Ainda pouco se falava de turismo no Douro quando a filha mais nova de Américo Amorim tomou a seu cargo a tarefa de tornar a Quinta Nova uma referência, baseando-se nas potencialidades da região e na forma como se fazia enoturismo no estrangeiro. Passados quase 20 anos, a autenticidade é cada vez determinante nos projetos que abraça, sempre ligados ao vinho.
Quais são os desafios que o turismo enfrenta em Portugal neste momento?
São muito complexos e comuns a todos os países da Europa. Mas o grande desafio que vamos ter no próximo ano é o da mão de obra. A perda da qualidade — e não da quantidade —, dos recursos humanos: grandes profissionais do turismo, quadros bem formados que começam a questionar-se se querem continuar a trabalhar em hotelaria.
Como era trabalhar o turismo no Douro em 2005, quando começou na Quinta Nova?
Era um sonho, uma vontade, mas não uma realidade. Havia uma grande dificuldade porque as pessoas não estavam habituadas a trabalhar em parceria e em concorrência. Demorou alguns anos a entender que a união faz a força. No enoturismo temos de ter uma só voz e uma só oferta para a região, com diferentes experiências. As quintas não são todas iguais e é isso que o cliente procura: a autenticidade de cada lugar.
Nesta altura já existe a noção de que juntos vão mais longe?
Também já se percebeu o que é o Douro: a maior área vitivinícola do mundo de montanha, uma região diferente, e com um encanto particular. Um vale de difícil acesso, com muitos declives. Come-se e bebe-se bem por isso é para andar devagar. Nunca se pode falar em quilómetros mas no tempo que se demora a chegar. As pessoas estavam habituadas a outros locais e assustavam-se um bocadinho. Agora, o Douro está a ressurgir graças a muitas pessoas locais e de fora que querem puxar pela região. Alguns trazem modernidade, outros vão buscar o lado histórico e cultural que estava um pouco esquecido.
No caso da Quinta Nova, o facto de ser um local isolado e de difícil acesso acabou por se tornar uma vantagem?
Todos os destinos têm diferentes segmentos. Temos de saber em que nicho nos integramos. Na Quinta Nova temos um cliente especial que vem de muito longe para nos visitar, por ser um sítio muito bonito e especial. Sempre trabalhámos a exclusividade porque não somos uma casa muito grande, mas temos uma cultura local muito enraizada. Estamos habituados a um cliente que sabe o que quer, é muito leal e regressa com frequência, maioritariamente estrangeiro mas também de todo o país. O facto de estarmos longe não é impeditivo de termos muitos clientes. Continuamos a ser uma muito boa referência mas isso tem de se trabalhar. Também devemos apoiar quem quer investir no enoturismo, enquanto “escola viva”, com bons exemplos e práticas capazes de ajudar a melhorar os novos negócios na área.
Os projetos de sustentabilidade social, como a Associação Bagos d’ Ouro, a que preside, podem ajudar a tornar fixar a comunidade e torná-la mais resiliente?
Tenho a certeza que sim! A educação faz acontecer tudo. Fundei a Bagos de Ouro há 11 anos. É fundamental criarmos condições para que muitas crianças e jovens possam residir no Douro e criar uma conciliação entre os que residem e as empresas que investem; apoiar, desde o primeiro ciclo, criar novas oportunidades e ajudá-los a concretizar sonhos, seja no turismo ou noutras áreas. Para o próximo ano vamos apoiar 40 universitários. Hoje, já muitas empresas do sector do vinho do Porto, e não só, estão connosco a fazer diferença numa região muito pobre do país que precisa muito disto. A educação faz mudar o futuro.
Quais são para si os maiores desafios de criar e manter um projeto turístico autêntico?
