O ciclista colombiano Daniel Martínez (INEOS) venceu hoje a 49.ª edição da Volta ao Algarve, ao ser quarto no contrarrelógio individual da quinta e última etapa, ganho pelo suíço Stefan Küng (Groupama-FDJ).
Martínez, de 26 anos, fez o quarto melhor tempo do dia, 16 segundos abaixo dos 29.34 minutos conseguidos por Küng, mais rápido nos 24,4 quilómetros disputados em Lagoa, à frente do francês Rémi Cavagna (Soudal-QuickStep), segundo, a quatro segundos, e do italiano Filippo Ganna (INEOS), terceiro, a 10 segundos.
Nas contas da geral, o colombiano ficou dois segundos à frente do recordista da Hora Filippo Ganna, seu companheiro de equipa, no segundo lugar, com o belga Ilan Van Wilder (Soudal-QuickStep) no terceiro posto, a 15 segundo do vencedor. João Almeida (UAE Emirates) acabou como melhor português, em sexto, a 40 segundos.
O colombiano, que tinha sido terceiro em 2022, sucede ao belga Remco Evenepoel, que tinha triunfado na corrida no ano passado pela segunda vez, após uma primeira conquista em 2020.
A preferência da INEOS era Ganna, mas foi Martínez o vencedor
A consistência de Daniel Martínez (INEOS) tornou-o hoje vencedor da 49.ª Volta ao Algarve em bicicleta contra a vontade da sua equipa, que preferia ver de amarelo o ‘vice’ Filippo Ganna, terceiro num contrarrelógio ganho por Stefan Küng.
Se o triunfo do vice-campeão mundial da especialidade na sua ‘querida’ Lagoa não foi nenhuma surpresa, o mesmo não se pode dizer da conquista de Martínez, que, sem ninguém dar por ele, contrariou o plano (e a preferência) dos diretores da INEOS e negou a expectável vitória a Ganna por apenas dois segundos.
“Para toda a gente na equipa, o Filippo era o favorito número um para ganhar a geral, e era OK. Dia após dia, fui-me sentindo melhor, mas isto hoje foi uma grande surpresa para mim”, reconheceu o colombiano de 26 anos, depois de surpreender tudo e todos com um ‘salto’ de seis posições na geral, graças ao quarto lugar na última etapa, a 16 segundos de Küng.
A vitória de Martínez, perfeitamente discreto nesta ‘Algarvia’, foi um verdadeiro anticlímax: o três vezes campeão colombiano de contrarrelógio (2019, 2020 e 2022) perdeu apenas seis segundos para o seu companheiro de equipa e ‘estragou’ a festa ao italiano, visivelmente dececionado por ter visto escapar aquela que seria a sua primeira vitória na geral de uma corrida por etapas.
Tão desapontado como o recordista da Hora estava João Almeida (UAE Emirates), o português que caiu do terceiro para o sexto posto da geral, depois de ter sido apenas 13.º no contrarrelógio da última etapa, a 1.12 minutos do suíço da Groupama-FDJ.
Os 24,4 quilómetros do contrarrelógio de Lagoa provocaram uma verdadeira revolução na geral, da qual só se ‘salvou’ Ilan van Wilder (Soudal Quick-Step) – segurou o pódio, ficando em terceiro, a 15 segundos de Martínez, -, com Thomas Pidcock (INEOS) a despir a amarela, depois de ter descido ao sétimo lugar, e Rui Costa (Intermarché-Circus-Wanty) a terminar em 10.º.
A saída dos primeiros ciclistas para a estrada foi acompanhada de uma chuva miudinha, mas persistente, capaz de tornar perigoso um percurso já de si técnico, que nesta edição ‘ganhou’ 4,1 quilómetros relativamente ao desenho tradicional – igual entre 2018 e 2021.
O melhor tempo foi caindo sucessivamente à medida que os ciclistas mais bem posicionados na geral foram concluindo o seu ‘crono’, com Kasper Asgreen (Soudal Quick-Step), vencedor do contrarrelógio de Lagoa em 2021 e ‘rei’ da montanha desta edição, a estabelecer a primeira grande referência.
Mas os 31 minutos exatos do dinamarquês foram só a primeira grande marca: seguiram-se-lhe na ‘cadeira quente’ Mathias Vacek (Trek-Segafredo), Nils Politt (BORA-hansgrohe), Thymen Arensman (INEOS), Rémi Cavagna (Soudal Quick-Step), até Stefan Küng pulverizar o tempo de todos, com uns ‘supersónicos’ 29.34 minutos.
