Quem não se lembra das viagens de carro no verão, quando os pára-brisas ficavam salpicados de insetos esmagados? Esse cenário parece estar a desaparecer, e os cientistas alertam que a diminuição desses pequenos cadáveres pode ser um sintoma de uma ameaça maior à biodiversidade global.
Uma pesquisa realizada pelo Kent Wildlife Trust no Reino Unido em 2019 revelou uma diminuição significativa de 50% no número de insetos mortos nos pára-brisas dos carros em comparação com os15 anos anteriores. Ao analisar mais de 650 viagens de carro no sudeste do Reino Unido, os resultados levantaram sérias preocupações sobre o possível impacto na cadeia alimentar global.
A pergunta que se impõe é: os carros modernos estão a ser fabricados de maneira a reduzir as colisões com insetos? Mesmo incluindo proprietários de carros clássicos na pesquisa para mitigar essa variável, a tendência de declínio persistiu.
Este fenómeno não é exclusivo do Reino Unido. Desde o início dos anos 2000, pessoas em todo o mundo têm notado uma diminuição nos encontros acidentais com insetos. Pesquisas na Dinamarca em 2019 indicaram uma redução entre 80% e 97%, enquanto um estudo em Porto Rico, em 2018, relatou uma queda na biomassa de insetos entre 10 e 60 vezes desde os anos 1970.
Especialistas alertam para um possível “insectageddon”, prevendo que até 40% das espécies de insetos do mundo possam enfrentar a extinção nas próximas décadas. As causas incluem alterações climáticas, uso inadequado de pesticidas, destruição de habitats e doenças.
No entanto, alguns argumentam que o fenómeno dos pára-brisas deve ser interpretado com cautela. Mesmo que as mudanças nos hábitats e nas distâncias dos insetos em relação ao desenvolvimento humano sejam preocupantes, não há uma conclusão definitiva sobre a diminuição global da população de insetos. Alguns defendem que a redução nas manchas nos carros pode ser simplesmente resultado de uma melhor aerodinâmica dos veículos.
Independentemente disso, a possibilidade de declínio nos insetos é uma notícia preocupante para a cadeia alimentar global. Mais de um terço das colheitas mundiais dependem de polinizadores animais, o que significa que cada terceira mordida que damos em frutas e vegetais pode ser afetada. O desaparecimento de insetos polinizadores como abelhas, borboletas e besouros poderia ter consequências significativas para as nossas fontes de alimentos.
Se a diminuição de insetos nos para-brisas simboliza ou não um problema maior, a possível redução desses polinizadores tem implicações que não podem ser ignoradas, alertando para a necessidade de medidas de conservação e preservação da biodiversidade.
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