A história da Portugal Bugs começou a escrever-se em 2016, quando Guilherme Pereira, co-fundador, desenvolveu um produto alimentar com farinha de inseto como projeto final da licenciatura em Engenharia Alimentar, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.
A aceitação foi positiva, o tema passou a fazer parte do seu vocabulário e do de Sara Martins, também fundadora, e rapidamente começaram a desenvolver técnicas de produção. E os próprios insetos, primeiro na casa de Guilherme, no Porto, e depois num espaço maior, em Perafita, já que “não havia ninguém em Portugal que o fizesse”. No verão de 2021, quando passaram a poder comercializá-los, encontraram também “operadores no centro da Europa que conseguiam fornecer a matéria-prima a um custo mais baixo” e optaram por deixar de produzir os insetos para os comprarem a outros fornecedores.
Na lista de produtos estão as barras energéticas (chocolate e amêndoa, figo e laranja, maçã e canela e manteiga de amendoim e mel – o primeiro item a ser desenvolvido pela marca), as farinhas, feitas na totalidade a partir do inseto, os insetos desidratados com tomate e orégãos e com tomilho e pimenta, entre outros temperos, os chocolates, a massa e, mais recentemente, a granola.
Alimentados a cereais e verduras, são eficientes e muito sustentáveis
“Os insetos são seres que crescem muito rápido e são muito eficientes a converter rações em massa corporal”, introduz Guilherme. Mas o que é que isso significa? Que “com muito menos, conseguimos obter muito mais.”
Também emitem muitos menos gases de efeito de estufa, em comparação com outros animais, e podem ser produzidos em qualquer lado do mundo. “E de forma vertical, o que permite uma optimização do espaço”, refere. Sempre em ambiente 100% controlado – “não apanhamos insetos da natureza” –, crescem em substratos secos de cereais, como o farelo de trigo e o farelo de aveia, e alimentam-se também de vegetais e frutas, para que tenham acesso a uma fonte de água. “Tínhamos parcerias com frutarias da zona e aproveitávamos partes de alfaces e de couves, que retiravam das prateleiras e iam para o lixo, para os alimentar.”
Melhorar a resposta dada pela agricultura europeia às exigências da sociedade no domínio alimentar e da saúde, nomeadamente no que respeita à oferta de produtos alimentares seguros, nutritivos e sustentáveis, bem como reforçar a orientação para o mercado e aumentar a competitividade, com maior incidência na investigação, na tecnologia e na digitalização são objetivos da PAC ara o período compreendido entre 2023 e 2027.
Primeiro estranha-se, depois entranha-se
Guilherme acredita que “a produção de insetos pode ajudar o nosso país a ser mais independente de fontes de proteína”. No entanto, é necessária uma maior aceitação cultural. “O cliente português ainda não está habituado a pensar consumir insetos. É normal que haja uma certa barreira”, por isso, quando entraram no mercado, escolheram os “insetos menos estranhos ao olho”.
Neste momento, já estão em várias cadeias de supermercado, como Continente, Auchan e El Corte Inglés, com barras energéticas, farinhas e insetos temperados, e em alguns restaurantes espalhados pelo país, com insetos desidratados, sem temperos: 100 Maneiras, em Lisboa, Clandestino, em Aveiro, Frida, no Porto, e Adega da Vila, em Vila do Conde. “A recetividade tem sido muito boa”, especialmente em clientes entre os 20 e os 40 anos, mais disponíveis para provar produtos novos e com alimentação “mais saudável”.
“Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante.
A sustentabilidade social, ambiental e económica na agricultura e nas zonas rurais são linhas orientadoras da PAC – Política Agrícola Comum que, em Portugal, tem como objetivos principais valorizar a pequena e média agricultura, apostar na sustentabilidade do desenvolvimento rural, promover o investimento e o rejuvenescimento no setor agrícola a a transição climática no período 2023-2027.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL