A pouca afluência de turistas, a tardia definição de regras e a mudança de competências para as autarquias ou estão a dificultar a preparação da época balnear, disseram à Lusa responsáveis de concessões e apoios de praia do Algarve.
A 10 dias da abertura da época balnear, prevista para entre 1 de junho e 30 de setembro, o presidente da Associação dos Industriais e Similares Concessionários das Praias da Orla Marítima do Algarve (AISCOMA) assegurou que os empresários estão de novo a preparar-se para um verão “incerto”, depois de no “ano passado terem registado prejuízos” devido aos efeitos da pandemia de covid-19 na economia e no turismo.
“O ano passado estivemos no terreno com a nossa boa vontade para enfrentar a situação, este ano voltamos a trabalhar com o mesmo voluntariado, mas estamos preocupados, porque não sabemos como vai ser a época balnear, qual vai ser o afluxo de turismo, e é mais um ano de preocupação para nós”, afirmou Artur Simão.
Nelson Guerreiro, concessionário de praia em Quarteira (Loulé), considerou que a principal dificuldade do setor é “a falta do mercado estrangeiro” no Algarve, onde “ainda não há ninguém”, apesar de Portugal já estar na lista verde de viagens para cidadãos do Reino Unido.
Para aquele responsável, a falta de turistas, comparativamente com anos anteriores, vai deixar a operação deste verão muito “dependente do mercado português”, que só começa a “mexer a partir de 15 de julho e até agosto”.
“O aluguer diário quase não dá para pagar despesas, logística, seguros, montagem, escrituras. Torna-se muito caro, depois há o material degradado de um ano para o outro que tem de ser substituído”, exemplificou, manifestando o desejo de que a operação deste verão permita suportar os custos.
Desde segunda-feira que estão autorizados os voos não essenciais entre Portugal e o Reino Unido, bastando aos turistas britânicos apresentar um teste negativo para a covid-19 realizado nas 72 horas anteriores.
João Guerreiro, sócio de um apoio de praia em Vilamoura (Loulé), no limite com o concelho vizinho de Albufeira, lamentou que as regras para a época balnear de 2021 não tenham sido divulgadas com mais tempo de antecedência.
Segundo o também presidente da Associação Empresarial de Vilamoura e Quarteira, com tempo, poderia haver uma maior “preparação e organização dos apoios de praia para instalação das estruturas”, correndo-se agora o risco de “aumento dos custos de instalação” e de “dificuldades no ajustamento e adequação das estruturas em relação à clientela futura”.
Para o empresário, o uso de máscara – umas das regras sanitárias impostas nos acesso às praias e estabelecimentos de praia – “não é um impedimento” para a atividade e “dá segurança às pessoas”, acabando por ter influência na operação.
“O turismo depende de as pessoas se sentirem à vontade, a propensão para o consumo depende da forma como as pessoas se descontraem, e o turismo visa exatamente isso, descontrair as pessoas. Precisamos é que as pessoas se sintam seguras e, para isso, o elemento mais preponderante será a vacinação massiva”, defendeu.
Para aquele responsável, a vacinação de mais de 70% das populações, tanto portugueses como estrangeiros, acoplada a um conjunto de medidas de segurança, como a máscara, “é o caminho para melhorar muito a situação económica e a vida social”, abrindo perspetivas para “um verão muito interessante”.
No entanto, na opinião de João Guerreiro, devem ser criados mecanismos que “tornem gratuito ou menos caro” o processo de testagem à covid-19, porque “os testes acabam por ser mais caros do que a viagem”, devendo haver “soluções que garantam que as pessoas se sintam seguras” mas “sem encarecer de forma desmesurada” as viagens.
Por seu turno, a par da incerteza sobre a afluência turística, Artur Simões relata que os associados da AISCOMA estão também a sentir “problemas com a descentralização e com o facto de se ter passado para as Câmaras” a gestão e licenciamento das áreas balneares, receando um “aumento de taxas” por parte dos municípios.
“Há municípios onde não sabemos o que vai acontecer, parece que há câmaras que querem cobrar mais taxas do que é habitual e estamos preocupados com isso”, disse, frisando que a AISCOMA tem também “preocupação” quanto aos efeitos da transferência de competências para os atuais proprietários nos concursos a realizar pelos municípios.
O dirigente associativo sublinhou que a associação “não quer que os atuais concessionários sejam prejudicados” nos concursos, argumentando que foram “feitos investimentos, dentro de determinadas normas do Ministério do Ambiente”, e, agora, estes pressupostos “não devem, de maneira alguma, deixar de existir” .