Analisadas as imagens, o Ministério Pública não tem dúvidas: “Faziam-no em manifesto uso excessivo de poder de autoridade que o cargo de militar lhes confere.” Mais: “Todos os arguidos agiram com satisfação e desprezo pelos indivíduos”, lê-se num despacho de acusação de 10 de novembro deste ano e ao qual a CNN Portugal e a TVI tiveram acesso.
As provas foram apreendidas em 2019 pela Polícia Judiciária, quando recolheram os telemóveis a cinco militares do posto da GNR de Vila Nova de Milfontes, Odemira, suspeitos de alegados maus tratos a imigrantes. A Polícia Judiciária de Setúbal já investigava os cinco militares por factos parecidos.
Um desses telemóveis, de um guarda de 25 anos, revelou as imagens que a CNN e a TVI agora publicam. São sete vídeos, no total, e mostram cenas de violência, insultos xenófobos, humilhações e incidentes de tortura física contra vários trabalhadores na região, que absorve principalmente mão-de-obra dedicada à agricultura, do Bangladesh, Paquistão e Nepal. Segundo se pode ver nos vídeos recolhidos pela PJ, os elementos da GNR montaram falsas operações stop para “apanhar” os imigrantes. Um deles é levado para um descampado à noite e torturado com gás pimenta, que os militares o obrigaram a inalar pela boca e pelo nariz através do tubo do aparelho de medição de taxa de alcoolemia, conhecido como “teste do balão”.
A procuradora do Ministério Público também não parece ter dúvidas sobre os motivos destes atos: “Ódio claramente dirigido às nacionalidades que tinham e apenas por tal facto e por saberem que, por tal circunstância, eram alvos fáceis.”
Das vítimas identificadas nas imagens, uma já morreu de acidente e outras terão saído do país.
– Notícia do Expresso, jornal parceiro do POSTAL