Do Algarve, mais concretamente do Centro Agrário de Tavira, chegaram os cravos vermelhos que foram distribuídos pelas floristas do Rossio aos soldados da revolução.
Guilhermina Madeira, estudante que em abril de 1974 realizava o estágio do curso de regente agrícola no Centro Agrário de Tavira, tinha como objeto de estudo a plantação em estufa de várias espécies de cravos. Na altura, estava longe de pensar no quanto a sua experimentação mudaria a história do país, mas logo no dia a seguir à revolução tomou conhecimento da importância que as suas flores adquiriram.
“O senhor a quem nós vendíamos os cravos telefonou a pedir que enviássemos o máximo de cravos que pudéssemos”, recorda. “Tinha encomendas das floristas do Rossio a quem ele tinha fornecido os nossos cravos, por isso nesse dia soubemos logo”, conta Guilhermina.
Todas as segundas, quartas e sextas feiras as flores saíam de Tavira em direção a Lisboa. No dia 1 de maio desse ano, todos os que trabalhavam no projeto dos cravos, para além de serem obrigados a fornecer os clientes habituais, no Centro Agrário de Tavira tiveram também que responder à intensa “corrida” aos cravos vermelhos. “Na véspera do 1.º de Maio foi um corrupio, as pessoas queriam levar [os cravos] e nós não tínhamos!”, exclama Guilhermina.
Para se ter noção da demanda pelos cravos na altura, explica Guilhermina Madeira, agora com 78 anos, ao historiador Ignacio García-Pereda, o autor da obra “O Posto Agrário de Tavira (1926-1974), a quem contou a história, “que algumas das flores estavam ainda em botão e sem condições de serem comercializadas”.
O Movimento de Cidadãos Pelo Centro de Experimentação Agrária de Tavira (CEAT) e Hortas Urbanas, de modo a lembrar este marco naquela instituição agrária, voltou a plantar cravos vermelhos na horta comunitária situada naquele local. Os cravos já floriram e a primeira pessoa a quem fizeram questão de entregar uma flor foi a Celeste Caeiro, hoje com 91 anos, a mulher que ofereceu o cravo vermelho ao soldado que a colocou na espingarda e se tornou um ícone da revolução. Ângela Rosa, que faz parte deste movimento, explica que, ao saberem da iniciativa, os capitães de Abril convidaram os membros do CEAT para estar presentes no jantar que vão realizar no dia 24 de Abril na Estufa Fria, em Lisboa. “A Associação 25 de Abril teve esta generosidade (…) e nós muito comovidos estamos e muitos gratos por poder levar os cravos do Posto Agrário de Tavira de novo aos capitães de Abril”.
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