O primeiro número da “Zeus. Revista de Cultura Viageira” vai ser apresentado no próximo sábado, às 16:00, na Biblioteca Municipal de Portimão, editada pelo Instituto de Cultura Ibero-Atlântica (ICIA).
“Dois amigos, António Cabrita, desde Maputo, e João Ventura, em Portimão, que diariamente trocam pontos de vista sobre livros, viagens, arte e cinema, e sobre os vários e comuns prazeres de “outrar-se”, resolveram que as ideias que iam partilhando precisavam de serem concretizadas numa aventura que permitisse agregar outros “pontos de vista” no sulco da rota necessária a reencontrar os caminhos do Outro, nesta época que tende ao reducionismo do pensamento binário, e empreenderam fazer uma revista”, explica o Instituto de Cultura Ibero-Atlântica em comunicado.
Uma revista que, através da literatura, dos relatos de viagem e dos motivos da arte, celebrasse essa reabilitação do Outro como “aquele que não sobra de nós, mas antes nos acrescenta facetas que nos enriquecem, iluminando de maneira festiva o inacabamento que somos”.
O centenário de elevação de Vila Nova de Portimão a cidade, promulgado por decreto pelo, então, Presidente da República, e um dos maiores viajantes e escritores do panorama português, Manuel Teixeira Gomes, impôs-se como pretexto para o arranque. Daí que este primeiro número tenha o apoio da Câmara Municipal de Portimão e que esta cidade seja palco da apresentação da revista a cargo da jornalista Elisabete Rodrigues, com leitura de textos pelo ator Luís Vicente e a presença de vários autores, integrada no programa de aniversário da Biblioteca Municipal, onde a sessão vai decorrer. Esboça-se neste gesto uma outra vocação associada ao conceito da Zeus: descentralizar, essa flexão dos ventos que nos traz um olhar novo.
Zeus era o nome do cargueiro holandês em que o escritor e “dandy” nascido em Portimão zarpou, depois de desiludido com a política no rincão nacional. Apresentou a sua demissão da presidência da nação, a 7 de dezembro de 1925, fez as malas e partiu dez dias depois, da doca dos submarinos, em Lisboa, para nunca mais voltar. Sempre errante, à medida das suas viagens, fez crescer a sua esplêndida obra.
O itinerário dos dez anos que lhe restaram de vida e a sua vida ambulante pelo Mediterrâneo é um dos pontos fortes deste primeiro número da Zeus, sob a pena da historiadora Maria da Graça Ventura. Carlos Alberto Osório faz o relato desse embarque e, numa repescada reportagem de época, Norberto Lopes lembra os últimos anos dessa excelsa figura em Bougie, na Argélia. Destacom-se também as viagens a Veneza, de João B. Ventura, e a viagem de bicicleta pelo Grande Sertão, seguindo as pisadas de Guimarães Rosa, do compositor e escritor brasileiro Makely Ka.
Continuando com os temas que se desenvolvem neste primeiro número da Zeus, Paulo José Miranda, o primeiro prémio José Saramago, num discorrer filosófico, cartografa as miragens que toda a viagem projecta; e num longo texto, António Cabrita apresenta o poeta-andarilho escocês, Kenneth White e a sua “geopoétique”.
Crónicas várias pontuam a revista, de Maria João Cantinho, Luís Filipe Sarmento e Luís Serpa, tomando sempre o tópico da viagem como motivação. Não faltam igualmente a ficção e a poesia, de Pedro Teixeira Neves, também autor da capa da revista, de Dinis H. Machado e do moçambicano Florindo Mudender.
João B. Ventura e Carmen Yañez transportam os leitores para os sabores gastronómicos e as degustações alcoólicas no México e na Colômbia.
Num viés mais político, que uma revista deste nosso tempo não pode descurar, contamos ainda com uma excelente reportagem fotográfica sobre uma Ucrânia devastada, de João Porfírio, “ilustrada” pelos poemas que a russa (dissidente) Galina Rymbu, escreveu no seu diário em verso, sobre o primeiro ano da invasão que testemunhou in loco na cidade ucraniana de Lviv, onde se havia refugiado com a família, devido à perseguição política. E no seio da própria UE, na Grécia, Fausta Cardoso Pereira, que trabalha com crianças refugiadas, capturou a matéria prima para o seu testemunho sobre as expectativas desses jovens e os deslizes morais que a hipocrisia destes tempos débeis labora com a sua morosa burocracia e as suas indefinições de carácter político.
João B. Ventura e António Cabrita assinam as recensões finais de alguns livros.
“Cremos ser motivos de sobra para nos acompanhar, na sessão de apresentação desta revista urbana e cosmopolita, onde a literatura, as artes e o pensamento se mesclam com o tema das viagens”, convida o Instituto de Cultura Ibero-Atlântica.
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