O projeto “Oficina de Saberes Ancestrais” desenvolvido pelo Centro de Animação e Apoio Comunitário da Freguesia de Alte, no concelho de Loulé, está a ter um grande impacto promoção do envelhecimento ativo e melhoria da qualidade de vida de pessoas idosas desta instituição, contrariando o isolamento social que se verifica nos habitantes da freguesia de Alte.
No distrito de Faro, o Pingo Doce apoiou 30 projetos vencedores, eleitos através da votação dos clientes nas lojas que receberam esta iniciativa durante os últimos meses. A nível nacional, o Programa Bairro Feliz do Pingo Doce apoiou 454 projetos.
Em Alte, o projeto obteve financiamento através do programa Bairro Feliz do Pingo Doce para adquirir materiais para a criação de uma oficina de partilha de saberes ancestrais com recurso a linhas, como o croché, malha, renda e macramé, enquanto forma de combater o isolamento social e promover o envelhecimento ativo.
Elsa Elói, diretora técnica do Centro de Animação e Apoio Comunitário da Freguesia de Alte, contou ao POSTAL como surgiu o projeto, porque se candidataram ao programa Bairro Feliz, que atividades são desenvolvidas e qual o impacto que está a ter na população, sobretudo no que respeita ao combate ao isolamento.
P – Como surgiu o projeto “Entre nós” e porque se candidataram ao programa Bairro Feliz do Pingo doce?
R – A atividade “Entre nós” surge no âmbito do projeto ASAS – Aldeia dos Saberes e dos AfetoS. Este projeto, que teve início no final do ano 2021, através do financiamento do programa Bairros Saudáveis, visa combater o isolamento social involuntário e a solidão da população +65 residente em Alte, restabelecendo os laços de vizinhança e devolvendo-lhe o sentido de pertença, utilidade, valorização pessoal e gosto pela vida. Em 2022 terminou esse financiamento e desde então que procuramos outras possibilidades de garantir a sua sustentabilidade e continuidade.
Esta é a segunda edição do Bairro Feliz em que a instituição participa, pois, a candidatura tem um formato muito acessível, e a equipa envolvida no Concurso é muito prestável, quer a nível nacional quer nos contactos em loja. O facto de ser um concurso que permite o envolvimento do publico na seleção da causa vencedora é estimulante pois permite envolver os familiares e toda a comunidade no processo e assim todos sentem que estão ativamente a contribuir para uma causa em que acreditam e querem ver concretizada.
Para além de possibilitar a concretização de atividades que de outra forma seriam extremamente difíceis de realizar, o Bairro Feliz tem sido ainda uma importante forma de dar a conhecer o Centro de Animação de Alte e o trabalho que tem desenvolvido nesta localidade, neste caso, através do projeto ASAS.
P – Qual o impacto que este projeto está a ter na população de Alte?
R – A população que mais beneficia com este projeto é a população feminina com mais de 65 anos, residente na freguesia de Alte.
A atividade “Entre nós” que consiste na criação de grupos/oficinas de partilha de saberes ancestrais com recurso a linhas, lãs e agulhas que dão origem a peças artesanais de inspiração tradicional com um toque contemporâneo.
Esta atividade surge enquanto forma de fomentar a valorização pessoal, a aprendizagem ao longo da vida e momentos de socialização, em torno das artes e ofícios locais. As peças resultantes destes grupos de trabalho serão colocadas à venda na Loja Social do projeto ASAS e em feiras de artesanato locais.
Através da criação de grupos de partilha de saberes e técnicas artesanais de croché, malha, renda e macramé estimula-se a motricidade fina, a criatividade, retarda-se a perda de memória e estimula-se a cognição. São momentos de convívio que contrariam o isolamento social que se verifica nos habitantes da freguesia de Alte No projeto ASAS defende-se a ideia de que através da valorização dos saberes dos destinatários são travados processos depressivos e degenerativos característicos desta população, e são perpetuados saberes e tradições que se perdem na linha do tempo e apenas são conhecidas popularmente por estas pessoas. A partilha de conhecimentos, experiências, tradições e saberes entre a população idosa, crianças, jovens e comunidade em geral, promove a sua inclusão, o envelhecimento ativo e a intergeracionalidade que é benéfica tanto para os seniores, como para os mais novos.
