Ricardo Monteiro tem 31 anos, um sorriso contagiante e um olhar confiante e astuto. O POSTAL foi conhecer este jovem que veio viver para Olhão com quatro anos, portador de uma paralisia cerebral que nunca foi obstáculo que lhe limitasse os sonhos.
Ricardo foi escoteiro, dos 6 aos 16 anos, completou a escolaridade obrigatória e só não seguiu para a universidade porque considera que o iria restringir na saída profissional, tendo optado por tirar formações em áreas diversas como a gestão de eventos, relações-públicas, atualmente é manager de bandas musicais de garagem.
Não fosse uma apendicite que teve com 19 anos que o atirou para uma cadeira de rodas, hoje Ricardo não estaria apaixonado por uma modalidade desportiva que o lançou para o estrelato.
Jovem atleta compete pelo Sporting Clube Olhanense
É o único paratleta algarvio praticante e federado de Boccia, atualmente compete pelo Sporting Clube Olhanense, tendo iniciado esta prática no Sporting Clube de Portugal entre 2014-2016. Em 2015 chegou a ficar em segundo lugar no campeonato nacional.
Para quem não saiba o que se entende por Boccia, falemos então da familiar Petanca que vemos ser jogada um pouco por todos os cantos das cidades, geralmente por pessoas mais velhas.
Consoante o comprometimento que o atleta desta modalidade tem, ou antes, consoante a deficiência, o jogador de Boccia é enquadrado num determinado grau e torna-se BC1, BC2, BC3 BC4 e por aí adiante, cada classe joga apenas com adversários com a mesma limitação de cada classe “como um BC2 só joga contra adversários da classe BC2” em jogos individuais e assim sendo de igual para todas as classes, cada jogo é composto por 4 parciais e cada lançamento pode demorar 45 segundos. O peso das bolas de Boccia, cada uma deve pesar 275g +- 12 gramas cada uma e medir 270 +- 8 milímetros.
Quando é jogado a pares (é jogado pelas classes BC3 e BC4 e composto por 4 parciais) e quando é por equipas (é jogado pelas classes BC1 e BC2 e é composto por 6 parciais).
O Ricardo Monteiro por exemplo é um BC2 e só joga com parceiros BC2. Mas afinal em que consiste esta modalidade nascida em Itália e que já alcançou reconhecimento mundial? Neste momento está a decorrer o Campeonato Mundial de Boccia na Póvoa do Varzim!
O jogo, que pode ser praticado individualmente, dois a dois ou em equipa, envolve seis bolas azuis, seis vermelhas e uma branca que é o “alvo”. O objetivo é lançar a bola afim de esta se aproximar o mais possível da branca. Cada etapa ou parcial, num total de quatro, tem um limite de tempo de 45 segundos. Este período serve para definir a estratégia de jogo, para aquecimento, que no caso do Ricardo é fundamentalmente a mão esquerda que faz o lançamento, para posicionamento da cadeira de rodas ou ainda para concentração. A distância do alvo (bola branca) é medida e vence o lado com a bola mais próxima do alvo! A medalha calha ao vencedor.
Este jovem desportista tem preferência nas bolas moles, há quem prefira jogar com as mais duras, sabendo que o Boccia é praticado com bolas feitas de pele verdadeira, sintética, camurça e cortiça. Ricardo explica que “o material embora possa ser reparado, exige um investimento inicial que ronda os 400 euros ou mais por cada conjunto de 13 bolas”.
Consoante o tipo de patologias, o atleta pode jogar com o auxílio de uma calha, com o pé ou com a mão, como Ricardo.
“O Boccia a este nível e sem patrocinadores não tem futuro“, esta é a verdadeira preocupação e razão principal desta conversa com Ricardo Monteiro.
