A seca já é visível nos campos do nordeste algarvio e está a ameaçar as reservas aquíferas e alimentares que as atividades agrícolas e pecuárias deveriam consumir no verão, alertou, esta quinta-feira, o presidente Câmara de Alcoutim.
Em declarações à Lusa, Osvaldo Gonçalves refere que a situação naquela zona do Algarve faz antever grandes dificuldades para o resto do ano, uma vez que estão já a ser usadas as reservas de água que deveriam ser consumidas apenas durante a estação seca, no verão.
“Estamos a adiantar o consumo dessas reservas e, quiçá, a perigar para o futuro algumas dessas reservas, que vão esgotar, quer ao nível dos aquíferos, quer ao nível das próprias rações para os animais, dos prados permanentes e da vegetação espontânea, que neste momento está seca”, advertiu o autarca.
O presidente da Câmara e Alcoutim fez um retrato da seca no município do distrito de Faro, onde os efeitos da falta de chuva e de água já são visíveis, porque “o campo está completamente seco” e “não há humidade no solo”, uma situação idêntica a como se já tivesse chegado o mês de junho.
“Eu tenho algumas árvores de fruto no meu quintal e este ano não tenho fruto nenhum, porque o próprio calor – e eu associo isto a calor na altura da flor – matou aquilo tudo”, exemplificou, frisando que não tem dados científicos para sustentar esta avaliação, baseando-se “no que está aos olhos de toda a gente”.
Osvaldo Gonçalves observou que, em Alcoutim, não há uma grande pressão em termos de agricultura de regadio ou de rebanhos intensivos, sobretudo de bovinos, que são aqueles que mais consomem água, e notou que, mesmo nos ovinos e caprinos, a pressão não é muito relevante, porque “infelizmente já houve muitos mais rebanhos do que aqueles que há neste momento”.
Os produtores de gado e agricultores que ainda subsistem no concelho estão já a deparar-se com dificuldades causadas pela falta de chuva e pela seca, que é considerada severa em algumas zonas do sotavento (leste) algarvio, alertou o autarca.
“Essas pessoas começam a sentir neste momento uma preocupação relativamente àquilo que é o presente, que são os prados permanentes que se deveriam de manter até, pelo menos, até ao final do mês e que, entretanto, estão a ficar já completamente deteriorados”, justificou.
As forragens que foram semeadas nasceram, mas não progrediram, as sementeiras apenas cresceram e tudo o que se plantou para assegurar a subsistência nos próximos meses “não maturou, nem sequer espigou”, acrescentou.
A mesma fonte sublinhou que os rebanhos estão, provavelmente, já a ser alimentados com recurso a fenos e palhas, quando apenas deveriam estar a consumir pastagens, realidade que obriga os criadores de gado a um gasto adicional para fazer frente às necessidades dos animais.
“E o que se vai ouvindo é a preocupação das pessoas relativamente ao futuro, porque as reservas que estão a ser consumidas eram aquelas que deveriam ser usadas no verão”, concluiu.