Israel adquiriu um papiro “extremamente raro”, com cerca de 2.700 anos e com uma inscrição hebraica, que se encontrava na posse de um habitante do Estado norte-americano do Montana, divulgou esta quarta-feira a autoridade de antiguidades israelita.
O pedaço de papiro, um pouco maior que um selo postal e com quatro linhas de escrita angular, é um dos poucos a região no final da Idade do Ferro, adiantaram os arqueólogos.
O manuscrito, datado do final do século VII ou início do século VI a.C., está escrito em tipografia paleo-hebraica, típica do período do primeiro templo judaico em Jerusalém.
É composto por quatro linhas, começando com as palavras “Le Ishmael tishlakh” (Enviar a Ismael, em português), podendo ser um fragmento de uma carta contendo instruções para o destinatário.
“Não sabemos exatamente o que foi enviado e para onde”, sublinhou à agência France-Press (AFP) Joe Uziel, diretor da Unidade de Manuscritos do Deserto da Judeia da Autoridade de Antiguidades.
Joe Uziel explicou que a datação por carbono-14 correspondente e o estilo paleográfico o tornam “muito certo” de que não é uma falsificação moderna.
Papiro poderá ter sido saqueado de caverna no deserto da Judeia
O papiro, provavelmente foi saqueado em algum momento no século passado, de uma caverna no deserto da Judeia, acrescentou. A sua origem e a viagem desde o deserto para o Montana há seis décadas e agora até Jerusalém, continuam por esclarecer.
A autoridade de antiguidades recusou-se a identificar o morador no Montana, mas destacou que a mão do homem obteve o artefacto durante uma visita ao que era na altura Jerusalém Oriental, ocupada pela Jordânia em 1965, e levou-o para os Estados Unidos.
A lei da Jordânia em vigor na altura restringia severamente a venda de antiguidades e proibia a exportação de artefactos sem autorização do ministro das antiguidades, sendo que também não ficou claro se a mulher tinha essa autorização.
Numerosos fragmentos de pergaminhos da região árida perto do mar Morto, que surgiram no mercado de antiguidades nos últimos anos, incluindo vários no Museu da Bíblia de Washington, foram depois identificados como falsificações.
A autoridade de antiguidades mostrou o papiro à imprensa nos seus laboratórios em Jerusalém, ao lado de dois outros fragmentos hebraicos antigos que tem guardados, um destes encontrado numa caverna perto do mar Morto na década de 1950 e um segundo que foi apreendido no mercado negro de antiguidades em 2016 e que se acredita ter sido saqueado de uma caverna.
Eitan Klein, chefe da unidade de prevenção de roubo de antiguidades de Israel, referiu que a mãe do homem de Montana pode ter comprado o objeto a Khalil Iskander Shahin, um negociante de antiguidades de Belém, mais conhecido como “Kando”, que negociou muitos dos objetos originalmente descobertos, ou pode ter recebido o papiro do curador do Museu Rockefeller em Jerusalém.
Um investigador israelita reparou numa foto com este texto anteriormente não documentado num artigo cientifico não publicado de um colega e notificou Eitan Klein, que localizou o proprietário, adiantou ainda a autoridade de antiguidades.
Klein acrescentou que o homem foi convidado a viajar até Jerusalém em 2019 e as duas partes chegaram a um “acordo” não especificado, para que o papiro fosse entregue às autoridades israelitas.