No Norte de Portugal, é comum ouvirmos as pessoas trocarem os “v’s” pelos “b’s” quando falam. Esta curiosa caraterística faz parte da riqueza cultural e linguística da região, especialmente na cidade do Porto e áreas próximas. Mas, afinal, por que motivo esta troca efetuada pelos nortenhos acontece? Para compreendermos este fenómeno, é preciso mergulhar um pouco na história e evolução da nossa língua. Saiba mais neste artigo que conta com a colaboração do NCultura.
Portugal, apesar de ser um país pequeno, é vasto em diversidade cultural e linguística. Ao viajarmos de Norte a Sul, encontramos diferentes tradições, modos de vida e até formas de falar. A região do Norte é um exemplo perfeito desta diversidade, destacando-se, entre outras coisas, pelo sotaque característico. A troca dos sons “v” pelo “b” é um traço marcante do modo de falar das pessoas desta zona e algo que chama a atenção de quem visita ou conversa com os habitantes.
Este fenómeno não é uma simples “mania” ou falta de educação, como alguns podem pensar. Na verdade, existe um nome específico para esta particularidade: chama-se betacismo. Segundo o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o betacismo refere-se à mudança de som em que o [v] é substituído pelo som [b] ou vice-versa. Um exemplo clássico é a pronúncia de “binho” em vez de “vinho”. Este fenómeno tem raízes profundas na evolução da língua portuguesa.
A nossa língua descende do latim, que, com o tempo, sofreu várias alterações, até se transformar no português que conhecemos hoje. Durante este processo de transformação, algumas palavras do latim passaram a ser pronunciadas de forma diferente. No latim vulgar, falado pelas pessoas comuns, havia uma confusão fonética entre os sons de algumas consoantes, como o “v” e o “b”. Essa confusão deu origem ao fenómeno do betacismo, que se manteve mais evidente em regiões como o Norte de Portugal.
No passado, o Norte de Portugal e a Galiza partilhavam a mesma língua, o galaico-português. Com o tempo, o português foi-se tornando autónomo, mas algumas influências do galego ficaram. Uma delas foi a forma como se pronunciam as consoantes, explicando, em parte, a troca dos “v’s” pelos “b’s” que ainda se ouve no Norte do país.
Hoje em dia, o betacismo é mais do que uma caraterística fonética; é um traço cultural e identitário. Os nortenhos, especialmente os portuenses, têm orgulho desta particularidade, que os distingue do resto do país. É algo que faz parte da forma de ser e de falar das pessoas da região, contribuindo para a sua singularidade e encanto.
Curiosamente, esta troca de sons pode até originar frases engraçadas por parte dos nortenhos, que fazem sentido apenas nesta zona. Um exemplo divertido seria um piropo nortenho: “És como um helicóptero – gira e boa“.
Assim, desde Viana do Castelo a Coimbra, passando por cidades como Vila Real, Bragança e Viseu, quem comunica com alguém do Norte não consegue ignorar esta forma distinta de falar. É uma marca da região, que reflete, não só a sua forma de comunicar, mas também a sua forma única de estar na vida.
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