O arquiteto Gonçalo Byrne, que hoje tomou posse como presidente da Ordem dos Arquitetos (OA), em Lisboa, afirmou que “é urgente evidenciar o papel dos arquitetos, e inverter o cenário de desvalorização da arquitetura” em Portugal.
O discurso do arquiteto, vencedor das eleições para a direção da OA no triénio 2020-2022 – encabeçando a lista C, uma das quatro candidatas –, focou-se no papel da arquitetura e dos arquitetos para o desenvolvimento sustentável do país.
“A qualidade da arquitetura tem um impacto fundamental no desenvolvimento do país”, salientou o novo presidente da ordem, definindo ainda o arquiteto como “um solucionador de problemas”.
Nesse papel, “pode oferecer soluções para os problemas ambientais, [para os quais] todos seremos chamados a contribuir [com respostas] no quadro das medidas estratégicas do pacto ecológico europeu”.
Na área da sustentabilidade, Gonçalo Byrne criticou o “economicismo dos investidores públicos e privados, que não pensam a longo prazo” e “procuram sobretudo reduzir custos”.
“A construção é responsável pela emissão de 40% de CO2, uma situação que os arquitetos podem ajudar a reverter com soluções criativas e de qualidade”, defendeu.
Apontando que a tendência de adjudicar obras ao preço mais baixo não afeta apenas a qualidade de vida dos habitantes e a sustentabilidade, mas também os salários dos arquitetos, Gonçalo Byrne recordou que uma das consequências desta situação tem sido a “diáspora forçada” de muitos jovens arquitetos.
“A crise económica espalhou pelo mundo a qualidade da arquitetura portuguesa, que tem sido reconhecida e premiada”, salientou, acrescentando que vai ser necessário defender junto do Governo “repor a dignidade da profissão”, nos próximos anos.
Prevendo “grandes desafios” para o futuro, o novo presidente da OA apelou à união entre todos os arquitetos, comentando que “não há vencedores nem vencidos”, nas eleições que deram origem ao seu mandato.
Numa entrevista à Lusa, após o resultado das eleições, a 26 de junho, Gonçalo Byrne tinha afirmado que a atual pandemia covid-19 “veio acelerar as mudanças já em curso em Portugal”, ao nível da construção do espaço público e redução da pegada ecológica.
Sobre as prioridades do seu mandato, Byrne destacou, na altura, o combate à precariedade laboral dos arquitetos, sublinhando que a sua candidatura “foi e vai ser sempre inclusiva, de portas abertas para o diálogo com todos os arquitetos, as outras ordens profissionais, os governantes e a sociedade”.
Quase sete mil arquitetos dos cerca de 25 mil no país votaram nas eleições para os órgãos sociais da OA, nacionais e regionais, para o triénio 2020-2022.
Pela primeira vez, segundo a OA, foram eleitos sete órgãos regionais – Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve e regiões autónomas da Madeira e dos Açores -, que acompanham as diferentes regiões do país, e a nomenclatura das unidades territoriais para fins estatísticos.
De um total de 21 elementos, que constituem a assembleia de delegados, o órgão deliberativo da Ordem, a lista C, com o lema “Isto só lá vai com todos”, de Gonçalo Byrne, elegeu nove delegados, seguida pela lista B, “A Ordem és tu”, que elegeu seis delegados.
A lista A, “Uma Ordem Presente”, elegeu cinco delegados e, a lista D, “Arquitetura Perto”, elegeu um delegado.
Gonçalo Byrne formou-se na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e é doutor ‘Honoris Causa’ pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa e pela Universidade de Alghero, em Itália, segundo a informação disponível na página Gonçalo Byrne Arquitetos na Internet.
Foi diretor do Jornal Arquitetos, entre 1985 e 1987, e fundou o estúdio Gonçalo Byrne Arquitetos, em 1991.
Lecionou igualmente em várias universidades internacionais, como, por exemplo, Harvard, nos Estados Unidos, Milão e Veneza, ambas em Itália, e Pamplona, em Espanha.
Gonçalo Byrne sucede ao arquiteto José Manuel Pedreirinho, na presidência da OA.