Quando começamos um projeto turístico temos de ler e saber interpretar. Conhecer as pessoas, os intérpretes da região, investigar a história, o território… Tudo isto nos dá o sentido e a alma do lugar. A gastronomia também diz muito sobre a cultura local, tal como o artesanato. No Dão servimos pão regional com queijo da Serra da Estrela e enchidos. E é o que as pessoas querem: o simples, o genuíno, com sabor, autêntico. O que é local, mais sustentável. Depois a decoração e a arquitetura. Vamos sempre muito à cultura local. Na Taboadella, no Dão, fizemos uma adega ultramoderna mas usámos a madeira como registo local. O enoturismo para ser de nicho, que é a realidade do país, precisa de um discurso de autenticidade. Tenho de saber olhar para a minha propriedade e dizer “eu sou bom nisto. Vou contar a minha história à minha maneira e vender aquilo que é meu”. E é preciso perder a ideia de que é de graça. Tudo o que não é cobrado sabe a barato e perde valor. Se eu estou uma hora a trabalhar, a dar a provar, isso tem de ser recompensado. É preciso perder o complexo e ter uma lógica comercial.
O que pode contribuir mais para projetar Portugal: o turismo ou os vinhos?
O enoturismo tem de ser um segmento tão ou mais importante que os outros. Mas para isso deve estar desenvolvido e em Portugal ainda não está. Tanto o Turismo de Portugal como os operadores têm de o levar muito a sério, e em simultâneo. Não podemos dizer que temos enoturismo e depois estarmos sempre fechados. É preciso criar circuitos e trabalhar de forma profissional. Porque razão este é um grande negócio para alguns e não para outros? Quem tem sucesso é porque o encara de uma forma muito profissional. Na Quinta Nova temos 30 pessoas e já cá estamos há 16 anos. No início é preciso investir, e começar devagarinho, principalmente quando somos pequenos. Não é por termos uma loja que os clientes vão todos aparecer. Muitos portugueses habituaram-se a estar dependentes dos fundos comunitários e a investir tudo de uma vez. Mas os turistas não aparecem todos ao mesmo tempo. Esse é o segredo: investir aos poucos. E acreditar, porque o turista anda aí. Se não está à nossa porta está na porta ao lado.
Cresceu com um visionário. Que lição lhe deixou o seu pai no ramo do turismo e que diferenças existem entre a geração dele e a sua na forma de encarar os negócios?
Uma das grandes lições que o meu pai me deixou foi viajar. E para quem quer fazer alguma coisa no turismo, a maior lição é esta: sermos nós próprios turistas. Quanto às diferenças de postura, creio que falta disponibilidade, sacrifício e diálogo às novas gerações”.
O que tem de saber acerca do Prémio
O projeto
Com os olhos postos no futuro, a terceira edição do Prémio Nacional de Turismo vai premiar negócios e projetos nacionais que se distingam como casos de sucesso em Portugal. A iniciativa do BPI e do Expresso conta com o patrocínio do Ministério da Economia e da Transição Digital, o apoio institucional do Turismo de Portugal e o apoio técnico da Deloitte.
As categorias
- ♦ Turismo autêntico Projetos que apresentam oferta abrangente e equilibrada do ponto de vista territorial, bem como da utilização e alavancagem de recursos locais e endógenos;
- ♦ Turismo gastronómico Projetos que se destaquem por oferta gastronómica diferenciada e autêntica, alicerçada na valorização e promoção da gastronomia regional e nacional;
- ♦ Turismo inclusivo Projetos que promovam um reforço da relação com o consumidor, através da comunicação ou de iniciativas que visem a sua inclusão e fidelização;
- ♦ Turismo inovador Projetos que apresentem uma oferta inovadora e a utilização de ferramentas e meios digitais para a comunicação, distribuição e análise do desempenho;
- ♦ Turismo sustentável Projetos que se distingam pela sustentabilidade ambiental, económica e responsabilidade social subjacentes à estratégia de médio/longo prazo.
Prémio Carreira
À semelhança das edições anteriores, será ainda distinguido com o Prémio Carreira uma personalidade que se tenha destacado com um importante contributo para o sector do turismo.
Datas importantes
Para se habilitar a vencer o Prémio Nacional de Turismo apresente a sua candidatura até 31 de julho de 2021.
Onde se candidatar
Encontra toda a informação sobre o regulamento, categorias, critérios de avaliação e prazos no site oficial do prémio.
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso