Tal como os Xutos & Pontapés, Ivete Sangalo é presença assídua no Rock in Rio Lisboa desde a primeira edição. E, tal como os Xutos & Pontapés, merece bem mais do que ser encaixada num slot de uma hora ao final da tarde. Não temos grandes dúvidas de que grande parte do público que marca presença neste segundo dia de festival veio ao Parque da Bela Vista para dançar e saltar com ela… Mais até do que para assistir ao concerto dos cabeças-de-cartaz Black Eyed Peas. As expectativas desse público não saíram frustradas, mas as dúvidas, nesse campo, também eram poucas (ou nulas).
Com energia para dar e vender, e um rabo-de-cavalo de meter inveja a Ariana Grande, a cantora da Bahia serviu um alinhamento certeiro do início ao fim, sem grande tempo para recuperar o fôlego. Passando em revista alguns dos melhores momentos de uma discografia que, sem contar com Banda Eva, já se alonga por mais de 20 anos, Sangalo começou forte com ‘Tá Solteira, Mas Não Tá Sozinha’, mas não demorou muito a sacar de três grandes trunfos: ‘Tempo de Alegria’, ‘Abalou’ e ‘Sorte Grande’ nem precisaram de aviso, porque o pé já estava fora do chão e a poeira espalhada pelo recinto. “Eu estava com muita saudade, Rock in Rio”, confessou, dirigindo-se à multidão que acompanhou, a rigor, cada passo de dança e cada palavra cantada.
“Ai, Lisboa, Portugal… É por isso que eu sinto que estou chegando em casa. Estava com tantas saudades de estar aqui. Nem eu sabia quantas. Queria dizer a Portugal que estou aqui como filha desta terra, também”, reforça, mostrando-se incrédula com a quantidade de gente que tinha à sua frente. De seguida, dedicou ‘Mexe a Cabeça’ a Angola, país pelo qual diz ter-se apaixonado à primeira visita, sensualizou ao som de ‘Céu da Boca’, atirou-se ao hino da sua ex-banda, ‘Eva’, e apresentou ‘Onda Poderosa’ em dueto virtual, cheio de funk, com Gloria Groove.
Acelerando para o final, com um medley que termina, precisamente, com ‘Acelera Aê’, confessa: “Eu queria ficar aqui até de manhã. Acredito no respeito e vou respeitar o alinhamento do festival, mas a minha vontade era vestir o pijama e ficar aqui até de manhã”. O público, certamente, não diria que não a essa proposta. Fechando com “chave de ouro”, chama a si o Carnaval para exorcizar tristezas ao som de ‘O Mundo Vai’ e, claro, numa estocada final, do tremendo sucesso ‘Arerê’. Ivete é uma instituição, não só da música brasileira, mas dos palcos mundiais (quer o mundo reconheça quer não) e o concerto deste segundo dia de Rock in Rio Lisboa 2022 foi mais uma prova de que nem o passar do tempo a vai conseguir deter.
- Texto: Blitz do Expresso, jornal parceiro do POSTAL