Perante o anúncio por parte da União Europeia de Radiodifusão (UER) de que o voto de seis países na final do Festival da Eurovisão foi anulado e substituído por uma pontuação calculada automaticamente, emergem duas questões: o que se passou para ter sido tomada tão drástica medida e, numa segunda instância, que países saíram beneficiados e prejudicados com esta medida?
Pouco antes de serem anunciados os resultados da final de sábado, a organização do Festival da Eurovisão revelou que se tinham detetado “padrões irregulares de votação” após o segundo ensaio geral da segunda semifinal, durante o qual os júris nacionais dos 40 países a concurso procedem à sua votação (ao contrário do televoto, que é recolhido em direto após a apresentação das canções na final).
Ainda que não haja confirmação oficial desta suspeita, a televisão pública belga, VRT, acredita que os seis países visados tenham combinado os votos entre si. As regras do concurso preveem que nesse caso a votação dos júris desses países tenha que ser anulada e recalculada com base na votação de países com registos de voto semelhantes, o que a UER confirma ter feito.
Segundo contas feitas pelo jornal “El País”, era “matematicamente impossível” a Ucrânia não vencer o Festival da Eurovisão, não tendo estes ajustes beneficiado, assim, a canção vencedora. A Kalush Orchestra ganhou o concurso com um esmagador voto popular, obtendo através dessa via 439 pontos dos 631 com que terminou o certame. Sobre o televoto não recaem suspeitas e a margem de 165 pontos sobre o segundo classificado é gigante.
O ajuste de pontos pode, porém, ter afetado a segunda e terceira posições, ocupadas respetivamente por Reino Unido e Espanha, países separados apenas por 7 pontos na classificação final (466 para Reino Unido; 459 para Espanha). Esta hipótese é relevante, uma vez que, se a Ucrânia não puder organizar o festival em 2023, poderá ser um desses países a fazê-lo.
Os países que terão visto os seus votos anulados foram Azerbaijão, Roménia, Geórgia e Montenegro (todos já vieram comentar o sucedido) e, presumivelmente, Polónia e San Marino, países cuja votação, à semelhança dos anteriores, não foi registada no site oficial do evento.
A porta-voz do júri do Azerbaijão veio a público dizer que a Eurovisão recalculou a votação deste país, transferindo os 12 pontos da Ucrânia para o Reino Unido. Da mesma alteração se queixa o júri da Geórgia. Já os romenos avançaram que quiseram dar 12 pontos à Moldávia, mas os mesmos foram entregues à Ucrânia, ficando os moldavos com zero pontos. O júri romeno considera esta decisão da UER “pouco transparente”.
A provarem-se estas alegações, o Reino Unido terá recebido duas pontuações máximas atribuídas automaticamente pelo referido mecanismo de recálculo com base na votação de países com registos de voto semelhantes. É seguro que esta solução terá produzido flutuações nas pontuações de outros países, mas é também certo que em todo o top 10 não há diferença de pontuação tão escassa entre dois países.
- Texto: Blitz do Expresso, jornal parceiro do POSTAL