Os incêndios que atingiram a serra de Monchique em 2016 e 2018 provocaram uma redução de cerca de 50% na colheita de medronho, fruto usado na produção de aguardente, disse à Lusa o responsável por uma associação de produtores.
Em declarações à Lusa, o presidente da Associação dos Produtores de Medronho do Barlavento Algarvio (Apagarbe), Paulo Rosa, contabiliza “em milhares de euros o prejuízo dos produtores entre 2017 e 2021, num setor económico essencial” para o concelho e que tem sido fustigado pelos incêndios.
“Os fogos de 2016 e de 2018 percorreram uma vasta área de medronheiros e afetaram em cerca de 50% a quantidade do fruto colhido, impacto que ainda hoje é sentido”, indicou aquele responsável.
Contudo, segundo o dirigente de uma das maiores associações do setor no país, sendo o medronheiro uma árvore que se regenera facilmente, a produção anterior aos incêndios deverá “ser reposta a curto prazo”.
“Devido às condições únicas da serra de Monchique, com elevada humidade, o que se perspetiva é que a produção dos medronheiros seja recuperada entre dois e três anos”, sublinhou Paulo Rosa.
Embora a colheita do medronho seja feita habitualmente no outono – entre a segunda quinzena de setembro e outubro -, o dirigente associativo prevê que este ano “a safra se inicie mais cedo”.
“Os sinais indicam que o medronho vai amadurecer mais cedo na zona da serra de Monchique, devido à variedade climática registada”, destacou.
Paulo Rosa estima que o elevado grau de humidade registado este ano “possa contribuir para um ligeiro aumento” da produção da aguardente de Monchique em 2022, produto com a classificação de Indicação Geográfica Protegida (IGP).
“Nas duas últimas épocas, a produção do fruto foi semelhante, embora o que foi colhido em 2020 tenha originado maior quantidade de aguardente. Estou em crer que o fruto que vai ser colhido este ano será ainda mais produtivo”, advogou.
Segundo o dirigente da Apagarbe, o setor da produção de aguardente “tem vindo a crescer”, antevendo igualmente um aumento das plantações de medronheiros.
“Tem aumentado o interesse pela produção de um produto que tem em Monchique uma marca de referência da qualidade no mercado”, apontou, acreditando que o futuro do setor está garantido, embora “exista cada vez menos mão-de-obra para a apanha do fruto, por ser um trabalho temporário e pouco atrativo”.
“A colheita é um trabalho solitário na serra, sujeita às intempéries. No geral um trabalho desagradável”, notou.
O dirigente associativo lembra, no entanto, que esta dificuldade “pode sempre ser colmatada com o recurso a empresas de trabalho temporário”, tal como noutros setores agrícolas.
A associação agrega uma centena de produtores de aguardente de medronho, dos quais 80 certificados para a comercialização e os restantes com autorização para produzirem um máximo de 30 litros anuais para consumo próprio.
No verão de 2018, a serra de Monchique foi atingida por um grande incêndio, o maior registado nesse ano na Europa, que durante uma semana não deu tréguas aos bombeiros, consumindo mais de 27 mil hectares de floresta e terrenos agrícolas e 74 casas.