“Aquário”, o livro-objeto da atriz e criadora artística Marlene Barreto, vai ser apresentado de norte a sul. No dia 7 de março, a apresentação terá lugar pelas 18:30, na Biblioteca Sophia de Mello Breyner, em Loulé, terra natal da autora.
“Aquário” é a primeira parte da trilogia da “Teoria do Pessimismo”: depois do espetáculo que estreou no Teatro da Comuna em 2022, Aquário é agora, transformado em livro-objeto. A estória passa-se num futuro de exceção, “Após a erupção do vulcão Yellowstone (…) P. acorda no meio de uma névoa de fumo sem memória. A única ajuda é A., a autora da sua história, que vive em desespero e depende de um aquário que faz a diálise do seu oxigénio para sobreviver”.
A ameaça à democracia, o desgaste do planeta, a solidão e a tirania estão traçados de forma bastante transparente em Aquário e a autora pretende com ele dar a ver “o lugar onde não queremos estar”.
Erupções, cheias, sismos, terramotos, tempestades, degelos, maremotos e furacões, falta de água, falta de ar, desflorestação, extinção, genocídio, a guerra que nunca se foi embora, o fascismo, a brutalidade, o racismo, a intolerância interminável, a barbárie, o apagamento — a iminência do fim, pois, coisa de todos os dias, mas não para todos ao mesmo tempo.
“Num mundo cada vez mais distópico, Aquário é uma metáfora à perda do sentido de humanidade, da destruição física, mental e emocional do ser humano, face a um capitalismo e acesso ao poder desmedidos”, refere a criadora.
“A simples ideia de transformar o Aquário num livro foi uma ideia muito tentadora e arrebatadora ao mesmo tempo. Como performer e criadora, o desafio era criar um objeto que desafiasse as convenções da literatura e da leitura. Queria poder intervir nele de forma livre, através da estética, da forma, dos ritmos e das dinâmicas. No fundo, criar, também, uma nova experiência de leitura ao leitor. Essa liberdade artística foi, talvez, uma das maiores razões pela qual optei por fazer uma edição de autor a quatro mãos com a designer Joana Tordo”, acrescenta.
Sara Carinhas, atriz, criadora, escritora e Stella Faustino, escritora e investigadora do projeto, foram convidadas a dar o pontapé de saída com textos, a que a autora chamou “Perspetivas”.
“No caso da Sara, sentia que ela tinha de fazer parte deste objeto. Pois, foi dela que ouvi, pela primeira vez, o termo “pessimismo” para definir o espetáculo em 2022. Após absorver, achei que poderia ser uma força na minha linguagem e converti o termo numa espécie de teoria, a qual tenho a oportunidade de explicar no livro”, refere Marlene Barreto.
A criadora reservou ainda para este momento, outra estreia, a música-tema de Aquário, música original da brasileira Brina Costa e com as participações de Madalena Palmeirim, Moreno Veloso, Paulo Mutti e Zé Manoel, assim como o videoclipe realizado pela criadora no momento do primeiro laboratório artístico do espetáculo.
Marlene Barreto é dramaturga, atriz e criadora artística e documental
Marlene Barreto [Loulé, 1984] é dramaturga, atriz e criadora artística e documental. É formada em Comunicação Social e Cultural pela Universidade Católica Portuguesa, fez formação na CAL – Rio de Janeiro e Arte 6.
É fundadora da Mescla – Associação Cultural e nos últimos anos, tem-se dedicado ao projeto «Teoria do Pessimismo» (trilogia), uma pesquisa focada nos perigos que assolam a Democracia.
Em 2020/ 21 realizou o documentário Isolamento e atualmente está a preparar o processo de Memo, a segunda obra da trilogia.
Escreveu os textos Reflexo e Aquário, levados a cena em 2017 e 2021, respetivamente. Aquário – 1.ª parte da trilogia da Teoria do Pessimismo, deu origem a um livro de nome homónimo que é agora, lançado nas Correntes de Escritas.
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