O projeto produz uma melhoria na qualidade de vida da população alvo através da promoção da sua autonomia, da curiosidade e iniciativa pessoal em contrariar os fenómenos associados ao isolamento social e geográfico.
P – Que atividade desenvolve o centro de Animação e Apoio comunitário da freguesia de Alte?
R – O Centro de Animação e Apoio Comunitário da Freguesia de Alte, é uma instituição particular de solidariedade social sem fins lucrativos, que celebra este ano 38 anos de existência.
Iniciou a sua atividade com a criação de um Centro Atividades de Tempos Livres e progressivamente foi aumentando as suas atividades destinadas a crianças e jovens com a criação da resposta social de Jardim de Infância. O desporto foi durante cerca de três décadas uma grande “bandeira” da instituição, desde o atletismo, ao futebol de 11 masculino e feminino e mais tarde, o futsal também masculino e feminino. Foram vários os atletas federados que ganharam destaque a nível regional pela mão do “Centro de Alte” como era conhecido no meio desportivo. Mais tarde estas modalidades deram lugar à modalidade de BTT, e hoje em dia por falta de recursos humanos e materiais estas atividades deixaram de ser concretizadas.
Em 2005 deu início à resposta social de creche e atualmente mantém três respostas sociais com acordos de cooperação com a Segurança Social recebendo crianças não só de várias localidades do concelho de Loulé, mas também dos concelhos de Silves e Albufeira, com os quais a freguesia de Alte confronta os seus limites. É neste momento o equipamento de apoio à infância e juventude do interior do concelho de Loulé com maior capacidade, podendo receber 41 crianças em creche, 50 em jardim de infância e 30 em CATL. Tem a particularidade de realizar serviço de transporte escolar que tem sido uma mais-valia na conciliação da vida profissional e familiar dos pais das crianças que frequentam a instituição, e uma importante forma de contrariar a fraca rede de transportes existente.
Em plena pandemia decidiu alargar a sua intervenção de forma a responder a necessidades identificadas no território, nomeadamente junto da população mais idosa, dispersa da freguesia e sujeita a isolamento. Assim nasceu o projeto ASAS – Aldeia dos Saberes e dos AfetoS, que para além das atividades descritas anteriormente, integra ainda a distribuição de bens alimentares às famílias carenciadas da freguesia de Alte através dos bens doados através do Banco Alimentar.
O Trampolim – projeto móvel interdisciplinar de desenvolvimento infantil encontra-se agora a dar os primeiros passos. Tem por objetivo promover a intervenção precoce e a saúde mental infantil junto das crianças entre os 3 e os 10 anos residentes ou a frequentar os equipamentos da rede solidária e da rede pública do interior do concelho de Loulé, que terá a duração de dois anos e conta com o financiamento da Fundação la Caixa do BPI.
Além destas atividades mais estruturais o Centro de Animação de Alte participa e dinamiza diversas atividades de carácter pontual dirigidas à comunidade de Alte, como o carnaval infantil, um arraial de santos populares, cantares de janeiras entre outras.
Sobre o Projeto ASAS
A grande particularidade do Projeto ASAS é a sua itinerância, através da qual procura chegar a todos os “cantos” da freguesia de Alte. Através da “música aos montes” e dos cantares de Janeiras tem sido possível realizar partilhas musicais e estreitar laços com os residentes mais dispersos da freguesia.
De referir que também foi através de um concurso ao Bairro feliz que foi possível a aquisição dos instrumentos musicais que acompanham estas atividades.
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