A Associação Portuguesa de Aquacultores exigiu “uma resposta urgente” sobre o destino a dar às toneladas de cascas de ostras das explorações da Ria de Alvor e de Sagres atingidas uma mortandade no mês de Outubro.
“Precisamos urgentemente que nos digam de que forma é que os produtores podem quantificar e o que fazer às toneladas de cascas que ainda se encontram nos viveiros”, disse à Lusa o secretário-geral da Associação Portuguesa de Aquacultores, Fernando Gonçalves.
As explorações de ostras, nove na Ria de Alvor e uma ‘off-shore’ (exploração em mar aberto) em Sagres, foram afectadas no mês de Outubro por um vírus e por uma bactéria, identificados nas análises do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) como ‘herpes vírus’ e ‘víbrio’, respectivamente, que devastou 95% da produção avaliada em cerca de três milhões de euros.
O representante dos Aquacultores considera “inadmissível que quase um mês depois, os produtores sejam obrigados a manter as cascas nos viveiros, o que impede a quantificação dos moluscos afectados, sem saber qual o destino a dar ao produto”.
“Aguardamos por uma clarificação das várias entidades que tutelam o sector, sobre o destino a dar às cascas, uma vez que é um subproduto de categoria 2, o que obrigaria à sua inceneração. Contudo, consideramos que as cascas, sem qualquer miolo, não deverão ser classificadas como tal”.
Associação espera reunir com o Governo para que se encontrem soluções
Na opinião de Fernando Gonçalves, “as cascas são material calcário e não representam qualquer perigo de contaminação, podendo ser utilizadas, por exemplo, nos caminhos de terra de acesso às explorações ou enviadas para um aterro sanitário”.
“A inceneração resultaria em elevados custos para os produtores, cujo preço ronda os 60 cêntimos por quilo”, destacou, acrescentando que a associação espera reunir com o Governo para que se encontrem soluções e apoios para ajudar os produtores a recomeçarem a produção”.
Em declarações à Lusa, Rui Ferreira, responsável da OstraSelect, o maior produtor de ostras do Algarve, disse que perdeu “cerca de 95% da produção, e que a inceneração resultaria num esforço financeiro de aproximadamente 150 mil euros”.
Rui Ferreira explicou que a empresa, que produz 200 toneladas de ostra por ano, exportadas quase na sua totalidade para França, “não tem capacidade financeira para suportar eventuais custos com a inceneração, depois de ter sofrido prejuízos na ordem de um milhão de euros com a mortandade do produto”.
Rui Ferreira frisou que os elevados prejuízos obrigaram à redução de dois postos de trabalho e que está a ser ponderada a continuidade da empresa.
“Não vamos investir outra vez sem saber o que se passou. Vamos ter que trabalhar de outra maneira, com planos permanentes de monitorização para termos certezas no futuro”, concluiu.
Em declarações à Lusa, Helena Silva, coordenadora do Sistema Nacional de Monitorização dos Moluscos Bivalves do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) atribuiu a mortandade das ostras na Ria de Alvor “à contaminação pelo herpes vírus, elemento encontrado em cargas elevadas” nas análises efetuadas pelo instituto e à bactéria ‘víbrio’ na exploração ‘off-shore’ em Sagres.
De acordo com Helena Silva, o vírus terá sido transmitido a partir de ostras juvenis importadas de França, aconselhando os produtores a “escolherem melhor os fornecedores de ostras”.
(Agência Lusa)