As fotografias que validaram o imaginário visual do músico António Variações, tiradas por Teresa Couto Pinto, foram reunidas num livro, para fixar a memória de uma geração que está a desaparecer, disse a autora à agência Lusa.
“É um relato intimista, é a minha relação com ele”, resumiu Teresa Couto Pinto, que foi amiga, confidente, agente e a mais relevante fotógrafa de António Variações, entre finais dos anos 1970 até à morte do músico, em 1984.
O livro “António Variações”, que é colocado à venda no dia 20 pela Oficina do Livro, tem o formato de um vinil longa duração (LP) e reúne grande parte das fotografias, algumas das quais inéditas, que fazem perdurar ainda hoje o universo visual e criativo do músico português.
Foi Teresa Couto Pinto, hoje com 65 anos, que “validou a estética inconcebível do cantor, com a autoridade documental da Fotografia. Uma estética que já existia, evidentemente, mas que António queria levar muito mais longe”, escreve Manuela Gonzaga no prefácio deste livro.
Manuela Gonzaga, escritora, responsável pela mais completa e consistente biografia de António Variações, aparece creditada como a autora do texto do livro, transpondo o discurso de memórias de Teresa Couto Pinto, a acompanhar a seleção das imagens.
No livro está a grande parte das sessões fotográficas que Teresa Couto Pinto fez com músico, já António Ribeiro era António Variações, nomeadamente séries de retratos em casa, revelando a extravagante paleta de cores e a decoração. “Um mundo mágico”, lê-se no livro.
São ainda recuperadas fotografias de António Variações na barbearia que tinha em Lisboa e os ensaios fotográficos, inéditos, com adereços icónicos na imagem visual do músico, como a tesoura, cuja forma representa as letras iniciais do nome artístico.
Para Teresa Couto Pinto, cujo nome foi bastas vezes obliterado na autoria das fotografias reproduzidas na imprensa, este livro era um desejo muito antigo.
“Este livro repõe, porque tem essa necessidade, aquilo que nos lembramos dele, nós, pessoas, que convivemos com ele. Para não dar margem para que cada um invente o que lhe apetece sobre o António Variações”, disse a autora das imagens.
Teresa Couto Pinto elogia o interesse que a obra musical e a iconografia de António Variações suscitou em anos recentes, para lá dos comentários sobre a homossexualidade e sobre as causa da morte, mas recorda a importância dos testemunhos orais de quem conviveu com ele.
“Numa geração que está a acabar, os sobreviventes têm de dar algum testemunho do que foi, porque a imaginação das pessoas é delirante”, afirmou.
Teresa Couto Pinto recorda no livro as circunstâncias em que conheceu António Variações, e lembra como um corte de cabelo e um interesse amador pela fotografia lhe mudaram a vida.
“Foi um tempo breve, mas muito intenso, em que tive o privilégio de o acompanhar como amiga, agente e fotógrafa. (…) Tal como ele, vivemos intensamente os anos 80 que, para alguns de nós, começaram na segunda metade da década de 70 quando vivemos a mudança de regime e testemunhámos a emergência de uma sociedade democrática. Foi épico”, refere no livro.
“António Variações” regista dois anos e meio de vida de palco do músico e, segundo Teresa Couto Pinto, ficam ainda de fora muitas fotografias, que talvez possam ser incluídas se for feita uma segunda edição.
Teresa Couto Pinto, detentora dos direitos autorais deste acervo fotográfico, gostava de um dia doar o seu trabalho.
“Mas não sei onde nem a que entidade. Talvez a alguma que demonstrasse ter interesse cultural naquilo e não apenas comercial”, disse.