A amêijoa boa (Ruditapes decussatus) é uma espécie autóctone que enfrenta vários problemas de subsistência, sendo um deles a infeção causada pelo parasita Perkinsus olseni.
Nesse sentido, o estudante algarvio João Estêvão está a participar num projeto que “foca-se na compreensão dos mecanismos de infeção pelo parasita e na identificação de novos marcadores moleculares de resistência, tomando o uso de técnicas de sequenciação massiva. Para tal, será feita uma seleção de indivíduos não infetados em áreas fortemente afetadas pelo parasita ao largo da Europa”, segundo explica o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) da Universidade do Porto.
Posteriormente, “identificar-se-ão as proteínas e genes que conferem a resistência mediante comparação com indivíduos altamente infetados e com grupos controlo procedentes de áreas não afectadas. Com isto, espera-se assentar as bases para desenvolver famílias resistentes ao patógeno que no futuro possam ajudar a incrementar a produção de bivalves e dinamizar a economia de localidades costeiras”.
João Estêvão, com 31 anos, é natural da Luz de Tavira, concelho de Tavira, possui um mestrado integrado em Engenharia Biológica, pela Universidade do Algarve, e experiência em biologia molecular aplicada a vários organismos.
O mestrado integrado deu-lhe bases sólidas em ciências da engenharia biológica, onde adquiriu competências de desenvolvimento metodológico, de sistemas e de processos para resolver problemas da sociedade, mas também autonomia e capacidade de gestão em vários campos científicos. Durante o seu mestrado participou por iniciativa própria em várias atividades extracurriculares que o ajudaram a atingir uma larga compreensão em várias áreas e o ensinaram como comunicar a nível académico e científico.
Projeto sobre regeneração da pele em duas espécies de peixe plano constituiu a base da sua tese de mestrado
Um projeto no qual ele participou e que constituiu a base da sua tese de mestrado foi a regeneração da pele em duas espécies de peixe plano muito próximas (o pregado e o rodovalho).
Este projeto foi elaborado entre a Universidade do Algarve e a Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), que lhe permitiu aprender acerca de biologia molecular e bioinformática num estágio de 12 meses como aluno de investigação no grupo ACUIGEN (Universidade de Santiago de Compostela), através do programa ERASMUS.
A nível de multitarefas, abriu-lhe as portas para demonstrar a sua aptitude em trabalho de equipa e comunicação, bem como a oportunidade de participar em workshops, conferências e atividades extracurriculares em contexto internacional e multicultural, principalmente na área científica de investigação em aquacultura.
A nível de investigação, aprendeu acerca da biologia da pele em peixes e da resposta imune, conferindo-lhe também habilidade e experiência para trabalhar a nível histológico e estatístico e com ferramentas bioinformáticas a nível genético.
Após finalizar o seu mestrado, elaborou e coordenou um projeto de disseminação de ciência ao público com uma perspetiva de integração social, em conjunto com uma IPSS (Casa do Povo da Luz de Tavira), trabalhou como monitor e explicador de crianças do ensino básico e também como operador de armazém de produtos eletrónicos.
Posteriormente, e já a nível científico, trabalhou durante nove meses como estagiário profissional no grupo de Endocrinologia Comparativa e Biologia Integrativa (CEIB) do Centro de Ciências do Mar (CCMAR, Universidade do Algarve), onde participou num projeto europeu que se focou na exploração de microalgas para a aquacultura e o uso das suas potenciais biomoléculas para a aplicação em cosméticos.
João Estêvão frequentou um estágio de investigação na Arábia Saudita
Em seguida, frequentou um estágio de investigação na Arábia Saudita de 6 meses, na King Abdullah University of Science and Technology, para trabalhar num projeto direcionado à identificação de moléculas sinalizadoras envolvidas no desenvolvimento de plantas e na sua resposta ao stress ambiental.
Em ambos os estágios, aprendeu e aprofundou a sua experiência na área e em técnicas de biologia molecular, onde também aprendeu a trabalhar em laboratório e participou voluntariamente em vários workshops, seminários e reuniões. Por fim, conseguiu uma bolsa de investigação para trabalhar no grupo de Saúde Animal e Aquacultura (A2S) do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR, Universidade do Porto), onde participa no projeto TOOLS4BREED, que consiste na compreensão dos mecanismos de infeção pelo parasita Perkinsus olsenina amêijoa boa (Ruditapes decussatus) e na identificação de novos marcadores moleculares de resistência.
Durante a participação neste projeto, conseguiu uma bolsa de doutoramento para a continuação dos trabalhos no mesmo através do programa “Blue Young Talent PhD” do CIIMAR e onde se encontra a utilizar técnicas de sequenciação massiva na identificação dos referidos biomarcadores. Com este projeto, espera assentar as bases para desenvolver famílias de amêijoas resistentes ao patógeno que no futuro possam ajudar a incrementar a produção de bivalves e dinamizar a economia de localidades costeiras.
Atualmente, estudante do programa de doutoramento em Ciência Animal, do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS, Universidade do Porto), o João ambiciona realizar uma boa tese de doutoramento, com uma boa produtividade a nível científico, que lhe abra as portas para continuar a trabalhar em Portugal na área da biologia molecular aplicada ao estudo de doenças em espécies marinhas, com a finalidade de impactar não só em áreas da Aquacultura, mas também das Ciências Biomédicas e Veterinárias.
Após todo o seu diversificado percurso académico, João Estêvão menciona que o seu desejo “é poder um dia trabalhar nesta área na sua terra natal, no Algarve”.