O potencial da energia das ondas é “imenso”, mas faltam tecnologias “consolidadas” para desvendar o mar, que é “caro”, “agressivo” e coloca muitos desafios a investigadores e empresas, defende um especialista em engenharia hidráulica.
“O potencial é imenso e infinito, mas porque é que não estamos a conseguir isso? Porque o mar é um meio caro, mas também é um meio muito agressivo”, disse à Lusa Francisco Taveira Pinto, professor catedrático e diretor do Laboratório de Hidráulica da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Durante uma visita ao laboratório, o especialista em hidráulica e recursos hídricos assegurou à Lusa que a exploração da energia das ondas depende essencialmente da “capacidade de sobrevivência” das tecnologias, uma vez que têm de estar preparadas para “resistir” a ondas de grandes dimensões, tempestades e, acima de tudo, à água salgada.
“Se os materiais forem metálicos, vamos ter problemas. Há que usar materiais compósitos que resistam melhor aos cloretos e efeitos do mar”, disse Francisco Taveira Pinto, que mesmo assim afirmou acreditar que “mais cedo ou mais tarde”, os investigadores vão encontrar respostas para o conjunto de desafios tecnológicos que enfrentam atualmente.
“Já fomos à lua, temos satélites a passear em Marte, temos turbinas eólicas flutuantes no mar. São tecnologias tão complexas que acredito que o homem vai conseguir. Agora, se vai ser daqui a cinco, dez ou quinze anos, não sei”, acrescentou.
Ao longo dos últimos anos, no Laboratório de Hidráulica foram já testados diferentes protótipos de sistemas de exploração da energia das ondas, mas “é diferente avaliar a solução em laboratório e no mar, onde os problemas são outros e é necessário um grande investimento”.
“Não é por falta de dispositivos, há dezenas e centenas de patentes, algumas já estiveram no mar, mas chega uma altura em que ou começa a produzir, ou não há mais dinheiro disponível e as coisas acabam por parar”, observou.
Um dos protótipos testado no tanque de ondas do laboratório, com 28 metros de cumprimento e 12 de largura, foi um sistema misto de extração de energia das ondas incluído numa estrutura portuária, num quebra-mar.
Aos investigadores do laboratório, cabe a função de estudar como é que o sistema interage com as ondas, se movimenta, mas também quantificar a energia produzida e a sua capacidade de produção.
Nesta “corrida contra os desafios tecnológicos”, Francisco Taveira Pinto acredita que haverá de surgir “um dispositivo vencedor” que consiga extrair energia com eficiência e quantidade para ser “rentável”.
O diretor do laboratório de hidráulica lembrou ainda que, em termos médios, o mundo gasta anualmente 25 mil terawatts por hora de eletricidade, o equivalente “mais ou menos” ao valor disponível nos oceanos.
“É impossível, mas se conseguíssemos aproveitar toda a energia que existe nas ondas do mar, conseguíamos satisfazer todo o consumo mundial”, destacou, acrescentando que a energia disponível na costa portuguesa é “acima da média”.
“Temos os recursos, temos o ‘know-how’, falta termos tecnologias maduras, consolidadas e bem estudadas que possam ser usadas para extrair a energia das ondas”, concluiu.