Onde quer que Remco Evenepoel vá, uma multidão segue-o, como se de uma religião se tratasse. Hoje, na zona ribeirinha de Portimão, o ‘prodígio’ belga foi o ciclista, entre os 167 inscritos na ‘Algarvia’, que mais bulício causou, com a sua legião de fãs a gritar o seu nome e a empunhar cartazes, fosse junto ao autocarro da Quick-Step Alpha Vinyl, ou à partida para a primeira etapa, que terminará em Lagos, após 199,1 quilómetros percorridos.
O jovem de 22 anos, vencedor no Algarve em 2020, também foi o principal ‘alvo’ da comunicação social, num frenesim que não encontrou paralelo em nenhum outro, nem mesmo em Geraint Thomas (INEOS), o galês que venceu o Tour2018 e que hoje passou despercebido.
Estrela maior do ciclismo belga, Evenepoel desdobrou-se em entrevistas em flamengo – há uma ‘multidão’ de jornalistas do seu país, que vieram acompanhar quase exclusivamente a sua ‘coqueluche’ -, antes de ‘mudar’ para o inglês, para deixar no ar a possibilidade de ser candidato a um ‘bis’ na Algarvia.
“É sempre especial regressar ao Algarve. Há dois anos, ganhei esta prova. Sinto-me muito feliz por estar aqui novamente. As previsões dizem que o tempo vai estar muito bom toda a semana, o que é só por si já é um bom ‘detalhe’, e o percurso adapta-se muito bem às minhas características, com um ‘crono’ longo, e etapas boas, com subidas duras. Digamos que estou muito feliz por estar de volta”, declarou.
Naquela edição de 2020, o belga confirmou, ajudado pelo ex-amigo João Almeida, as credenciais de estrela emergente do pelotão internacional, numa temporada em que ganhou tudo até ser ‘travado’ por uma queda grave na Volta à Lombardia – desde que fraturou a pélvis, nunca mais foi tão avassalador como nos seus inícios, e as dúvidas sobre o seu futuro permanecem.
Talvez por isso, a atitude da ‘estrela’ da formação belga mudou e, hoje, aquele que, para muitos, estava no caminho para tornar-se o novo Eddy Merckx – uma comparação que o próprio detesta -, mostrou-se mais humilde, sem esconder, contudo, que gostaria de voltar a vestir de amarelo no domingo, após o final da quinta e última etapa, no alto do Malhão.
“Querer é uma palavra forte”, respondeu à agência Lusa, quando questionado sobre se ambicionava ganhar a única prova do calendário português da categoria UCI ProSeries, antes de prosseguir: “Claro que seria muito bom ganhar. Mas a corrida é muito difícil de prever. Pode haver quedas, azar, más pernas”.
Evenepoel admitiu, ainda assim, que o objetivo dos belgas, que terminaram a época passada como líderes do ‘ranking’ mundial, é conquistar a geral da 48.ª Volta ao Algarve.
O plano para alcançá-lo é, nas suas palavras, “escapar dos perigos” nos ‘sprints’ – uma missão para cumprir já hoje e na terceira etapa -, uma vez que será o “longo contrarrelógio” da quarta tirada – 32,2 quilómetros entre Vila Real de Santo António e Tavira, a distância mais extensa em quase uma década – “a fazer os maiores estragos”.
“No mês passado não consegui treinar com a bicicleta de contrarrelógio, porque estava a ser adaptada às novas definições, por isso não a tinha comigo. Mas ontem [terça-feira] treinei e hoje, depois da etapa, vou dar umas voltas para adaptar-me à posição, e tentar habituar-me a ela para uma extensão mais longa. Claro que fiz treino específico de contrarrelógio, também em subidas curtas, para ter este tipo de exercício nas minhas pernas”, assumiu.
Ganhe ou não a ‘Algarvia’, Evenepoel já é um vencedor, pelo menos nas preferências dos adeptos que, entre hoje e domingo, estarão na estrada a acompanhar a 48.ª Volta ao Algarve.