“Neste momento, a nossa grande dificuldade é saber que regras é que vamos ter que aplicar nas salas de reuniões, porque corremos o risco de vir a ter vários cancelamentos”, afirmou o diretor-geral do Tivoli Marina Vilamoura, cujo centro de congressos tem 23 salas, a maior com capacidade para 3.000 pessoas.
Jorge Beldade adiantou à Lusa que vai requerer “uma clarificação” ao Governo para que não haja incoerências, dando como exemplo um evento que juntou no Campo Pequeno, em Lisboa, “duas mil e tal pessoas” e questionando porque “não se pode fazer a mesma coisa num centro de congressos desta dimensão”.
Segundo aquele responsável, a pandemia de covid-19 levou ao adiamento de vários congressos e conferências previstas para decorrerem entre os meses de setembro e março do próximo ano e esta indefinição “pode levar a muitos cancelamentos por falta de resposta”.
Jorge Beldade sugeriu que se aplicassem aos congressos em hotéis “as mesmas regras” que permitem aos cinemas e teatros realizar espetáculos, sublinhando que este ramo representa “35 a 40% do total de receitas” do hotel, ou seja, aproximadamente nove milhões de euros.
O Centro de Congressos do Algarve no Tivoli Marina Vilamoura foi renovado em 2019 ao abrigo de um investimento “de 11 milhões de euros”, sendo num negócio que se realiza nos períodos mais fracos do ano, servindo, por isso, “para combater a sazonalidade”.
A mesma ideia é reforçada pelo diretor executivo do grupo NAU Hotels & Resort, Mário Ferreira, para quem os congressos representam “cerca de 10%” do negócio anual, “no valor de três milhões de euros”, duplicando, em alguns anos, dependendo da dimensão dos eventos.
“Não é certo que até ao final do ano alguns dos eventos ainda marcados se venham a realizar”, afirmou à Lusa, adiantando que as expectativas “são baixas para este ano”, mas “muito boas” para 2021, pois vários dos congressos cancelados foram entretanto remarcados para novas datas.
Segundo o responsável, estes eventos, assim como o golfe, têm “um impacto financeiro acrescido” por acontecerem “fora da época alta”, prolongando o funcionamento dos hotéis desde março até novembro, “dinamizando durante mais tempo a economia circular à volta do turismo”.
Confessando não saber “que outras medidas as entidades poderão tomar, tendo em conta as atuais circunstâncias”, notou que as regras de distanciamento social implicam uma diminuição do número de pessoas num congresso, “o que nem sempre é possível”.
“Com estas regras seria necessário reduzir para menos de metade o número de participantes e não sei se é essa a opção dos organizadores”, afirmou.
Para Mário Ferreira, se as atuais regras para os espetáculos – que considera que se deveriam aplicar a estes eventos -, se mantiverem com a exigência de metade da lotação, “dificilmente os congressos se irão manter”.
Dá como exemplo do congresso de Medicina Interna marcado para outubro, “com 2.000 a 2.500 pessoas” e no qual “ou se reduz o número para metade ou não se pode realizar”, revelando alguma certeza de que a organização pode vir a cancelá-lo.
Em declarações à Lusa, o presidente da Região de Turismo do Algarve considerou que o processo de desconfinamento “tem sido gradual” e mostrou-se otimista que “assim continue”, levando a uma reabertura da animação noturna, dos parques aquáticos e, também, da realização de congressos e eventos.
João Fernandes, reconheceu haver “uma ou outra incoerência” no processo de reabertura dos vários setores da economia, que qualificou como “complexo”, mas sublinhou que “é muito importante que se faça em passos seguros”.
O Governo apontou 01 de julho como data para uma nova avaliação e possibilidade de alteração do estado de calamidade para o estado de contingência.
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