O tempo pode não ser tão fundamental como imaginamos. Um novo estudo sugere que o tempo pode emergir do entrelaçamento quântico, um fenómeno em que duas partículas se tornam tão interligadas que o estado de uma afeta instantaneamente a outra, independentemente da distância, escreve o ZAP.
“Durante séculos, o tempo foi considerado um elemento essencial da física, inquestionável e profundamente enraizado na nossa conceção da realidade”, assinala Alessandro Coppo, do Conselho Nacional de Investigação de Itália. No entanto, o século XX trouxe uma mudança de perspetiva com o advento da física quântica e das teorias da relatividade geral e especial.
Na relatividade geral, este está entrelaçado com o tecido do universo, integrando o continuum espaço-tempo. Esta teoria sustenta que o tempo pode deformar-se e esticar-se na presença da gravidade. Já a teoria quântica aborda o tempo de forma diferente: não como uma propriedade flexível, mas como uma constante contra a qual os eventos ocorrem.
Coppo e os seus colegas revisitaram um conceito dos anos 80, submetendo-o a um rigoroso exame matemático. A ideia propõe que o que percecionamos como a passagem do tempo é apenas o resultado do entrelaçamento de um objeto com um relógio.
Para um observador externo a este sistema emaranhado, o universo pareceria estático e imutável. Assim, o tempo pode não ser uma característica inerente à realidade, mas um subproduto do entrelaçamento quântico. No estudo, publicado em maio na revista Physical Review A, os investigadores modelaram o relógio como um sistema de pequenos ímanes teóricos emaranhados com um oscilador quântico, semelhante a uma versão quântica de uma mola.
A equipa constatou que o seu sistema podia ser descrito utilizando uma versão modificada da equação de Schrödinger. Em vez da habitual variável tempo, a equação incluía uma variável que representava os estados quânticos dos ímanes.
Quando estenderam os seus cálculos a objetos clássicos, assumindo que os ímanes e o oscilador eram suficientemente grandes para se comportarem de forma clássica, os resultados coincidiram com as equações da física tradicional utilizadas para descrever o movimento clássico. Esta descoberta sugere que o tempo, tal como o conhecemos, pode emergir do entrelaçamento quântico de objetos, estabelecendo uma ligação entre a física quântica e a física clássica.
“Estão a fazer a ponte entre o tempo quântico e o tempo clássico”, afirma Basil Altaie, da Universidade de Leeds, citado pela revista New Scientist.
Coppo e os seus colegas acreditam que a natureza é intrinsecamente quântica e que a perceção do tempo é uma manifestação do entrelaçamento quântico. Isto implica que, num universo sem emaranhamento, como no estado hipotético do universo primitivo, nada mudaria – tudo permaneceria estático.
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