A EDP tem mil milhões de euros para investir em inovação até 2025, e o hidrogénio faz parte dos planos. O CEO da EDP Inovação, António Coutinho, explica de onde vem a certeza de que o hidrogénio verde se tornará uma realidade no mundo da energia, e revela que está a ser estudada a possibilidade de este ser produzido com base na energia eólica que vem do mar – a offshore.
Mais do que evoluir em termos tecnológicos, o hidrogénio verde tem de evoluir no que diz respeito aos custos. “Aquele caminho que vimos no solar, nas baterias, que descem 90% do seu custo em 10 anos, temos de fazer esse caminho nos eletrolisadores”, que permitem a produção de hidrogénio verde, afirma o diretor da EDP Inovação. E isto está bem encaminhado? “Vai acontecer”, garante. Para Coutinho, “muitas dessas pessoas [que são céticas de que o hidrogénio verde seja viável economicamente] são as mesmas que diziam que os painéis solares não estavam hoje francamente mais baratos”.
A certeza de que o hidrogénio será uma componente viável para a transição energética vem de uma lei económica, a chamada curva de experiência, explica Coutinho. Essa lei “diz algo como: por cada duplicação de capacidade instalada, reduzimos em x% o preço”. Nesse caso, desde que seja previsível quantos gigawatts de eletrolisadores vão estar instalados, conseguir-se-á estimar a evolução dos custos. E, dado que existem poucos eletrolisadores, há muito espaço para duplicar a capacidade.
Mas aqui entra a história “do ovo e da galinha”: para duplicar, é preciso começar a instalar. Mas, para isso, é preciso haver consumo – e contratos que o assegurem, defende Coutinho. “E aí a vontade política é importante para acelerar processos. Já existe vontade das empresas”, afere.
António Coutinho, CEO da EDP Inovação, esteve com a sua equipa na Web Summite. Foto D.R José Fernandes
A INOVAÇÃO DE AMANHÃ, A ACONTECER HOJE
António Coutinho falou com o Expresso em plena Web Summit, a cimeira tecnológica que decorreu em Lisboa ao mesmo tempo que se iniciava a 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26), em Glasgow. Esta última encerra esta sexta-feira, dia 12 de novembro. E ambas representam dois temas que a EDP pretende cruzar: inovação e transição energética.
Neste contexto, Coutinho explicou que o trabalho da EDP Inovação é “pensar que coisas vamos poder fazer para entregar o crescimento” com que a empresa se comprometeu em 2024, 2025, 2030, o qual está intimamente ligado à transição energética. Cabe-lhe debruçar-se sobre os projetos que, para já, soam como uma ideia estranha, mas que podem mesmo tornar-se realidade.”O Windfloat era um desses projetos”, afirma, referindo-se à tecnologia de energia eólica flutuante que a EDP tem hoje em funcionamento nas águas que banham Viana do Castelo. O projeto demorou seis anos até estar pronto a implementar, mas agora, considera, “coloca a EDP numa posição de referência mundial”.
Com este projeto a amadurecer, o berço da EDP Inovação dá lugar a outros, e um deles é precisamente a produção de hidrogénio a partir de energia eólica offshore. É tão novo, que não se sabe quando (ou se) terá força para avançar em força. “São projetos extraordinariamente complexos, que não são para 2022”, refere Coutinho, que diz contar com o envolvimento de parceiros internacionais neste caminho.
Em paralelo, outra das questões que está a ocupar a área de Inovação da EDP é “como se resolve o problema do carregamento de veículos elétricos em áreas residenciais onde não existem garagens?”. A resposta está a ser procurada em conjunto com a empresa de telecomunicações Nos e o Ceiia – Centro de Engenharia e Desenvolvimento.
93 START-UPS NA MIRA
Nas cabines que faziam parte do espaço EDP na Web Summit, as start-ups tinham um minuto para se apresentarem. Do outro lado do vidro, sentavam-se, atentos, membros da equipa da EDP Inovação. O tempo começava a contar, e, ao lado, uma luz azul ascendia. O feixe preenchia uma espécie de termómetro que, em vez de graus centígrados, tinha nomes de cidades. Era, no fundo, uma medida de urgência: simbolizava as cidades que ficarão submersas, cronologicamente, se nada for feito para travar as alterações climáticas. Havia que falar e fazer acontecer, rápido.
Aqui, a EDP procura inspiração e parceiros. Quer “fazer mais com menos, ou procurar outras formas de acelerar crescimento”. “As empresas que vão ser melhor sucedidas são as que conseguem ter um ecossistema mais amplo e melhor conseguem colaborar com ele”, acredita. Portanto, num palco como a Web Summit procuram estender a rede com os empreendedores – um trabalho que também é feito, noutras instâncias, com faculdades e empresas mais maduras.
No evento, foram ouvidas 323 start-ups, das quais 93 passaram a primeira triagem. Estas dividem-se em quatro campos. Primeiro, inteligência artificial, gestão de dados e machine learning. Depois, soluções para melhorar energias limpas. Finalmente, um empate entre a mobilidade elétrica e redes inteligentes. Destas, algumas podem singrar: das 800 stat-ups ouvidas nas últimas quatro edições, resultaram 12 projetos pilotos e quatro investimentos.
– Notícia do Expresso, jornal parceiro do POSTAL