A trilogia foi apresentada nos dias 23 e 24 de janeiro, durante a Algarve Film Week, no contexto da 9ª Monstrare – Mostra Internacional de Cinema Social. A realização é de Diogo Simão e a fotografia de Ana Monteiro
A Internet matou o Chester Bennington, Aunque es de noche e Sofia e o Gajo do Fogo são os títulos das curtas-metragens produzidas pela Plutão de Verão – Associação Cultural e apresentadas durante a 9ª Monstrare – Mostra Internacional de Cinema Social, no passado mês de janeiro.
Nos dias 23 e 24, o auditório da Escola Secundária de Loulé encheu-se de alunos, professores e convidados para participar num Q&A com alguns elementos das equipas técnicas e artísticas da trilogia, assim como com Gonçalo Almeida: realizador convidado que exibiu e falou da sua curta-metragem premiada A Rapariga de Saturno.
Esta iniciativa foi articulada em conjunto com a Câmara Municipal de Loulé, através do Loulé Film Office e o Projecto Cultural da Escola, de forma a reforçar as atividades que estão a ser desenvolvidas no âmbito do Plano Nacional das Artes, do Plano Nacional de Cinema e da Bienal de Cultura e Educação 2023.
A Plutão de Verão – Associação Cultural, sediada na região algarvia, começou este projecto em 2018 com o concurso ShortWeek. “Desafiámos alunos das escolas secundárias de Loulé, Faro e, mais tarde, da Figueira da Foz, a produzir e apresentar, em grupo, uma curta-metragem numa semana”, afirma Diogo Simão, diretor artístico da Plutão de Verão.
“Para provar que era possível, produzimos A Internet matou o Chester Bennington com os mesmos limites temporais e técnicos que os participantes. Foi uma aposta bem sucedida: no total foram mais de 300 inscritos que, uma semana depois da cerimónia de abertura, apresentaram 50 curtas-metragens. Algumas destas curtas foram exibidas noutros festivais e muitos dos seus criadores seguiram formações superiores em cinema ou teatro, ainda que fora da região de origem”, acrescenta.
Com o apoio de várias entidades, incluindo dos três municípios participantes e do Instituto Português da Juventude e Desporto (IPDJ), foram atribuídos prémios nas várias categorias do concurso. O júri juntou caras conhecidas do teatro e televisão (Salvador Nery, Anna Eremin, João de Brito, Catarina Perez, Igor Regalla, André Canário), realizadores premiados (Bernardo Lopes, Justin Amorim, Flávio Ferreira, Rafael Almeida) e representantes de algumas entidades que apoiaram o projecto (Manuel Baptista, Maria da Graça Lobo, Isa Mestre).
“A quantidade de jovens talentos que conhecemos e a sua vontade para continuar a fazer cinema foi contagiante”, admite Ana Monteiro, diretora de fotografia e co-fundadora da Plutão de Verão. “O modelo de produção que adaptámos do concurso permitiu-nos estar livres de overthinking e aproximar o processo de criação cinematográfica da sua forma mais pura.”
A Internet matou o Chester Bennington, protagonizada por Sara Mendes Vicente e com participação das jovens atrizes Alice Velez, Beatriz Gomes, da bailarina Beatriz Gonçalves e do músico Nuno “Kabula” Esmael, foi gravada entre os municípios de Olhão e Faro, tendo o seu processo criativo durado uma semana. Sinopse: Uma estudante de fotografia desencantada, volta à sua cidade natal para um projecto, apenas para encontrar uma realidade muito estranha, e diferente, da que conhecia.
Aunque es de noche foi co-criada por 5 jovens atores participantes do ShortWeek (Constança Melo, Gabriel Riley, Margarida Lucas, Salomé Rita e Tiago Leal), num processo que se arrastou ao longo de vários meses de confinamento.
“Quando tivemos confirmação do local das filmagens, ensaiámos toda a acção durante uma semana na Blackbox do LAMA Teatro. Miguel Martins Pessoa e Diana Bernedo, atores e diretores da companhia Janela Aberta Teatro, juntaram-se ao processo perto das datas de gravação e elevaram a fasquia durante os ensaios. Esta curta foi a primeira ficção a ser gravada totalmente na Mina de Sal Gema do município de Loulé, a 230 metros de profundidade”, confirma Diogo Simão.
Sinopse: Um grupo de meninos e meninas foi criado dentro de uma caverna. Este é o dia em que todos eles tomam decisões irreversíveis.
Sofia e o Gajo do Fogo, o último filme da trilogia, foi rodado em duas semanas na Figueira da Foz, tendo uma equipa técnica e artística composta maioritariamente por participantes do concurso ShortWeek. A criação da narrativa foi repartida entre a jovem figueirense, Sofia Mendes, e o experiente ator Mauro Hermínio. Sinopse: Quando os poderes de Sofia para controlar o fogo são revelados de uma maneira horrível, ela tenta encontrar o homem com as respostas que tanto procura.
