– Dima, consegues falar num canal seguro?
– O [canal] seguro não funciona aqui, não conseguimos falar com ninguém. Onde é que estás?
(soldados russos ao telefone após um combate perto de Kharkiv, na Ucrânia)
As forças armadas ucranianas mataram esta segunda-feira o major-general russo Vitaly Gerasimov, chefe de gabinete e primeiro vice-comandante do 41.º exército do Distrito Militar Central da Rússia, nos arredores de Kharkiv, uma das cidades mais pressionadas pela ofensiva de Moscovo. A informação foi avançada pela agência de notícias ucraniana NEXTA e confirmada por fontes russas.
Gerasimov era um respeitado veterano de guerra do exército russo, tendo tido um papel importante nos últimos conflitos militares em que a Rússia se envolveu: a segunda guerra da Tchechénia, a guerra na Síria e a anexação da Crimeia – tendo recebido uma medalha de honra do Kremlin por “capturar” esta última região em 2014.
Também por este “currículo”, a morte de Gerasimov abalou o exército russo: “Durante a chamada em que o oficial do FSB [Serviço Federal de Segurança russo] destacado para o 41.º exército reporta a morte do seu chefe, ele diz que todas as linhas de comunicação seguras foram perdidas”, conta Christo Grozev, diretor executivo do jornal de investigação Bellingcat.
Para comunicar a morte de Gerasimov, este oficial do FSB usou um telemóvel com um cartão SIM normal – sendo por isso facilmente intercetado pelos serviços secretos ucranianos.
O jornalista do Bellingcat identificou que do outro lado da linha estava Dmitry Shevchenko, um oficial sénior do FSB que se encontrava em Tula, cidade a quase 600 km de Kharkiv. Quando ouviu a notícia através de um telemóvel civil, Shevchenko fez uma “pausa longa” e disse um palavrão, detalha o jornalista.
Inicialmente, o seu subordinado pergunta se podem falar através do Era – um sistema de comunicação militar criptografado introduzido pelo Kremlin no ano passado e que prometia funcionar “em quaisquer condições” de combate.
Mas o Era não estava funcional, e a culpa é dos russos: durante os últimos dias, o exército russo destruiu várias torres de telecomunicações 3G em Kharkiv. Ora, o sistema Era precisa de precisa de rede 3G ou 4G para funcionar. “O exército russo está equipado com telemóveis seguros que não funcionam nas áreas onde o exército russo está a operar”, resumiu o jornalista Christo Grozev.
Gerasimov é já o segundo general do 41.º exército russo a morrer durante a Guerra na Ucrânia: no início do mês, o próprio Kremlin confirmou a morte do braço direito de Gerasimov, o major general Andrei Sukhovetsky.
Ainda não há números confirmados sobre as baixas do exército russo até agora: para já, Moscovo admite a perda de cerca de 500 soldados em território ucraniano, mas o Governo ucraniano estima que já foram mortos em combate mais de dez mil soldados russos.
Além das deficiências de comunicação, agora reveladas pela morte de Gerasimov, o exército russo tem-se confrontado nos últimos dias com problemas logísticos e motivacionais: muitos dos homens que estão a invadir a Ucrânia pensavam inicialmente que estavam a participar num exercício militar e têm pouca experiência de combate, têm apontado várias fontes internacionais.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL