Um mosaico romano com quase 2.000 anos dedicado ao Deus Oceano, exposto no Museu Municipal de Faro, é um dos mais bem preservados a Sul do país, razão que levou à sua classificação como tesouro nacional, em 2018.
O mosaico, encontrado em obras particulares numa moradia junto à estação dos Caminhos de Ferro de Faro, poderá ter sido o pavimento de um edifício público, sugerindo que Óssonoba, nome que os romanos davam à cidade, tinha uma área comercial para além do centro (atual cidade velha).
“Um pavimento, supõe-se, de uma sede de uma associação de comerciantes ligada aos negócios do mar, que financiaram esta obra para perpetuar o seu nome e pedir a proteção e a ajuda do Deus Oceano de quem faz do mar e dos rios a sua vida”, explicou à Lusa o diretor do Museu Municipal de Faro.
Segundo Marco Lopes, o mosaico, que data do final do século II, deverá ser um dos mais bem conservados a Sul do país daquela época, uma vez que foi possível recuperá-lo quase na sua totalidade, depois de ter sido retirado do seu local original, em 1976.
“É uma peça muito bem preservada, que tem uma extensão enormíssima e que mostra a magnitude e beleza deste próprio pavimento”, refere, acrescentando que o mosaico “nos transmite muito daquilo que é a herança do período romano aqui em Faro”.
O mosaico de grandes dimensões tem como elemento central o rosto do Deus Oceano, e exibe, na parte inferior, os nomes dos supostos patrocinadores da sua construção, que terão encomendado a peça há quase dois mil anos.
“Pelos seus apelidos, pela pesquisa feita, serão pessoas ligadas, precisamente, a este comércio marítimo pelo Mediterrâneo”, explicou Marco Lopes, acrescentando que os autores da obra terão sido mosaístas do Norte de África.
Segundo o diretor do museu, a suposta proveniência dos artistas mostra “o mundo cosmopolita que estava presente em Faro” na altura, havendo, “quase diariamente”, “surpresas” com achados arqueológicos em obras ou pequenas sondagens arqueológicas na cidade.
“Este é sem dúvida um tapete absolutamente magnífico, que mostra muito a história da cidade romana de Ossónoba, destas ligações com o Mediterrâneo, que está muito bem preservada e que continua a suscitar estudos, por parte dos arqueólogos”, conclui.
Para o presidente da Câmara de Faro, Rogério Bacalhau, o mosaico ajuda a desvendar as “raízes romanas do que era a cidade velha e de como a cidade se foi expandindo”, já que Faro, por essa altura, era uma cidade próspera, frequentada por mercadores, que tiravam partido da localização privilegiada da cidade, entre o Mediterrâneo e o Atlântico.
“Poucas pessoas sabem que, no início, a cidade de Faro era apenas esta muralha que aqui está e que estava rodeada praticamente de água. Isso diz muito daquilo que nós fomos”, sublinha o autarca.
Tal como no século II, também foi graças ao mecenato que a peça ganhou maior destaque, em 2014, quando foi integrada numa exposição que explica a história dos primórdios, apogeu e declínio de Óssonoba.
A exposição “Os rostos de Oceanus” tem como peça central o mosaico, mas conta também com algumas peças que estavam na reserva e foram recuperadas, entre moedas, lucernas e ânforas, assim como uma placa visigótica, que marca o declínio do Império Romano.
Descoberto inicalmente em 1926, entre as ruas Infante D. Henrique e Ventura Coelho, durante obras na cidade, o mosaico foi novamente soterrado e só voltou a ser avistado em 1976, altura em que foi retirado e recuperado, para depois ser integrado no acervo do museu.
O Museu Municipal de Faro foi o primeiro museu do Algarve e abriu ao público em 1897.
Marta Duarte