Contudo, a conclusão desta trilogia de curtas-metragens não parece ditar o fim do projecto para o diretor artístico da Plutão de Verão.“ O ShortWeek provou ser mais do que um sucesso do ponto de vista criativo e formativo. É também um exemplo de como estimular, nas gerações mais jovens, o diálogo crítico colectivo, a colaboração multidisciplinar, a utilização de técnicas e ferramentas artísticas que perpetuam a memória e divulgam o potencial humano, cultural e geográfico do território”, afirma o realizador algarvio.
“A gentrificação que tem alterado a cara da região e a “fuga de cérebros” (do ensino-secundário local para o ensino-superior fora da região/país) são realidades espelhadas quer nos cenários e narrativas da trilogia que apresentámos, quer no percurso dos jovens que participaram nestas produções. Todos os anos perdemos oportunidades para que se desenvolva uma linguagem artística regional que potencialize as nossas idiossincrasias. A Plutão de Verão vai continuar a trabalhar com entidades, públicas e privadas, interessadas em inverter a situação. Mas se os decisores políticos, a nível nacional e a nível local, continuam a alienar os agentes culturais e a virar costas aos planos estratégicos que eles próprios definem, este tipo de iniciativas tornam-se mais que insustentáveis: tornam-se inúteis. Estamos sempre disponíveis para ouvir, mas é preciso que nos ouçam para que qualquer tipo de acção séria e sustentada seja possível. Felizmente em Loulé é possível e os resultados estão à vista”, conclui.
Sobre Diogo Simão
Diogo Simão nasceu em Faro no ano de 1994. Começou a sua carreira artística como ator: estreou-se no teatro em 2010 e em cinema em 2014. Desde então assumiu a cadeira da realização, dirigindo oito curtas-metragens, exibidas em dezenas de festivais e na televisão nacional portuguesa. Serviu como produtor executivo de uma trilogia de documentários dirigida por Ana Monteiro, filmada na Polónia, no Peru e em Portugal.
Licenciado em Ciências da Comunicação pela UAlg, Diogo frequenta atualmente uma pós-graduação em Processos Criativos – UAlg/PUC-SP. Frequentou cursos da National Film and Television School, da HarvardX, do MoMA e da Ball State University. Foi formador convidado em vários cursos, nomeadamente no âmbito de festivais de cinema, no Plano Nacional de Artes de Portugal e na BoCA 2021 – Bienal de Artes Contemporâneas.
Fez parte da equipa de candidatura de Faro a Capital Europeia da Cultura entre 2019 e 2022, co-coordenando comunicação e participação pública, nomeadamente o projecto de identificação e promoção de jovens artistas, “Geração Cápsula”. É programador do Young South Film Festival e diretor artístico da Plutão de Verão: associação cultural que fundou em 2019 e através da qual tem colaborado em vários projectos culturais, participativos, formativos e solidários.
Diogo foi programador do festival de cinema Shortcutz Faro de 2015 a 2020 e criador/produtor do concurso ShortWeek em Loulé, Faro e Figueira da Foz. Em 2021 escreveu e dirigiu uma peça de teatro, “Sara Sara”, e criou “Retrospectiva de um Faro futuro”: uma performance-leitura de lendas urbanas da cidade de Faro, com o templo romano de Milreu como pano de fundo e instrumentais originais de hip-hop como banda-sonora.
Sobre Ana Monteiro
Nasceu na Figueira da Foz, em 1996. Licenciou-se em cursos de audiovisuais do ISMT e da ETIC. Complementou os seus estudos em formações lecionadas pelos diretores de fotografia Christian Berger (‘The White Ribbon & ‘Caché’) e Larry Smith (‘Eyes Wide Shut’ & ‘Only God Forgives’), um curso de fotografia com a curadora do MoMA Sarah Meister e várias masterclasses no FEST – New Directors | New Films Festival 2018-19. Ana realizou, entre 2020 e 2022, uma trilogia de documentários em 3 países diferentes: Polónia, Peru e Portugal.
Coordenadora de projetos na organização internacional Piano&Coffee desde 2015, Ana produziu videoclipes para artistas de 3 continentes. Foi produtora e programadora do festival de cinema Shortcutz Figueira da Foz entre 2017 e 2020, assumindo em 2020 o cargo de diretora criativa e designer-chefe do Young South Film Festival. É também co-fundadora e diretora criativa da Plutão de Verão, uma associação cultural promotora de projetos participativos, formativos e solidários.
Em 2022, Ana esteve envolvida na produção e fotografia dos episódios documentais realizados para o projecto Ethno USA, fez curadoria e realizou os vídeos do primeiro Sofar Sounds Faro e participou no projecto ‘Music For Human Rights’ em Israel e Berlim.