Sem eles, não se consegue ir a uma época desportiva “que arrecada imensas despesas como a deslocação, dormida, alimentação para o jogador e sua equipa técnica”, entre outras despesas de necessidades inerentes à deficiência, como também poder ir fazer estágios “para jogar com outros atletas e aprimordiriar as suas técnicas e poder haver diálogo entre os treinadores e estratégias de treino” são impensáveis pelos encargos que movimentam; mas só assim o fará um jogador de qualidade.
Como se costuma dizer, “por trás de um grande homem está uma grande mulher” e é verdade, porque o Ricardo para além de contar sempre com o apoio e amor incondicional dos pais, do irmão gémeo, e de toda uma rede sólida de amigos, tem uma responsável e grande amiga e juntos fizeram e apresentaram o projeto de Boccia ao Sporting Club Olhanense, tendo o clube sido logo muito recetivo e aceitado no momento “em 100 anos de história do Clube, é a primeira vez que abre uma secção de desporto adaptado”. É Ana Rita Rodrigues, especialista em psicomotricidade, que na prática desportiva e durante os treinos não está ali para brincar. Os treinos consistem em jogo de tática, pontaria, jogo normal, treino de força e alongamentos “pois só assim se faz um atleta” e o Ricardo tem as suas metas muito bem definidas.
Este tem sido um pilar muito importante na preparação física, mas também psicológica de Ricardo. É com Ana Rita Rodrigues que pratica porque como já foi dito antes, é o único atleta em toda a região do Algarve a praticar esta modalidade.
O próximo passo é criar a sua própria associação de deficiência, canalizando os seus esforços no início para a prática desportiva da modalidade do Boccia, fazendo uma parceria com o Sporting Clube Olhanense e representando na mesma as suas cores. O grande objetivo passará por cativar mais jovens como ele que não se dão por vencidos apesar das limitações, e que queiram ter este espírito desportista ou também só por lazer, isso passará do plano feito de cada jogador consoante as suas ambições.
A prática desta “fantástica modalidade produz excelentes efeitos terapêuticos ao nível da estimulação intelectual, da coordenação motora, da concentração, do estímulo para as relações interpessoais, mais do que a reabilitação tradicional”.
Apesar de ter um patrocinador oficial, a quem está muito agradecido, o Centro Ortopédico do Sul, que lhe providenciou uma cadeira de liga leve manual de gama alta, para poder treinar e usá-la nas competições, Ricardo, deixa aqui um apelo a toda a Região Algarvia e a todas as empresas, entidades individuais ou coletivas, “padrinhos” que queiram patrociná-lo como praticante desta modalidade, que só assim também poderá ter mais jogadores.
Aos apoios serão emitidos recibos de donativos e o paratleta retribuirá com a colocação dos respetivos logos nas redes sociais, tanto nos seus perfis pessoais, nas páginas oficiais de atleta “Facebook e Instagram”, nas redes sociais do Olhanense. Atualmente está a criar a sua breve Associação para poder ter acesso a mais meios, onde irá ser feita uma parceria.
Ricardo representará na mesma o SCO, nos polos de treino e não só no equipamento que vista, também em lonas que possam vir a colocar no local onde treina, onde irão ser apanhadas nas fotos e vídeos que tirarão durante os treinos e outras atividades lá feitas, onde treina, tudo isto dependentemente do tipo de patrocinador e ou padrinhos, etc.
“Excelente, excelente, seria ter uma carrinha adaptada para poder ir a estágios e levar a cadeira de rodas elétrica, a cadeira manual de jogo, e todo o material necessário e indispensável para passar dias fora, por exemplo a cadeira de banho e todo o material da modalidade”, ambiciona o jovem desportista.
É um dos muitos sonhos que Ricardo aqui revela e anseia para concretizar um projeto de vida que no fundo é dar asas a quem as tem feridas!
Mais informações através do Facebook Atleta Ricardo Monteiro – Boccia SCOlhanense, Instagram, Facebook Ricardo Monteiro.
O jovem desportista pode ser contactado através do telemóvel (351) 918 219 523, emails [email protected] e [email protected]