O ano é de crise económica, em Portugal e a nível global. Com a pandemia de covid-19 a infetar a economia global, recessão é uma palavra transversal em 2020 à esmagadora maioria das economias, um pouco por todo o mundo.
E é esse o cenário, sombrio, para os principais parceiros comerciais portugueses. Mas, há sectores de atividade no país que conseguiram dar a volta e, no terceiro trimestre, exportaram mais do que no mesmo período do ano passado, mostram os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Há subidas a dois dígitos e há, até, casos em que os valores de 2019 foram ultrapassados nos primeiros nove meses do ano, apesar do confinamento que marcou a Primavera.
Quem puxa para cima e para baixo as exportações de bens
Variação homóloga no terceiro trimestre (e peso no total), em percentagem:
Com as exportações de serviços ainda muito penalizadas, por causa do turismo, as exportações de bens foram uma das alavancas na recuperação da economia portuguesa no terceiro trimestre deste ano, depois do trambolhão sofrido nos três meses anteriores. E, em diversos casos, as vendas ao exterior ultrapassaram mesmo o patamar registado no mesmo período de 2019.
Os números do INE colocam em destaque categorias de bens como as armas e munições (incremento de 37,5% em termos homólogos no terceiro trimestre); os instrumentos e aparelhos de ótica, fotografia, cinematografia, medida, controlo, precisão, médico-cirúrgicos, de relojoaria ou instrumentos musicais (mais 13,5%); os produtos das indústrias alimentares, bebidas e tabaco (subida de 13,2%); as gorduras, óleos e ceras animais ou vegetais (aumento de 10,4%); os produtos do reino vegetal (incremento de 8,3%).
E se há casos onde o peso nas exportações é pequeno, como acontece com as armas e munições que apesar do forte crescimento representaram apenas 0,1% do total das vendas nacionais de bens ao exterior, noutros é significativo, chegando aos 6,7% nos produtos das indústrias alimentares; bebidas e tabaco.
O sector do vinho é uma das estrelas. Os dados da Viniportugal e do IVV indicam que na primeira metade do ano as exportações caíram em termos homólogos, mas no terceiro trimestre já se verificou um crescimento de 6,9%, atingindo 224,3 milhões de euros. Um incremento puxado pelos mercados fora da União Europeia que levou a que nos primeiros nove meses do ano o sector já tenha ficado no verde, com as exportações a subirem 2,43% em termos acumulados face ao mesmo período de 2019, atingindo 589 milhões de euros.
Toda a fileira agro-alimentar está no verde no conjunto dos primeiros nove meses do ano. O valor acumulado de exportações entre janeiro e setembro ascende a 4,5 mil milhões de euros, o que traduz um crescimento de 1,6% comparando com o período homólogo, indicam os dados da Portugal Foods. No terceiro trimestre, em concreto, os valores referidos pela associação ao Expresso são de 1,59 mil milhões de euros de exportações, o que compara com 1,51 mi milhões no terceiro trimestre de 2019.
Nesta área, as frutas, legumes e flores tiveram uma evolução positiva, com as exportações a crescerem 7% entre janeiro e setembro face ao mesmo período de 2019, atingindo 1246 milhões de euros, indicam os dados da Portugal Fresh. E foram as frutas que mais se destacaram, com um incremento de 13%. Nota ainda para o segmento das flores e plantas ornamentais, onde, apesar da crise no sector dos eventos, as vendas ao exterior subiram 8,5%.
Outro destaque na área agroalimentar é a suinicultura: exportou 135 milhões em 2019 e 142 milhões nos primeiros nove meses deste ano, indica a Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores. E, no terceiro trimestre, teve o melhor desempenho de sempre no que diz respeito ao valor total das exportações, com um valor agregado de 51,7 milhões de euros, mais 65% do que no período homólogo de 2019.
SAÚDE EM ALTA
Com a pandemia a colocar a área da saúde no centro das atenções, as exportações do sector, segundo os dados da AICEP/INE, estão a subir 11,2% nos primeiros nove meses do ano face ao mesmo período de 2019, para 1276 milhões de euros. Uma subida transversal a quase todas as componentes, como os instrumentos e material médico-cirurgico (mais 4,3%), os medicamentos (11,5%) e os princípios ativos (24,9%).
Há ainda outras categorias de bens com variação homóloga positiva no terceiro trimestre, sinalizam os dados do INE. É o caso das obras de pedra, gesso, cimento, amianto, mica, cerâmica ou vidro (mais 3,1%); das máquinas e aparelhos, material elétrico, e suas partes (subida de 1,7%); das mercadorias e produtos diversos (aumento de 1%); e dos metais comuns e suas obras (incremento de 0,1%).
No que toca à metalurgia, um dos pesos-pesados das exportações portuguesas de bens (a fileira do metal vale 7,4% do total, segundo os dados do INE), os números da AIMMAP sinalizam um crescimento homólogo de 0,3% no terceiro trimestre, para 4,4 mil milhões de euros. Setembro foi o terceiro melhor mês de sempre da história do sector, com 1,7 ml milhões de euros de exportações, mais 2% do que no período homólogo. Contudo, a associação sinaliza que no acumulado dos primeiros nove meses do ano, o saldo face a 2019 ainda é negativo (-17,4%).
Quanto aos componentes automóveis, os dados da AFIA indicam um crescimento de 4,9% no terceiro trimestre por comparação com o mesmo período do ano passado, para 2,3 mil milhões de euros. E assinalam que setembro, com uma subida homóloga de 9,4%, foi o terceiro mês consecutivo de alta nas exportações. Contudo, tal como na fileira do metal, o saldo nos primeiros nove meses do ano ainda fica abaixo do mesmo período de 2019 (-16,3%).
Uma última nota para o sector têxtil, outro peso-pesado das exportações portuguesas de bens. É que apesar de estar a cair – 12,7% este ano (até setembro), o segmento dos têxteis-lar e outros artigos têxteis confecionados, que abarca as máscaras e artigos para campismo, entre outros, destaca-se pelo crescimento de 12,5% (para 593 milhões de euros), indicam os números da ATP/Anit-lar. Nos têxteis-lar especificamente, há crescimentos homólogos de 2,5% em julho, 10,5% em agosto e 4% em setembro. Embora no conjunto dos primeiros nove meses ao ano, este segmento esteja a cair 12%, é um número mais moderado do que a queda de 17% de janeiro a agosto.
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso