Juntaram a amizade que os unia e apostaram na música. Foi no ano de 1992 que surgiu a banda MOONSPELL. Volvidos dois anos, “depois de ter passado aquela fase das maquetes e garagem, conseguimos encontrar uma editora francesa e gravamos o nosso primeiro EP”, revela Fernando Ribeiro, a voz da banda.
O POSTAL conversou ontem com o vocalista da banda, que esteve no Noites F com os seus companheiros para uma atuação que marca o seu regresso aos palcos depois do surgimento da pandemia.
Conta Fernando Ribeiro, que o ‘boom’ do grupo, constituído ainda por Ricardo Amorim (guitarra), Pedro Paixão (teclado e guitarra), Aires Pereira (baixo) e Hugo Ribeiro (bateria), aconteceu no primeiro disco, em 1995, com Wolfheart. A partir dai, os MOONSPELL começaram a fazer digressões pela Europa. Portugal sempre foi um sitio onde a banda consolidou também a sua carreira.
Em 2020, o grupo orgulha-se de ter “uma história mais conhecida e um legado, que já deu uma biografia: ‘Lobos que Foram Homens”‘. Galardões de prata, ouro e o prémio MTV de ‘Melhor Banda’ são troféus que guardam. O 13º álbum está prestes a começar a ser produzido e estão por vir músicas novas. “Vamos explorar novos estilos, dentro do heavy metal vamos apostar no atmosférico, no gótico e no progressivo”.
A banda passa a maioria do tempo lá fora e Fernando Ribeiro admite que “já tocámos mais vezes em Moscovo do que em Faro”. O vocalista conta ao POSTAL que “temos um contacto muito direto com os nossos fãs”. A camaradagem faz parte do estilo musical heavy metal e os MOONSPELL concentram “quase uma relação de amizade com quem gosta de nós”.
Heavy metal é um estilo que precisa ganhar espaço em Portugal
“Os media e as pessoas especialistas em música deviam ter uma mente mais aberta”, refere. Para o vocalista, não se pode concentrar as atenções num só estilo musical, uma vez que o nosso país “tem várias sensibilidades”.
Fernando Ribeiro admite que “não me importo que não falem dos MOONSPELL, mas os nossos fãs às vezes mandam mensagens e dizem que ninguém falou de nós”. O vocalista da banda, refere ainda que “por vezes, o jogo está um bocadinho viciado”. A verdade, é a banda sempre assumiu os seus compromissos com as propostas que recebeu em Portugal e destaca até a atuação de 2018 no Festival F, onde foram “a única banda de heavy metal a tocar e, pelos vistos, correu bem”.
A opinião pública está polarizada, refere o vocalista, mas “a vida é feita de escolhas e a nossa escolha e dos nossos fãs é estarmos aqui hoje”. Durante a conversa com o POSTAL, foi possível perceber que haviam pessoas de todos os locais para ver a banda, inclusive, duas fãs que vieram da Polónia para assistir ao concerto em Faro. Ambas estavam junto à banda a conversar, numa proximidade que comprova que os fãs dos MOONSPELL estão mesmo ligados ao grupo.
Músicas com influências portuguesas
Apesar da língua oficiosa do heavy metal ser o inglês, a banda lançou em 2017 o álbum 1755, sobre o grande terramoto de Lisboa. O conjunto de músicas é uma reflexão poética, musical e filosófica da banda sobre o evento de 1 de novembro em Lisboa e as suas repercussões em todo o mundo.
Para já, no novo álbum, “não faz sentido cantar em português”. Contudo, lançar novamente músicas na língua portuguesa, não é uma hipótese colocada de lado pela banda, que, representada por Fernando Ribeiro, explica que “se houver outro evento que consideremos relevante, não fechamos a porta” a cantar em português.
Regresso aos palcos aconteceu no Algarve
Um evento que certamente será histórico, é também a pandemia do novo coronavírus. O regresso da banda, depois da covid-19, aconteceu em Faro. “É ótimo regressar, os músicos e as bandas fazem-se no palco”. Realça Fernando Ribeiro que o palco é um “contacto sem filtros”.
Para os MOONSPELL, o regresso aos palcos deve ser feito com pequenos passos, mas “para todos os artistas, este é um ato de coragem e inconformismo”. Destaca o vocalista que “este é quase o primeiro concerto das nossas vidas”. Num ano bom, a banda consegue dar cerca de 200 concertos, dos quais 15 em Portugal e regressar aos palcos em Faro, no Noites F, será certamente um marco.
“Esta série de concertos vai ficar na história”, completa Fernando Ribeiro. A maneira de sentir as músicas foi diferente durante a atuação. Sentados e distanciados, os fãs dos MOONSPELL não puderam saltar, abraçar os amigos e sentir a energia e contacto que faz parte do heavy metal. As máscaras estavam no lugar, mas a cabeça não deixou de balançar ao ritmo da música. Viveu-se uma nova realidade e a banda procurou uma harmonia nas canções escolhidas para acompanhar este momento.
A noite terminou em grande e os MOONSPELL agitaram o Noites F, deixando durante o concerto o apelo de que para o ano, esperavam ver o público, levantado e sem máscaras. Captar a energia através do olhar, foi a forma que Fernando Ribeiro e os companheiros tiveram, para sentir que o público estava com eles.