixar de ter uma Secretaria de Estado própria. “Partilhar o turismo com o Comércio e Serviços numa mesma Secretaria de Estado não faz qualquer sentido”, sustentou Calheiros.
Mas todos no sector são unânimes em “aplaudir a recondução” de Rita Marques na pasta do turismo. “Estamos certos que nos continuará a dar todo o apoio como deu até hoje”, destacou o presidente da CTP. “Durante os anos da pandemia, demonstrou um apoio às empresas de forma incansável”, reiterou o presidente da associação de diretores de hotel. Rita Marques considerou ser evidente que “a parceria profícua entre privados e públicos tem de continuar”.
O presidente da ADHP disse ainda ter reservas em relação ao novo ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, que elaborou o documento que serviu de base ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para fazer face à crise pandémica, “onde a palavra turismo nem sequer existe”.
“De facto, assim é, e o PRR tem outras áreas mais desenvolvidas”, reconheceu Rita Marques em declarações aos jornalistas à margem do congresso, lembrando que por essa razão foi criado o plano Reativar turismo com uma dotação de seis mil milhões de euros, e que “poucos países da UE criaram um plano específico para o turismo”. A secretária de Estado do Turismo garantiu também que “seguramente” o ministro da Economia e do Mar dará a atenção ao turismo que o sector merece.
ATRAIR A PORTUGAL “TURISTAS QUE IAM PARA O LESTE DA EUROPA E QUEREM MUDAR DE DESTINO”, DEFENDE A CTP
Na abertura do congresso, Rita Marques lembrou que “temos em Portugal o problema da falta de capital humano” e que é preciso um “esforço para valorizar os profissionais do sector”.
“As condições remuneratórias no turismo não são as ideais, e ficam muito abaixo das médias nacionais”, realçou a secretária de Estado, lembrando tratar-se de “um sector muito desgastante”, em que se “trabalha quando os outros descansam”, o que tem de ser “valorizado, garantindo uma progressão de carreira”.
Para o problema da falta de mão-de-obra “a solução também passa por acolher cidadãos internacionais”, mas “é preciso formar esses profissionais, a qualificação é fundamental se queremos crescer em valor”.
Rita Marques também sublinhou que “o sector do turismo tem passado um período sofrido” e as empresas ainda estão descapitalizadas. “Durante estes dois anos, não estivemos no registo de perdedor, mas a preparar a retoma, e ela está a acontecer”, defendeu a secretária de Estado, deixando a “nota de esperança de conseguirmos terminar 2022 com 85% das receitas turísticas de 2019, e sobretudo retomarmos a trajetória de crescimento”.
Segundo o presidente da Confederação do Turismo de Portugal, “vivemos tempos de incerteza, o mundo não é o mesmo desde 24 de fevereiro, e se não fosse a guerra no final de 2022 já nos aproximaríamos dos números de 2019”.
Francisco Calheiros enfatizou ainda a necessidade de reforçar a promoção nesta fase. “Temos de promover ativamente Portugal como país seguro em todos os sentidos. Portugal tem de dar ferramentas e chegar aos turistas que já não querem ir para o leste da Europa e estão a equacionar mudar para outros destinos”.
Francisco Calheiros apelou ainda ao Governo a tomar “uma decisão final sobre o novo aeroporto em Lisboa, é uma infraestrutura mais do que necessária, sobretudo quando temos a expectativa do nosso turismo regressar aos níveis pré-pandemia”.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL