A vinda da Fórmula 1 a Portugal poderá representar um impacto direto na economia da região algarvia superior a 100 milhões de euros, estima o administrador do Autódromo Internacional do Algarve (AIA), Paulo Pinheiro.
O AIA vai receber este ano o Mundial de Fórmula (25 de outubro) e Mundial de MotoGP (22 de novembro).
Em entrevista à agência Lusa, o antigo piloto de automóveis acredita que estes dois eventos serão uma lufada de ar fresco para a hotelaria da região e ajudarão a “minimizar os impactos da covid-19”.
“O impacto [económico da Fórmula 1] deverá ser superior a 100 milhões de euros. Os nossos cálculos, feitos para 35 mil espetadores, davam sempre um resultado superior a 100 milhões de euros. Nós é que tratamos do alojamento das equipas de Fórmula 1 e vemos que tem um impacto muito grande. E é um cliente com um nível de exigência superior. Para o Algarve, vai ser crucial termos estas corridas. Será das formas mais eficazes para ultrapassar o impacto da covid-19”, destacou Paulo Pinheiro.
O mesmo responsável acredita que “se não houvesse estas corridas, 90 por cento da hotelaria do Algarve estaria fechada em outubro”.
“Temos, neste momento, quartos comprados em Faro e em Lagos. Vai ter um grande impacto positivo no Algarve”, sublinhou, explicando que toda a estrutura envolvente à Fórmula 1 “arrasta dez mil pessoas”.
Por isso, as preocupações de segurança serão uma constante, com a criação de diversas bolhas para evitar contaminações.
“Para começar, todo o pessoal da corrida, como os comissários, vão diretos para os postos e sempre de máscara. Normalmente usamos um autocarro para os colocar, desta vez vamos usar cinco. Isso é uma bolha, a de pista”, começou por explicar.
Já a Fórmula 1 terá uma bolha independente, “vedada, que não tem interação com as corridas de suporte”, disse Paulo Pinheiro.
“Temos, ainda, a bolha da organização. Cada um de nós fica adstrito a cada uma das bolhas. O que implica uma segmentação. Os jornalistas ainda são outra bolha”, acrescentou o administrador do AIA.
Para entrar no recinto, à exceção do público, será necessário um teste por dia, de zaragatoa. Os testes são da responsabilidade da Federação Internacional do Automóvel.
Já o público “recebe em casa o bilhete, a partir de 30 de setembro, com uma planta a indicar por onde entra e onde deve estacionar o carro”.
“Há um guia para garantir que a pessoa se senta no seu lugar sem parar, perder tempo ou estar em filas. Para que seja um processo linear e seguro. Tem sempre de andar de máscara e os lugares são em filas alternadas e com um lugar de intervalo de cada lado. Teoricamente, daquilo que vimos com a DGS e num teste com as Superbikes, correu bem”, sublinhou o mesmo responsável.
Haverá, ainda, estacionamento em Portimão para quem quiser deixar o carro e autocarros que deixam as pessoas à porta da sua bancada.
Em relação às contas do AIA, o administrador Paulo Pinheiro revelou que, depois de “três anos muito difíceis” entre 2008 e 2012, que obrigaram à adesão a um PER, o circuito, inaugurado a 01 de novembro de 2008, endireitou as contas.
“Tivemos três anos muito difíceis e um quarto menos difícil, que culminou num plano extraordinário de revitalização, em 2012, induzido por um parceiro nosso que tinha a responsabilidade de ficar com a parte imobiliária. Isso desequilibrou-nos completamente a parte financeira do projeto”, explicou Paulo Pinheiro.
Essa situação surgiu “num período de crise mundial”.
“Ter de apanhar com mais uma crise específica, que nada fazia prever, foi difícil. A partir de 2012, fomos cumprindo todas as metas do PER. Em 2014 acabámos os apartamentos, em 2016 a primeira fase do hotel, em 2018 a segunda. Neste momento temos tido contas positivas todos os anos desde 2012. Tivemos anos extraordinariamente bons, como foram 2019 e 2018 e, se nada se alterar de forma substancial, antecipamos que as coisas continuem a correr assim”, sublinhou Paulo Pinheiro.
O circuito algarvio tem, agora, cerca de 340 dias de ocupação anual, sendo que as corridas são apenas a parte mais visível da atividade, mas uma das menos rentáveis.
“As corridas são a face visível do negócio, mas são algo que exige gestão muito apertada. No dia a dia temos apresentações, testes, ‘track days’… Se houver 20 corridas por ano, temos 60 dias de ocupação de pista. Ora, nós temos 340. Não têm um grande peso”, frisou.
As provas de MotoGP e Fórmula 1, pelas suas taxas de entrada nos campeonatos (dez e 30 milhões de euros, respetivamente), são das menos apelativas economicamente.
“Obviamente que não [são rentáveis], nunca. MotoGP e Fórmula 1 valem pelo impacto económico que trazem aos países onde decorrem as provas e pela exposição mediática que dão. Para o país e para a região é fantástico, para o circuito não. É para o bem público. E como é para o bem público, o que acontece em todo o lado é que é o Estado que paga o ‘fee’ (taxa) de entrada da prova. Porque o retorno que vai receber é muito superior. É um investimento, não é um custo”, frisou Paulo Pinheiro.
Sobre as provas deste ano, garante que “só o IVA dos bilhetes já pagou o apoio” que as provas vão receber do Turismo de Portugal.
Um apoio de cerca de milhão e meio de euros que será em grande parte usado para o reasfaltamento da pista, que já está em curso.
“A primeira fase decorre até 17 de setembro e depois haverá mais três dias para retificações, após uma análise com laser”, concluiu Paulo Pinheiro.