O músico Sérgio Pires, atual chefe do naipe de clarinetistas da Orquestra Sinfónica de Londres (OSL), foi escolhido entre 90 candidatos a um dos principais postos da formação sinfónica, o que foi “uma grande surpresa”, como disse à agência Lusa.
Sérgio Pires afirmou que foi “uma conquista” que aconteceu por “coincidência”, pois estava em Londres a gravar um álbum com o clarinetista Michael Collins, quando abriu concurso e decidiu candidatar-se.
O músico nascido em 1995 no concelho de Vieira do Minho, que iniciou os estudos musicais em Guimarães, passou as sucessivas provas até que ficou com o lugar.
Para o clarinetista, “foi uma surpresa maior”, “algo com que nem sequer tinha sonhado”, e realçou a “notoriedade internacional” da orquestra britânica, que “atrai até público não habitual dos programas de música clássica, muito graças às gravações das bandas sonoras [dos filmes] de Harry Potter e ‘O Senhor dos Anéis'”.
“Vai haver muitas digressões no mundo inteiro. A próxima, em abril, é à Austrália”, disse o músico, que já fez digressões com a orquestra londrina à Califórnia e à Europa.
“A Orquestra realiza a cada dois meses uma digressão muito grande, pelas salas mais importantes. Recentemente, em Berlim e Frankfurt, duas ou três semanas antes, as salas já estavam esgotadas, é uma orquestra que toda a gente quer ouvir”.
Sérgio Pires começou cedo a percorrer os palcos internacionais. Aos 18 anos participou na European Union Youth Orchestra, na Gustav Mahler Jugendorchester e na Schleswig – Orquestra do Festival de Holstein, na Alemanha.
Pires já tocou com orquestras como a Filarmónica de Bremen, as orquestras de Câmara e a Sinfónica de Basileia, o Musikkollegium Winterthur, a Orquestra Filarmónica da Transilvânia, a Orquestra de Câmara da Silésia, a Filarmónica de Argovia.
O músico soma participações em festivais de música clássica como o European Music Campus, na Áustria, o Kultursommer Nordhessen, na Alemanha, na série de concertos BBC Proms, em Londres, no Schleswig-Holstein Festival, na Alemanha, no Isang-Yun Festival, na Coreia do Sul, no East Neuk Festival, na Escócia, no Festival Bozen, em Itália.
“Faço bastantes projetos como solista, em quartetos, um bocadinho por todo o lado, andei por aí, na América Latina, nomeadamente no Brasil onde dei aulas em favelas”.
O músico recordou a sua colaboração com a Orquestra Neojiba – Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia, “uma espécie de versão ‘El Sistema’ da Venezuela”, sistema didático-pedagógico gratuito de ensino da música para crianças e jovens de todas as camadas socioeconómicas.
“É uma realidade que nos passa um bocadinho ao lado. Eu fui dar aulas a miúdos de oito e dez anos que nos contavam certas histórias… Uma criança contou-me que um dia chegou a casa e encontrou o pai morto num ecoponto”, recordou Sérgio Pires.
Na violência desta realidade, acaba por ser “muito bonito ver como ainda têm a alegria de tocar e encontrar [na música] esse refúgio”, podendo sair “um bocadinho daquele mundo perigoso”.
Para os professores, porém, o ambiente “nunca é um problema”, assegurou. “É perigoso entrar sozinho [nas favelas], mas se souberem que vamos lá dar aulas e entrarmos com alguém conhecido, não é problemático”, disse Sérgio Pires referindo que “há respeito pela missão do professor”.
O músico vai apresentar-se pela primeira vez como solista, “à frente de uma orquestra”, no próximo 13 de maio, em Porto Alegre, com a Orquestra Sinfónica da cidade.
Sérgio Pires começou a tocar clarinete aos oito anos, quando regressou da Suíça com os pais que queriam que continuasse a estudar música e interagisse com as outras crianças da sua aldeia no Parque Natural do Gerês.
“Eu e a minha irmã entrámos numa banda filarmónica da zona e, na altura, até queria tocar trompete, mas faltava um clarinete e fiquei com o clarinete”.
Hoje considera o clarinete a sua “melhor forma de se expressar”.
“Adoro o clarinete porque é muito versátil. Tanto toco música clássica, como fado, já toquei jazz. Não é qualquer instrumento que pode fazer isso. É a minha maneira de me exprimir”, disse.
Nascido em 1995, Sérgio Pires iniciou os estudos musicais aos oito anos. Em 2007 matriculou-se na Academia de Música Valentim Moreira de Sá, em Guimarães, onde estudou até 2013 com Vítor Matos. Depois mudou-se para Basileia, na Suíça, onde estudou com François Benda na Hochschule für Musik der Stadt Basel (Escola Superior de Música do Estado da Basileia), terminando o seu “Master Performance-Solist”, com a mais alta distinção, em 2018.
O músico gravou o seu primeiro álbum em 2020, “durante a [pandemia de] covid-19”. “Arranjei tempo, estava tudo fechado, podia estudar, e arranjei uma editora. Este primeiro CD foi dedicado ao romantismo alemão, com peças de Robert e Clara Schumann.
O segundo CD, gravado em 2021, foi dedicado a compositores de expressão francesa que escreveram para clarinete, explicou, referindo-se ao álbum dedicado a peças de Saint-Saens, Debussy, Honneger, Milhaud, Francis Poulenc e Jean Francaix.
“Depois gravei mais um CD com o clarinetista Michael Collins”, um dos principais solistas britânicos, distinguido por interpretações de compositores como Scubert e Mozart. “Isto é, eu faço parte de uma obra do CD dele”, conclui Sérgio Pires que interpreta com Collins a Sonata para dois clarinetes de Francis Poulenc.
“Uma leitura sagaz, pertinente e plena de valentia”, lê-se na crítica da revista Gramophone, sobre a interpretação conjunta da obra de juventude do compositor francês.
A OSL foi fundada em 1904, é a primeira orquestra independente do Reino Unido e Hans Richter foi o seu primeiro maestro. Atualmente tem no regente Simon Rattle o seu diretor musical e, a partir de setembro deste ano, Antonio Pappano será o seu maestro titular.