Vencedor do contrarrelógio de Lagoa em 2019, o suíço da Groupama-FDJ não mais foi destronado, sendo percetível, até nos pontos intermédios, que o favorito Ganna, duas vezes campeão mundial, ou o atual camisola arco-íris Tobias Foss (Jumbo-Visma), que foi quinto na etapa e quarto na geral, não iriam bater o seu tempo.
“Eu gosto muito desta corrida. A Volta ao Algarve é a corrida perfeita para começar a temporada. Tinha excelentes memórias deste contrarrelógio, sabia à partida que me era favorável e estou muito feliz por conquistar esta vitória, que também é a primeira desta época para a nossa equipa”, admitiu Küng, que acabou na quinta posição da geral, em declarações à Lusa.
Com vento à mistura, o permanente sobe e desce nas ‘artérias’ de Lagoa demonstrou ser um desafio para os homens da geral, nomeadamente para Pidcock, que, apesar de ter iniciado a sua luta contra o cronómetro já sem chuva, saiu em frente numa curva, perdendo tempo precioso para as contas da geral.
Dececionante foi também a prestação de Jai Hindley e da ‘sua’ BORA-hansgrohe, derrotada em toda a linha, já que também Sergio Higuita perdeu 1.45 minutos no ‘crono’ e os dois acabaram fora do top 10 – o colombiano foi 11.º e o campeão em título do Giro apenas 13.º.
Entre as equipas portuguesas, Joaquim Silva (Efapel) foi o melhor, no 32.º lugar, a 6.12 minutos de Martínez, o sucessor do ‘estelar’ Remco Evenepoel no historial de vencedores.
Declarações
Declarações após a quinta e última etapa da 49.ª edição da Volta ao Algarve em bicicleta, um contrarrelógio de 24,4 quilómetros em Lagoa, ganho pelo suíço Stefan Küng (Groupama-FDJ):
Stefan Küng, Sui, Groupama-FDJ (vencedor da etapa): “Eu gosto muito desta corrida. A Volta ao Algarve é a corrida perfeita para começar a temporada. Tinha excelentes memórias deste contrarrelógio, sabia à partida que me era favorável e estou muito feliz por conquistar esta vitória, que também é a primeira desta época para a nossa equipa”.
Daniel Martínez, Col, INEOS (vencedor da geral individual): “Estou surpreendido. Esta manhã, para toda a gente na equipa, o Filippo [Ganna] era o favorito número um para ganhar a geral, e era ok. Dia após dia, fui-me sentindo melhor, mas isto hoje foi uma grande surpresa para mim.
Normalmente, com um contrarrelógio como este, a nossa estratégia é correr para o Filippo. Hoje, é uma surpresa. As minhas pernas também estavam a ficar mais fortes dia após dia. Hoje, a vitória era para o Filippo, mas correu bem para mim”.
Filippo Ganna, Ita, INEOS (segundo da geral individual): “É ok [o segundo lugar]. A equipa ganhou, agora é recuperar.
Estou satisfeito [com a minha forma]. Foi uma boa semana.
Não foi o contrarrelógio perfeito para mim, mas tentei defender-me para ganhar a geral”.
Ilan van Wilder, Bel, Soudal Quick-Step (terceiro da geral individual): “Penso que este é o melhor resultado possível. Estou bastante contente com o meu contrarrelógio. Ainda há espaço para melhorar, é verdade, mas tendo em conta que este é o primeiro contrarrelógio em dois anos no qual posso ir no limite, estou muito satisfeito com este resultado.
(voltar no ano que vem para ganhar?) Talvez, se o percurso continuar a ser o mesmo, sei que posso melhorar e lutar um dia pela vitória”.
João Almeida, Por, UAE Emirates (sexto da geral individual): “Regra geral, faço um balanço muito positivo. No fundo, foi a primeira corrida da época, e acho que até correu bem.
Hoje, não foi o melhor contrarrelógio que fiz, houve um pequeno erro de comunicação com o carro [da UAE Emirates], mas é mesmo assim. Estou feliz com as minhas sensações, com o decorrer da prova, com o trabalho de equipa. Acho que é positivo com vista às próximas corridas.
Houve o erro de comunicação com o carro, acho que poderia ter medido melhor o meu esforço nesse sentido. Então, termino descontente, obviamente. O objetivo era estar, pelo menos, no pódio. É assim o ciclismo. Há que ver o lado positivo: não tive quedas e a forma está bastante boa”.
Rui Costa, Por, Intermarché-Circus-Wanty (10.º da geral individual): “Posso dizer que foi uma ‘Algarvia’ dura. Fico satisfeito com a minha performance, com a minha condição física. O resultado não foi melhor do que um ‘top 10’, mas é certo que uns dias foram melhores do que outros.
Foi um ‘top 10’, posso dizer que foi positivo. Esperava fazer um ‘top 5’, mas acho que tenho de me dar por satisfeito”.