A exposição “Retratos Românticos”, patente no Museu Municipal de Faro até 29 de dezembro, reúne aproximadamente 50 peças de uma coleção particular, na sua maioria nunca antes exibidas ao público, disse à Lusa o seu diretor.
A mostra, com curadoria de Ramiro Gonçalves, do Museu Nacional de Arte Antiga, é desvendada em três salas – individualidade, memória e emoção -, integrando sobretudo retratos pintados a óleo, mas também esculturas, desenhos, cerâmica e fotografias referentes ao período do romantismo, entre os séculos XVIII e XIX.
Segundo disse à Lusa o diretor do Museu Municipal de Faro, Marco Lopes, a maioria das peças é de uma coleção particular e praticamente nenhuma delas tinha antes sido exibida ao público, sendo Faro o ponto de partida desta exposição itinerante, que seguirá depois para Cantanhede, no distrito de Coimbra.
“Trata-se de um conjunto de peças que não eram conhecidas da maior parte das pessoas, que praticamente nunca foram exibidas, e que dá a oportunidade de mostrar este património que é muito importante para o estudo, o conhecimento da arte e da cultura do país neste período em concreto”, referiu.
Os retratos são, na sua maioria, de figuras anónimas, mas há também um busto de Napoleão, outro do escritor alemão Goethe, um retrato do pintor francês Eugéne Delacroix, Luís Vaz de Camões representado num medalhão, Camilo Castelo Branco numa peça de cerâmica e, ainda, uma pequena escultura de Almeida Garrett.
De acordo com Marco Lopes, durante o período romântico há o surgimento de uma nova burguesia “que começa a ascender e se quer representar”, fazendo com que os retratos passem a não ficar reservados apenas à realeza ou à nobreza.
“Há aqui uma aristocracia e um conjunto de pessoas e de famílias que percebem que ficar para a posteridade é importante, em termos familiares, mas também em termos sociais, do ponto de vista do seu estatuto”, refere.
Para o historiador, uma gravura da autoria do pintor português Domingos Sequeira e, também, um auto-retrato seu, de 1810, são as obras que destacaria na exposição, por se tratar de uma “figura fundamental naquilo que é a arte e a pintura portuguesa” neste período, aqui mostrado de uma forma mais intimista.
A exibição de coleções particulares é um caminho que o Museu Municipal de Faro quer continuar a trilhar, não só por serem peças que habitualmente não são apreciadas pelo público, como pelo facto de a sua exibição contribuir para atualizar o discurso científico em torno de um determinado tema.
“Possivelmente, algumas das peças que aqui estão já vão permitir atualizar aquilo que são determinadas narrativas ou conteúdos sobre essa história ou sobre essa historiografia, que já, de alguma maneira, está estabelecida”, afirmou, sublinhando que o museu pretende, também, apostar num “discurso completamente diferente do habitual”, com uma programação não só ligada à arqueologia, arte antiga e contemporânea, como até aqui.
Para o próximo ano, o museu está a preparar uma exposição sobre Nadir Afonso, que vai reunir quase 90 obras do pintor português, uma forma de mostrar que o Museu Municipal e os museus do Algarve “não têm de ser tão periféricos” e que é preciso “descentralizar o conhecimento de coleções que estão reservadas ao público” dos grandes centros urbanos.
“O que nós pretendemos, no fundo, é mostrar exposições de qualidade, que ofereçam temas diferentes, que se liguem, tanto quanto possível, também com o seu território e que nos obriguem a pensar”, referiu, assumindo a vontade de o museu apostar em “curadorias corajosas e ousadas”.
“São curadorias corajosas e ousadas, na medida em que trazem novidades ao próprio discurso, desafios que nós também vamos lançando com estes projetos e é isso que nós pretendemos daqui em diante. Ou seja, que as exposições no Museu Municipal de Faro sejam mais ousadas, ambiciosas, quer no conjunto de peças que nós apresentamos, quer no discurso que a curadoria também vai fornecendo”, concluiu.
Leia também: Costuma fazer transferências por Multibanco? Saiba o limite máximo permitido