A atual época de golfe está a ser um ‘oásis’ no Algarve, após a paragem prolongada devido à pandemia de covid-19. Numa altura em que as restrições de viagens foram levantadas nos diversos países emissores, os jogadores estrangeiros estão este ano de regresso aos 40 campos da região, dando perspetivas de ter os ‘greens’ cheios até meados de novembro, com destaque para os britânicos, que representam mais de 70% das voltas realizadas na região.
“É o primeiro mês pós-covid em que estamos quase sem restrições nas viagens, e tivemos um aumento incrível nas reservas em outubro, maioritariamente de britânicos, que representam mais de 70% das reservas, mas também de outros mercados, como franceses, alemães ou escandinavos”, adianta Romeu Gonçalves, diretor de golfe do grupo Dom Pedro, proprietário dos cinco campos em Vilamoura, designadamente do Victoria, que recebe de 4 a 7 de novembro o torneio Portugal Masters.
“Os jogadores estrangeiros estão a voltar, notava-se que havia no mercado uma ressaca do golfe, as pessoas estavam sedentas por jogar nos campos do Algarve, e dá bem para perceber a felicidade na cara deles”, refere Romeu Gonçalves.
A ocupação tem estado a 100% no campo Victoria em Vilamoura, que acolhe o torneio Portugal Masters de quinta-feira a domingo. Foto D.R. Nuno Botelho
O Algarve teve em outubro temperaturas de verdadeiro verão, o que foi benéfico para o regresso em força dos golfistas, à excepção dos últimos períodos de chuva forte que afetaram todo o país.
“Outubro correu muito bem para o golfe no Algarve, com os campos apenas 10% a 20% em média abaixo dos valores de 2019, dependendo dos casos, o que é uma situação muito positiva nestas circunstâncias porque 2019 foi dos melhores anos de sempre”, realça Luís Correia da Silva, presidente da Dom Pedro Golfes – que detém os cinco campos em Vilamoura, quatro dos quais em funcionamento, e estando atualmente o Laguna encerrado para remodelação, com vista a reabrir no primeiro semestre de 2022 – e também presidente da Confederação Nacional da Indústria do Golfe (CNIG).
Os campos têm estado cheios e com as reservas em alta até meados de novembro, com destaque para o golfe Victoria, que recebe o torneio internacional Portugal Masters da European Tour, entre os dias 4 e 7 deste mês, e que representa a primeira divisão ao nível deste desporto.
O facto de decorrer o torneio internacional no campo de Vilamoura não deve ser confundido com a afluência normal de jogadores nesta época do ano, segundo frisa Luis Correia da Silva – e em 2021, excecionalmente, a European Tour autorizou que o campo recebesse clientes uma semana antes do torneio, para não perder este importante mercado, devido à situação criada com a pandemia de covid-19.
Os britânicos Andrew Burter, Ben Barker, Mark Fisher e Richard Barker vieram ao Algarve passar cinco dias a jogar golfe. “Era suposto termos vindo no ano passado, é muito bom poder estar agora aqui”, adiantam. Foto D.R. Nuno Botelho
“O que é determinante é a transmissão televisiva do Portugal Masters para o mundo inteiro, que ajuda muito a promover o golfe e a incentivar as pessoas a virem jogar cá”, faz notar o presidente da confederação do golfe, lembrando que em Vilamoura irão decorrer as últimas provas dos jogadores profissionais para ganhar pontos e serem qualificados para o torneio final, que irá decorrer no Dubai.
“Temos de momento 200 pessoas a jogar por dia no campo Victoria, e ao todo 800 pessoas por dia nos quatro campos de Vilamoura. Se mais campos tivéssemos, mais voltas estaríamos a vender”, refere Romeu Gonçalves, enfatizando o momento alto a nível de procura.
“É MAIS DIVERTIDO JOGAR GOLFE COM AMIGOS”
O casal austríaco Sachautzer Margit e Villach Wövtheisee, que se assumem como “entusiásticos jogadores de golfe”, está por esta altura todos os dias a fazer voltas nos campos no Algarve, dando conta do seu agrado.
“Vimos todos os anos jogar golfe aqui por uma semana, jogamos todos os dias, e este campo Victoria é ‘top'”, garante Villach Wövtheisee, que é professora na Áustria, ao regressar do jogo matinal.
Grupo de suecos a almoçar no campo Victoria em Vilamoura. É a primeira vez que voltam a viajar juntos para jogar golfe desde que a pandemia surgiu. Foto D.R. Nuno Botelho
De volta ao Algarve, estão também os suecos Mats Rönneskog, Jan Tonnby, Thomas Holberg, Christian Kornewall, Ulf Selvin e Lars Andersson. Todos os anos o grupo de amigos – que inclui um observador da ONU – costuma viajar com o intuito de jogar golfe, e esta é a primeira vez que o fazem desde que surgiu a pandemia de covid-19.
“Viemos aqui por cinco dias, está a ser excelente. É mais divertido jogar golfe com amigos, e este campo no Algarve é extraordinário, muito provavelmente iremos voltar”, avançam os suecos, enquanto almoçam no restaurante do campo Victoria, após terem acabado de jogar.
O Reino Unido é o mercado em claro destaque entre os jogadores que estão em Vilamoura. Os britânicos Andrew Burter, Ben Barker, Mark Fisher e Richard Barker vieram de Londres ao Algarve passar cinco dias a jogar golfe, com um grupo ainda mais alargado de amigos, maioritariamente constituído por professores e técnicos de treino desportivo.
Excecionalmente este ano, devido à pandemia, a European Tour assentiu a que o campo do Algarve recebesse jogadores uma semana antes do torneio. Foto D.R. Nuno Botelho
“Era suposto termos vindo no ano passado, é muito bom poder estar agora aqui”, adiantam. “Este campo Victoria é espetacular, os preços são muito bons, e vamos de certeza voltar”.
TURISTAS CUJO CONSUMO VAI ALÉM DO JOGO DE GOLFE
Em grande crescimento, estão os mercados francófonos. Da Suiça – mais propriamente da cidade La Chaux-de-Fonds, “conhecida pelos relógios” – veio um grupo de sete amigos, numa viagem organizada pelo português Carlos Silva, detentor da agência de viagens Golf au Portugal.
“É magnífico ter a sorte de poder jogar num campo uma semana antes de receber um importante torneio”, considera Jean-Daniel Vuille, engenheiro informático, ao concluir o jogo no Victoria com os seus amigos Claude, Yvont, Eric, Yvan e Roberto Luca.
Grupo de amigos da Suiça está a passar uma semana a jogar golfe em Vilamoura, fazendo voltas todos os dias. Foto D.R. Nuno Botelho
“É muito bom jogar com amigos, e ficamos no campo quase o dia inteiro”, descreve Jean-Daniel. “O percurso dura umas cinco horas, mas depois ficamos sempre mais algum tempo a beber algo no ‘clubhouse'”.
O que carateriza os turistas de golfe é que os seus gastos não se limitam a fazer voltas no campo, e incluem também consumos de refeições ou bebidas após o tempo de jogo, representando assim uma relevante fonte de receita.
“Temos tido um consumo que no final do dia é bastante bom. O golfista tipicamente fica algum tempo no ‘clubhouse’ depois do jogo, a consumir bebidas ou uma refeição ligeira, e o que sai mais são hambúrgueres, batata frita, ou um ‘club sandwich’. E depois disto gosta de fazer um jantar bom”. descreve o diretor de golfe do grupo Dom Pedro.
“O ideal para o golfista é começar a jogar entre as 9h e as 10h, é o ‘tee time’ habitual, mas como nesta altura estamos completamente cheios temos reservas sucessivas desde as 7h30 até às 15h”, refere ainda Romeu Gonçalves.
PORTUGAL MASTERS CONTA COM ‘ESTRELAS’ DE GOLFE NACIONAIS
No campo Victoria misturam-se agora golfistas habituais com os profissionais em treino e que vão competir no Portugal Masters, que em 2021 recebe 108 jogadores internacionais e decorre entre esta quinta-feira e domingo. “É a liga principal do golfe e a única prova nacional neste circuito, sendo a penúltima do calendário e que irá qualificar os jogadores para a final no Dubai”, lembra Romeu Gonçalves.
Vítor Lopes e Ricardo Santos, atletas de golfe portugueses que vão participar no torneio Portugal Masters. Foto D.R. Nuno Botelho
O Portugal Masters também conta com jogadores nacionais e, num grupo de quatro portugueses, Ricardo Santos foi o único no país a ter entrada direta neste torneio. “Mesmo ganhando, não sei se fico entre os 65 primeiros para ir à final, e o meu foco é garantir que fico nos 120 lugares do ranking”, adianta o golfista.
Outra ‘estrela’ nacional no Portugal Masters é o golfista Vítor Lopes, que entra este ano no torneio como convidado. “Vejo isto como um bónus, derivado da boa época que fiz, e se conseguir finalizá-la com um bom torneio será a cereja no topo do bolo”, considera. “Todos os jogadores do circuito europeu gostam desta prova no Algarve, e este é um excelente campo para também trazerem a família cá”.
Portugal é reconhecido pela qualidade dos seus campos de golfe, que têm vindo a ser sucessivamente premiados, mas a base de jogadores nacionais é baixa, razão porque a atividade é fortemente dependente de mercados externos – ao contrário por exemplo de países anglo-saxónicos, onde este desporto é considerado popular e não de elite, e é praticado desde cedo, muitas vezes em campos municipais e a preços acessíveis.
Ter os campos parados tanto tempo, e sem mercado, devido à situação gerada pela pandemia “foi horrível”, confessa Romeu Gonçalves. O torneio Portugal Masters estava para se realizar em abril, o que acabou por não se verificar devido à covid-19, o que foi “muito frustrante” para as equipas de manutenção, que “trabalharam todos os dias a preparar o campo para esse efeito”.
– Notícia do Expresso, jornal parceiro do POSTAL